sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 26 de Agosto

Filme: Planeta dos Macacos – A Origem
Direção: Rupert Wyatt
Elenco: James Franco , Tom Felton, Freida Pinto, Andy Serkis
Sinopse: No mundo contemporâneo, o jovem cientista Will Rodman (James Franco) está a frente de um grupo de pesquisadores que desenvolvem experimentos genéticos em macacos. Uma de suas experiências é o símio César (Andy Serkis) que com sua super inteligência vai liderar uma rebelião contra os humanos. 
Onde: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: Amor a Toda Prova
Direção: Glenn Ficarra, John Requa
Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, Steve Carell, Kevin Bacon, Julianne Moore, Marisa Tomei
Sinopse: O quarentão Cal Weaver (Steve Carell) tem a vida dos sonhos: bom emprego, boas condições de vida, é casado com seu amor da adolescência, filhos bem comportados... Mas essa vida perfeita desaba depois da descoberta de que Emily (Julianne Moore), sua esposa, está tendo um caso e quer divórcio. Desamparado, Cal conhece Jacob Palmer (Ryan Gosling), um cara que vai ensiná-lo a ter estilo, beber e paquerar mulheres.
Onde: Cinemark, Cinemais e Playarte


Filme: O Rei Leão 3D
Direção: Roger Allers, Robert Minkoff
Elenco: Vozes na versão original: Matthew Broderick (Simba), Jeremy Irons (Scar), James Earl Jones (Mufasa)
Sinopse: Reestreando nos cinemas, O Rei Leão, um dos mais populares desenhos da Disney, apresenta a jornada de um leão até a idade adulta e a aceitação de seu destino. Simba nasce como um príncipe, filho do poderoso Rei Mufasa, mas a feliz infância é tragicamente mudada quando seu maldoso tio Scar assassina Mufasa e expulsa o jovem príncipe do reino. No exílio, Simba conhece Timão e Pumba, dois divertidos amigos que levam uma vida livre e despreocupada. Conforme vai se aproximando da idade adulta, ele é visitado pelo espírito de seu pai que o instrui a desafiar Scar e reconquistar o trono que é seu por direito.
Onde: Cinemark


Filme: O Reino dos Felinos
Direção: Alastair Fothergill, Keith Scholey
Elenco: documentário narrado por Samuel L. Jackson
Sinopse: Documentário que acompanha duas famílias de felinos e como os filhotes são preparados para sobreviver aos desafios da natureza. São eles: Mara, a filha de uma leoa ferida, porém determinada; Sita, uma corajosa guepardo, mãe solteira com cinco filhotes recém-nascidos, que tenta fazer do lugar mais selvagem da Terra o seu lar; e Kali, um leão que foi banido de seu bando e retorna com os filhos para retomar o seu lar.
Onde: Cinemark

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Filmografia - Billy Wilder (1906 - 2002)

Por Jéssica Santos

Billy Wilder começou sua carreira em filmes, como roteirista em 1929, e escreveu roteiros para vários filmes alemães até que Adolf Hitler chegou ao poder em 1933. Wilder imediatamente percebeu que sua ascendência judaica iria causar problemas, então, emigrou para Paris, e então para os EUA. Embora ele não falasse Inglês quando chegou a Hollywood, Wilder foi um aprendiz rápido, e graças a contatos como Peter Lorre (com quem dividia um apartamento), ele começou a escrever e dirigir filmes americanos. Sua parceria com Charles Brackett começou em 1938 e a equipe foi responsável por escrever algumas das comédias clássicas de Hollywood, incluindo Ninotchka (1939) e Bola de Fogo (1941). A parceria expandiu-se para um produtor-diretor um em 1942, com Brackett produzindo, e os dois acabou por clássicos como Cinco tumbas de Cairo (1943), Farrapo Humano (1945) (Oscar de Melhor Filme Diretor e Roteiro) e Crepúsculo dos Deuses (1950) (Oscar de Melhor Roteiro), após o qual a parceria foi dissolvida. Depois Wilder produziu filmes mais cáusticos e cínicos, como A Montanha dos Sete Abutres (1951), embora ele também tenha produzido comédias sublimes como Quanto Mais Quente Melhor (1959) Se Meu Apartamento Falasse (1960), que lhe rendeu os prêmios Oscar de Melhor Filme e Diretor. Ele se aposentou em 1981.

