"Top Gang 2: A Missão" debocha de filmes como Rambo. Uma das suas cenas mais lembradas é a que há um marcador com o total de iraquianos mortos por Charlie Sheen. As produções que inspiraram a paródia, com suas faltas de verdade nos tiroteios e nas interepretações, tinham escasseado na última década. E eis que então Silvester Stallone chama atores tão canastrões quanto ele e revive o gênero com Os Mercenários, dando assim matéria-prima para novos filmes-paródia.
Basicamente, a história é Barney Ross (Stallone) e sua equipe, uma mistura de Miami Ink com American Choppers, explodindo uma ditadura caribenha. Um detalhe interessante é que no papel dos vilões saem os fundamentalistas islâmicos e entram narcoditadores-de-arquipélago-latino-americano-parado-nos-anos-50. Mesmo assim, as últimas guerras americanas em países muçulmanos e a paraonia em decorrência delas são refletidas na produção dirigida por Stallone. Comprovam isso o início do filme, em que os mercenários resgatam reféns de piratas somalis – e muçulmanos -, e o grupo que dá nome ao filme terceiriza os conflitos ao cobrar para lutar neles, tal como a Blackwater faz no Iraque. E graças à alusão aos grupos paramilitares fomos brindados talvez com o momento mais canastrão do cinema deste ano.
Stallone vai a uma igreja para falar com um cliente, chamado de Mr. Church (Bruce Willis), que quer derrubar o ditador latino-americano. Também vai pra ouvir a proposta Trench (Arnold Schwarzenegger), um concorrente seu. A cena se destaca não só pela reunião dos três atores, mas também porque eles fazem questão de serem mais picaretas do que já são. Os diálogos, em que um corta o outro, são autoironia pura, e a descontração deles por estarem naquela situação é disfarçada pela incapacidade dos três em serem expressivos. Não é óbvio dizer que o Governator ganha a disputa de quem é mais inexpressivo de todo o filme, porque ele tem concorrentes à altura. É motivo de riso involuntário qualquer diálogo que envolva Dolph Lundgren, o eterno Ivan Drago, ou Jet Li, que mesmo vestido com camisa de botão parece usar uniforme de kung-fu. Eric Roberts, intepretando um ex-agente da CIA, só faltou dizer um “olhem como sou bad guy”, de tão caricato que está, e os seus capangas botam tanto medo quanto o Sloth, dos Goonies. Já com a brasileira Gisele Itié, no papel de Sandra, o espectador talvez sinta pena dela: tadinha, ela deve ter passado muita fome durante as filmagens.
Fome ou reação inconsciente por ser par romântico de Stallone?
Os Mercenários, vá lá, tem méritos voluntários. As cenas de tiroteio e esfaqueamento têm momentos criativos como no início, em que são mostradas a partir do sensor de calor dos paramilitares, e quando Hale Caesar (Terry Crews, o pai do Chris) sai metralhando todo mundo com a sua Big Fucking Gun, aliás, esse é o único momento em que se justifica a sua existência na trama. Outra sacada legal é o desfecho, que reforça a ideia defendida principalmente no momento em que Tool (Mickey Rourke) conversa com Ross enquanto desenha num violão. Mas essas cenas onde a ideia do filme é mostrada ou emperram a narrativa, como todas as que envolvem a vida pessoal de Lee Christmas (Jason Straham, praticamente um Bruce Willis inglês), ou soam como raízes de uma continuação.
Outro grande defeito, dependendo do ponto de vista, é a cena de ação final. Como assim, Stallone, sequências em que cinco gatos pingados derrotam o exército de um país inteiro com apenas um pente de bala e sem sofrer um arranhão? Por um acaso tu se inspirou em Top Gang 2 quando pensou na cena em que tu, parado e com uma pistolinhinha automática, derruba uns cinco negos que foram enfileirados em direção a ti?
Contador de corpos em Top Gang 2: O cinismo de Charlie Sheen rouba essa cena.
Sylvester Stallone lançou clássicos como Rocky e Rambo, mas atualmente reaproveita suas ideias. Em Os Mercenários ele faz o que se cansou de fazer nos anos 80: explodir tudo, metralhar todos e falar frases de efeito. O diferencial é que chamou vários astros que dividem entre si a mesma condição (ou seja, a decadência) e contou uma história que não se leva a sério, e, caso se levasse, não teria como encará-la seriamente.
Se parodiarem Os Mercenários, que os diretores não sejam os mesmos de Os Espartalhões.
NOTA: 5,5
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