Sabe aquele filme que se parece bastante com outros do mesmo estilo (do qual você não se considera um grande fã), muitas vezes repetindo certas soluções forçadas no roteiro e efeitos especiais, mas que, sem nenhum grande motivo aparente, acaba te conquistando? Pois é, algo parecido aconteceu comigo com “Os Vingadores”.
Não que eu tenha sido conquistado pelo filme,
longe disso. Mas admito que ele possui um diferencial em relação aos
outros filmes genéricos de super-herois: (mesmo que isso soe
contraditório) apesar de ter personagens que têm como objetivo salvar o
mundo, o filme opta por não se levar tão a sério. E essa é a decisão
mais acertada do diretor Joss Whedon.
A
história tem início quando Loki (Tom Hiddleston) retorna à Terra e
rouba a poderosíssima energia chamada Tesseract de dentro das
instalações da S.H.I.E.L.D., além de conseguir controlar o Gavião
Arqueiro/Clint Barton (Jeremy Renner) e leva-lo para o seu exército.
Com isso, o responsável pelo lugar, Nick Fury
(Samuel L. Jackson), se vê obrigado a chamar um grupo de super-herois
que nunca havia trabalhado juntos para deter essa ameaça que pode
provocar uma grande guerra. Portanto surgem em cena Tony Stark/Homem de
Ferro (Robert Downey Jr.), Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans),
Thor (Chris Hemsworth), Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e Natasha
Romanoff/Viúva Negra (Scarlett Johansson).
Como se pode imaginar, o filme é um prato cheio
para os fãs dos quadrinhos que durante anos sonharam em ver esse grande
time em ação. E uma pergunta que se fazia antes de ver o longa era se
ele seria capaz de desenvolver satisfatoriamente todos os seus
personagens durante a sua projeção. E nisso ele se saiu muito bem.
Apresentando-os através de uma montagem ágil, mas
sem soar acelerada demais (sabe o Michael Bay?), os personagens são
introduzidos inteligentemente, e tem as suas complexidades bem
trabalhadas no decorrer do filme.
Mas
sem dúvida nenhuma, a maior virtude de Os Vingadores são as ótimas
sacadas de humor inseridas durante a projeção. Contando com piadas muito
boas, principalmente as que envolvem Tony Stark, o filme se desenvolve
muito melhor quando explora esse ar mais descompromissado, e consegue
arrancar boas gargalhadas, como na cena em que vemos um dos funcionários
da S.H.I.E.L.D. jogando vídeo game no meio do expediente, ou quando o
Hulk esculacha o vilão numa cena perto do final.
Infelizmente, é uma pena que da metade para o
final, o longa se torne apenas mais um filme de segunda unidade, com
infindáveis cenas de explosões e destruições, servindo como
justificativa para desfilar os (ótimos, justiça seja feita) efeitos
visuais.
A
pergunta que fica é: Por que ele não se foca mais na proposta
despretensiosa e deixa um pouco de lado as batalhas de efeitos
especiais?
Não estou dizendo que ele deveria deixar totalmente
de lado as cenas de ação, mas porque não tentar fazer uma coisa um
pouco diferente, e investir mais em um outro caminho que deu certo
durante boa parte do filme?
É uma pena que esse tipo de trabalho não se
permita ousar e experimentar, preferindo sempre ir pelo caminho mais
convencional possível, para não correr o risco de ser um fracasso nas
bilheterias. Pensando bem, deve ser pedir demais que os blockbusters
deixem um pouco de lado o amor pelo dinheiro e tentem se aproximar mais
da arte cinematográfica.
Não exijo que eles façam filmes como Bergman ou
Coppola, mas que pelo menos poupem os espectadores de emburrecerem
durante duas horas e meia. Mas é melhor eu deixar de divagar e voltar à
crítica.
O que
vemos durante o longa é que ele começa muito bem, mesclando
inteligentemente cenas de ação com as de humor, que tambem contribuem
para dar complexidade aos personagens, mas que acaba perdendo muito
quando resolve cair no lugar comum de mandar uma enxurrada de cenas de
ação, na batidíssima e clichê “batalha final” que ocupa quase metade do
filme.
E é uma pena ouvir argumentos do tipo: Ah, mas
em filmes desse estilo, tem mais é que se focar na ação e efeitos
especiais mesmo, e dane-se a história! Será que devemos nos contentar
com apenas isso?
Adoro efeitos visuais, e acho que os
blockbusters americanos apresentam regularmente filmes com imagens
avassaladoras, que me impressionam. Mas um bom filme de verdade é
formado por mais uma série de fatores que, na minha opinião, são mais
importantes que qualquer efeito visual.
Também
considero um pequeno defeito do filme, ele não ter abraçado
completamente o descompromisso com o convencionalismo que
costumeiramente vemos nesses filmes de super-herois.
Mesmo apresentando uma forte intenção em não cair
no erro de querer passar mensagens maniqueístas para a plateia, ainda
assim o filme cai em um ou outro clichê, como quando ele nos faz
acreditar que os herois adquiriram uma motivação a mais para derrotar o
vilão após a morte do agente Phil Coulson (Clark Gregg), sendo que a
relação entre eles era quase como a de estranhos.
Os
destaques nas interpretações ficam para Robert Downey Jr, responsável
pelos melhores momentos do filme, o econômico Mark Ruffalo, que
construiu um Bruce Banner com dignidade e satisfatória profundidade, e
Scarlett Johansson, que faz da Viúva Negra uma mulher forte, sem deixar
de mostrar sensibilidade.
Negativamente
devo citar não o trabalho de Chris Evans, mas sim o personagem dele, o
Capitão América que, de longe, é o menos interessante da história,
mostrando-se sempre unidirecional em suas opiniões e ações (um chato,
mala sem alça).
Outro
que não empolga é o vilão Loki, interpretado por Tom Hiddleston, que
não possui força suficiente para se sobrepor perante os seus
adversários, além de possuir uma personalidade muito desinteressante.
Se você espera que Os Vingadores seja um grande filme, infelizmente você vai se decepcionar.
Embora ele seja, tecnicamente, muito bem feito,
devo dizer que em comparação ao que comumente vemos nos filmes de ação
Hollywoodianos, é mais do mesmo.
Agora se você se contenta em ver um desfile de
efeitos visuais deslumbrantes, personagens carismáticos falando uma
série de frases de efeitos a cada cinco minutos, esse filme vai te
agradar bastante.
NOTA: 7,0