O humor e a ironia tornaram Billy Wilder o grande diretor que foi. Porém sua carreira é dividida entre obras sérias e comédias escrachadas. Ele deu ao cinema uma direção diferente: controlava totalmente as cenas, além de sempre ter feito questão de mostrar em seus filmes a vida como ela é. Para isso, o diretor utilizava situações corriqueiras, criando a partir delas, narrativas complexas. O diretor fez muitos filmes, por isso, seria bem difícil listar todos aqui, mas conheçam os principais longas de sua carreira:

Semente do mal (Mauvaise graine - 1934)
Nota: 6.5

 Billy Wilder começou sua carreira de diretor colaborando neste filme francês, durante sua breve estada por Paris. Semente do mal é um bom filme, uma boa estreia para Billy Wilder, apesar de não ser a melhor fase do diretor com quem fez parceria, Alexander Esway; e como era o primeiro filme de Wilder não se poderia exigir algo magnífico. Mas o filme nos mostra um pouco do caminho que o diretor seguiria no futuro. É um filme interessante para os fãs de trilhas de filmes, as músicas de Waxman, presentes neste filme, também podem ser ouvidas em quase 300 filmes, incluindo E o vento levou, e clássicos de Hitchcock, como Janela Indiscreta.
O maior e o menor (1942)
Nota: 7.6

Na primeira chance que Wilder teve de mostrar seu trabalho nos EUA, ele já mostrou seu talento para os filmes de comédia. Um filme em que uma mulher se disfarça de criança para pagar meia-entrada num trem seria bem difícil que não fosse divertido. Disfarces e comédia já nos lembram de Quanto mais quente melhor, que viria no futuro. Neste filme, Wilder já trabalha com Ray Milland, ator que faria outros personagens de seus filmes.
Cinco tumbas de Cairo (1943)
Nota: 7.5

É até difícil acreditar que este filme foi feito em 1943, pela sua abordagem, olhar, e conceito. Apesar de uma certa quantidade de propaganda de guerra, Cinco tumbas de Cairo tem um enredo e linha de humor negro, além de uma leveza de toque que o diferencia da maioria dos filmes produzidos neste momento. Também é interessante porque foi feito enquanto a  Segunda Guerra ainda estava em curso, sendo um filme destinado a reforçar a vontade americana de lutar.
Farrapo humano (1945)
Nota: 8.1

  Farrapo Humano se destaca entre seus filmes mais realistas e crus. Conta a história de Don e seu vício por bebida alcoólica; assim, acompanhamos um homem que passa o fim de semana mais decadente e decisivo de sua vida, em que ele chega até o fundo do poço. A direção de Billy Wilder é impecável. Em um drama tão profundo como Farrapo Humano, Billy cria uma espécie de suspense com vilão e herói dentro do mesmo personagem.  Farrapo Humano é, enfim, a junção de boa técnica e dedicação. É um dos filmes que consagrou o diretor e que lhe rendeu seus primeiros prêmios Oscar. É uma obra imperdível, que merece, sem dúvida, o Oscar que recebeu por Melhor Filme, pois foi o primeiro grande filme a mostrar seriamente o alcoolismo em seus níveis mais sórdidos e dramáticos, sem esconder qualquer detalhe.
Crepúsculo dos deuses (1950)
Nota: 8.7

Depois de uma comédia (Um anjo caiu do céu),  um musical (A valsa do imperador) e um ótimo drama (A mundana), Wilder lança um de seus melhores filmes: Crepúsculo dos deuses. No longa, ele satiriza seu próprio ganha-pão – a indústria cinematográfica , fazendo um retrato pouco piedoso de Hollywood e sua máquina recicladora de ídolos e tendências. O crepúsculo do título é o dos deuses do cinema mudo, renegados ao esquecimento com a chegada da tecnologia sonora. Para o papel principal, Gloria Swanson (estrela do cinema mudo, que viu sua carreira naufragar), que interpreta Norma Desmond, uma antiga musa do cinema que contrata um roteirista fracassado para escrever seu grande retorno. Mas é o cinismo, a amoralidade e a ânsia do roteirista por dinheiro, que sintetiza como as coisas funcionam em Hollywood, sempre mais dependente das cifras que de ambições artísticas. O auge do triste declínio de Norma Desmond é a cena final, em que ela, perturbada, avisa que está pronta para filmar um close-up. Ela desce as escadas em direção à polícia, e o que se vê é ela indo rumo à plateia. O longa ganhou três estatuetas no Oscar de 1951 – Direção de arte, Música e Roteiro – um dos pontos fortes da carreira de Wilder.
Sabrina (1954)
Nota: 8.3

Depois de dois excelentes filmes muito bem conceituados mundialmente (A montanha dos 7 abutres e Inferno número 17), Wilder volta às comédias românticas, mostrando toda sua versatilidade nesse filme maravilhoso. Sabrina é charmosa, engraçada e brilha como todas as grandes estrelas de Hollywood. Humphrey Bogart, William Holden e Audrey Hepburn vivem esta história de Cinderela de forma encantadora, graças à ótima direção de Billy Wider que, como sempre, consegue tirar o melhor dos atores e fazer do preto e branco um charme a mais do filme. Afinal, é impossível ver esse filme e não se apaixonar por seus personagens (especialmente Hepburn) e pelos belos vestidos de Sabrina. Depois de Sabrina, a incomparável Audrey Hepburn trabalhou em mais um filme de Wilder: Amor na tarde; aliás, muito engraçado, apesar de simples.
O pecado mora ao lado (1955)
Nota: 8.0

 Este filme é uma comédia das boas! O casal do filme, graças a Billy Wilder e ao talento de Monroe e Ewell, está cômico! Os monólogos de Ewell são um poucos chatos, mas o filme tem cenas ótimas e Marilyn mostra todo o seu brilho e com certeza cai nas graças de quem assiste a esse filme. A cena no banco do piano é uma das melhores, mas a parte do filme que ninguém esquece é a do desempenho de Marilyn e seu vestido na cena do metrô.
Quanto mais quente melhor (1956)
Nota: 8.5

Depois de Sabrina, Wilder lançou mais filmes de gêneros bem diferentes, entre eles o sucesso Testemunha de acusação. Mas foi com Quanto mais quente melhor que Wilder chegou ao auge de sua carreira. Considerado pelo próprio cineasta como seu melhor filme, é também um dos filmes pelo qual Marilyn Monroe é mais lembrada. Quanto mais quente melhor impressiona pelos diálogos sardônicos, escritos por Wilder em parceria com I.A.L. Diamond, seu segundo maior parceiro de texto (o outro foi Charles Brackett). A antológica cena final, em que Daphne (Tony Curtis disfarçado de mulher) é pedida em casamento pelo ricaço, e depois de revelar que é um homem, ouve que “ninguém é perfeito”, foi escrita na noite anterior da gravação. Esta foi a primeira parceria entre o diretor e Jack lemmon, que o cineasta viria a considerar o seu ator favorito e com quem viria a trabalhar no ano seguinte em outro clássico, Se meu apartamento falasse. O filme foi indicado a seis Oscar e premiado com o de melhor figurino em preto-e-branco. Em 2000, foi eleito a melhor comédia americana de todos os tempos pelo American Film Institute.
Se meu apartamento falasse (1960)
Nota: 9.0

Jack lemmon e Shirley Maclaine estrelam esta ótima comédia romântica que ganhou 5 Oscars, consagrando Wilder que ganhou o prêmio de melhor filme, diretor e roteiro; o filme ainda venceu nas categorias de direção de arte e edição. A dupla de atores principais não fez feio e concorreu ao Oscar de melhor ator e melhor atriz . Eles envolveram o público que adorou a performance dos dois em Se meu apartamento falasse. O filme traz muito mais temas e questões humanas do que as comédias comuns. Neste filme também há drama. Wilder é um especialista e em nenhum momento ele irá deixá-lo preocupado com que o filme vá acabar mal. Afinal, é uma comédia, mas também te faz refletir sobre a vida, mostrando entre outras coisas, o sabor amargo da solidão. 
Beija-me idiota
Nota: 7.4

Depois de várias comédias de sucesso, o grande escritor e diretor resolveu continuar nesse estilo e fez filmes como Cupido não tem bandeira, La irma Dulce, Uma loira por um milhão Beija-me Idiota. Esse filme de Wilder foi um dos poucos que não foram bem recebidos pela crítica e público. Ele foi, ainda, condenado pela Liga Católica. Na verdade, é uma comédia boa, porém cínica e muitas vezes cômica, sobre um assunto muito delicado: a fidelidade. Wilder tinha inteligência e muitas ideias. Sua facilidade de escrever filmes ao mesmo tempo cômicos e dramáticos é impressionante; embora algumas vezes as pessoas não entendessem seu objetivo de satirizar aspectos da vida real e elevar o nível do humor e do drama.
Fedora
Nota: 7.1

Antes de Fedora, o consagrado diretor fez filmes de comédia, investigativos e de romance como A primeira página, A vida secreta de Sherlock Holmes e Avanti, respectivamenteMas Fedora é especial por ser considerado um complemento, para o diretor Billy Wilder,  ao clássico Sunset Blvd. Em ambos os filmes estrela William Holden, e tratam de como lidar com a vida de um velho astro do cinema de Hollywood. Um filme muito relevante para os nossos tempos narcisistas, a sua única falha é ser uma peça fria de trabalho, mais fácil de admirar do que amar. Morte ou reclusão permanente é a única forma de preservar a imortalidade uma lenda. Maravilhosamente estruturado, e com alguns excelentes diálogos, todo o elenco absolver-se com o crédito, e acho que é uma visão fascinante e valiosa em um mundo que já foi para sempre e que é nunca, nunca probabilidade de retorno. Talvez mais reflexivo e introspectivo do que esperamos um Billy Wilder filme a ser, mas todos os mais ricamente satisfatório para ele. Fedora foi o penúltimo filme de Billy Wilder, que já se preparava para se aposentar, e fechou sua carreira com a bela (e esquecida) comédia Amigos amigos, negócios à parte.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 06 de Agosto


Filme: Os Smurfs
Direção: Raja Gosnell
Elenco: Neil Patrick Harris, Alan Cumming, Katy Perry
Sinopse: Gargamel (Hank Azaria) descobre o povoado mágico dos Smurfs e faz com que eles se dispersem na floresta. Desastrado pega o caminho errado e, seguido por outros, entra na gruta proibida que os leva para o Central Park. Voltar para casa é cada vez mais complicado, já que Gargamel os persegue, por isso, os Smurfs resolvem se esconder e são protegidos por um casal (Neil Patrick Harris e Jayma Mays).
ONDE: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo
Direção: Hugo Carvana
Elenco: Tarcísio Meira, Gregório Duvivier, Flávia Alessandra
Sinopse: O ator de comédia stand up Lalau (Gregório Duvivier) viaja pelo interior do Brasil se apresentando em pequenas cidades. Seu pai, Ramon Velasco (Tarcísio Meira), também é ator e empresário do filho. Certo dia, Lalau recebe uma proposta milionária para usar seus talentos e fingir ser um famoso Guru, em uma palestra motivacional. Em nome da grana, ele aceita a proposta rapidinho, mas algo não dá certo e Lalau precisa mais uma vez da ajuda de seu pai, que, nas situações mais complicadas, solta o velho bordão: “Não se preocupe, nada vai dar certo”.
ONDE: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Classic Movies – Malcolm X



Por Renildo Rodrigues

 
O cinema de Spike Lee é negro. A afirmação, que embute um sectarismo incômodo nestes tempos de politicamente correto, não é minha, e sim do próprio diretor.



Um dos últimos cineastas realmente políticos, Lee, contudo, é bem maior do que essa controvérsia. Mesmo repetindo a torto e a direito que seus filmes foram feitos por, sobre, e para o público negro, o diretor revelou-se, desde o início, um mestre dos dramas humanos – independente de cor, origem ou ideologia – e do próprio cinema. E, se filmes como A Hora do Show ou Milagre em Sta. Anna carregam na polêmica racial, as grandes obras que fez, dando uma dimensão universal a questões políticas (Faça a Coisa Certa, O Verão de Sam, A Última Noite, O Plano Perfeito), asseguram o seu lugar entre os maiores diretores americanos.

Mesmo com esses clássicos na bagagem, a carreira de Spike Lee tem um ápice claro e indiscutível: Malcolm X (1992). Biografia do ativista político americano, defensor da emancipação dos negros nos turbulentos anos 1960, o filme resume, em suas 3h20m, as virtudes (muitas) da obra de Lee.

 Um verdadeiro tour-de-force de câmera, montagem e música, muito influenciado pelo Martin Scorsese de Os Bons Companheiros, Malcolm X intercala a recriação ficcional de Lee com imagens do próprio Malcolm no seu heyday, produzindo um painel devastador da tensão racial nos Estados Unidos.



 
 Da juventude como gigolô e escroque, passando para a prisão e sua conversão ao islamismo, até ser eleito a voz-guia de uma geração, ao lado de Martin Luther King, cada episódio importante da vida de Malcolm, nas mãos de Lee, encontra ecos na época em que o filme foi feito, quando a violência das gangues se encontrava no auge e tragédias como os tumultos de Los Angeles sacudiam o país. Através de Malcolm X, Lee chama os jovens negros a se organizarem, a se unirem, a buscar um futuro melhor para si. À parte a exortação política, porém, o filme se impõe por seus atributos artísticos, e pode ser apontado sem medo como um dos 3 melhores da década, junto com o já citado Os Bons Companheiros e com Pulp Fiction, de Quentin Tarantino.



 


 Junto ao roteiro (de Lee e Arnold Perl) e à direção, esse triunfo se deve ao trabalho de Denzel Washington. Na pele do ativista, o ator dá um show de atuação só comparável aos melhores trabalhos de Marlon Brando e Robert De Niro. Denzel, que firmou a sua carreira com esse filme, estudou cada gesto, cada inflexão, cada foto e vídeo de Malcolm X, a fim de incorporá-lo no set. A edição veloz e a brilhante trilha sonora de Terence Blanchard, colaborador habitual de Lee, completam o pacote.

 Como todo clássico, qualquer tentativa de apresentá-lo ou descrevê-lo, por melhor que seja (o que não é o caso), acaba soando como uma simplificação brutal. Resta acrescentar que esse filme, como pouquíssimos a que assisti dos últimos 19 anos, deixou uma marca emocional tão profunda ao fim da sessão. Se puder assisti-lo, não perca tempo!



 
Nota: 10,0




Livros – “Um filme por dia”, Antonio Moniz Vianna (org. Ruy Castro)



Por Renildo Rodrigues


Quando eu passei a levar o cinema realmente a sério, em 2004, me deparei com uma questão incômoda: por onde eu começo? Como fazer um estudo mais aprofundado dos filmes, por quais nomes, quais conceitos? Esse é um ponto perigoso. Muitas teorias esdrúxulas já foram esboçadas na tentativa de “dignificar” a Sétima Arte, como se ela precisasse. Mas tudo se resolveu quando encontrei um Nome.

Antonio Moniz Vianna não é um cineasta. Nem ator. Nem sequer teve passagem pelo cinema. Ele é um crítico. E brasileiro. Dar ênfase a essas duas palavras pode sugerir um desqualificativo infeliz, de que seria melhor se ele fosse um diretor ou ator do que um crítico, e americano ou francês do que brasileiro. Nada disso. Elas na verdade atestam o talento extraordinário de Moniz Vianna para ampliar o repertório cultural de seu leitor, e o inusitado disso se dar num país cuja tradição, cinematográfica ou de crítica, nunca teve a menor consistência.

Com 27 anos de atividade crítica diária (!) no jornal carioca Correio da Manhã, Moniz, nascido em Salvador em 1924, dissecou a produção americana e europeia do período mais importante do cinema, entre as décadas de 1930 e 70. Médico por formação, jornalista pelas circunstâncias, Moniz, dotado de um poderoso background cultural, praticamente inventou o ofício no Brasil, na década de 40. Aliás, bem antes da Cahiers du Cinema e de seus antípodas americanos, Moniz já detectava no cinema os elementos de seu diferencial artístico, e exaltou diretores que depois seriam erigidos em heróis do cinema de auteur, como Alfred Hitchcock, Frank Capra e John Ford.




Foi Ford quem, ao longo da carreira do crítico, teve melhor juízo entre os colegas. Foi ao diretor americano, conhecido sobretudo por seus westerns (Rastros de Ódio, No Tempo das Diligências, O Homem que Matou o Facínora) que Moniz devotou a maior parcela de sua admiração, expressa nas resenhas entusiásticas de muitos de seus filmes. E foi também a ele que, nos idos de 1973, Moniz dedicou seu último artigo, o emocionante Ford, o primeiro. Contudo, não faltaram palavras elogiosas a quem, na visão de Moniz, era justo concedê-las: Fellini, Hawks, Welles, Kubrick, Kurosawa, Bergman. E ainda a Lima Barreto (O Cangaceiro) e Glauber Rocha (pelo menos em Deus e o Diabo na Terra do Sol). Mas o crítico era exigente e ferino – é muito mais comum vê-lo desancar a mediocridade circundante, e mesmo os cineastas que admirava não escaparam do seu rigor.

Além do trabalho pioneiro como crítico, foi graças a Moniz Vianna que diversos profissionais do cinema e da imprensa deram o start em suas carreiras. Foi por inspiração dos artigos de Moniz, por exemplo, que Anselmo Duarte (O Pagador de Promessas) e Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha) se alistaram na tropa de técnicos que acompanharia Orson Welles quando este veio ao Brasil rodar It’s All True (nunca concluído). Veteranos como Lima Barreto dividiam espaço com a garotada do cinema novo – Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e o já citado Glauber – no apartamento do crítico em Copacabana (Rio de Janeiro), e se punham a promover animadas discussões sobre cinema. No Correio da Manhã, nomes como Paulo Francis, Carlos Heitor Cony, Sérgio Augusto e Ruy Castro fizeram alguns dos seus primeiros trabalhos a convite de Moniz.




Esse projeto de educação de leitores e cineastas chegou ao auge na década de 1960, quando Moniz organizou grandes retrospectivas dos cinemas americano, russo, italiano, francês e inglês, com uma programação que incluía desde clássicos do cinema mudo até as novidades mais recentes, e resgatando obras há muito fora de circuito no Brasil (muita gente pôde ver Cidadão Kane pela primeira vez na retrospectiva de Moniz, por exemplo). Além disso, também é dele a iniciativa do Festival Internacional do Filme, realizado no Rio de Janeiro em duas edições (1965 e 69), e que trouxe pra cá gente como Fritz Lang, Roman Polanski e Claudia Cardinale.

Infelizmente, com o golpe militar e o AI-5, o jornal carioca acabaria sendo massacrado, declarando falência no ano de 1974. Essa perda, somada à morte do ídolo John Ford, afastaria Moniz da crítica e do jornalismo pelo resto da vida. Mas não do cinema: com cópias dos seus filmes mais queridos, o grande crítico continuou a promover sessões ao lado dos amigos e familiares. Seu neto, Eduardo Moniz Vianna, herdou a paixão pela Sétima Arte do avô, e hoje se dedica a levar adiante a proposta de uma crítica inteligente e objetiva, mas que não dispensa a verve, nem disfarça o entusiasmo por seu objeto de estudo. É essa lição que deveria animar a todos que, como nós aqui do Set Ufam, se dedicam a levar o cinema ao público através de palavras.


Antonio Moniz Vianna (1924-2009)

  
P.S.: Por enquanto, a única edição disponível dos escritos de Antonio Moniz Vianna é a coletânea Um Filme por Dia, organizada por Ruy Castro e editada em 2004 pela Companhia das Letras. É fácil de achar nas livrarias de Manaus, e sai pelo preço médio de R$ 45. No endereço http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11902, é possível ler o belo ensaio de Castro que abre o volume, assim como a resenha de Moniz para Rashomon, de Akira Kurosawa. Não deixe de verter um pouco da sabedoria daquele que é o maior entre os críticos de cinema – do Brasil e do mundo.