domingo, 8 de abril de 2012

Crítica: Xingu, de Cao Hamburger

Por César Nogueira

A premiere de Xingu aconteceu no Amazonas Film Festival de 2011. Nela, estavam presentes, dentre outros membros da equipe, o diretor, Cao Hamburger, o produtor, Fernando Meirelles, e o protagonista João Miguel.

Depois da subida dos créditos finais, o ator caiu no choro, o que é justificável. Afinal, seu trabalho magistral, o maior destaque de um filme cheio de pontos altos, deve ter lhe exigido dedicação e sacrifício sobre-humanos.

Xingu conta a epopéia dos irmãos Villas-Bôas. Os intelectuais Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) largaram o conforto em São Paulo para se aventurar pelo vazio do Centro-Oeste brasileiro dos anos 1940.

No decorrer da experiência, eles entram em contato com diversos povos indígenas e passam a militar pelos seus direitos. Orlando, o mais velho, lidava com políticos e tecnocratas. Leonardo, o mais novo, agia por impulsos e por idealizações. Leonardo, líder nato, era homem de ação. 

O resultado do trabalho deles é o Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, que completou 50 anos de existência em 2011.

 
O cinema brasileiro não tem muitas epopeias históricas. Há um Guerra de Canudos ali e acolá, e só. Xingu contribui para o preenchimento desta lacuna com competência. A obra resgata e homenageia a trajetória de pessoas importantes para a causa indígena no Brasil.

A produção da O2 Filmes, de Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus, contribuiu para a grandiosidade do tema e das locações da obra; a logística usada para se filmar no meio do nada e envolvendo tanta gente deve ter sido digna de Hollywood.

Acima de tudo, vemos uma história bem contada. Nela, os dramas e os conflitos psicológicos têm tão ou mais importância que conotações políticas e sociológicas.


Os Villas-Bôas são heróis de carne e osso. Abnegados, lutam com sinceridade pelos direitos dos ínidios. Mesmo assim, erram, tem limitações e perdem o controle das emoções em uma situação extrema.

Caio Blat tem trinta e um anos, mas convence física e cenicamente como um menino recém-saído da adolescência.

Felipe Camargo segura as pontas como o irmão mais velho que se preocupa com os outros e faz o trabalho burocrático que ninguém quer ter. 

João Miguel tem força, entrega, carisma e presença sem iguais. Seu mergulho no personagem foi profundo a ponto de ele conseguir transmitir um turbilhão de emoções com apenas uma abaixada de olho.

Se alguém considerava o ator como apenas uma grande promessa graças a Cinema, Aspirinas e UrubusEstômago, agora, com Xingu, talvez esteja revendo seus conceitos sobre ele.

Cao Hamburger marcou a infância de quem tem vinte e poucos anos com Castelo Rá-Tim-Bum. Além disso, idealizou a série moderninha No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais e dirigiu O Ano Em Que os Meus Pais Saíram de Férias. Assim, com um currículo marcado por obras com crianças e para (ou sobre) o mundo infantil, pode-se dizer que Xingu é o seu trabalho mais adulto e sisudo.

O diretor apresenta de forma orgânica e gradual o amadurecimento dos personagens. Além disso, aproveita-se das belezas e da imensidão do ambiente onde o filme passa e lida com os índios e sua causa de maneira respeitosa. É claro o distanciamento e o estranhamento dos Villas-Bôas a respeito da cultura indígena, assim como a ausência de etnocentrismo neles.

As arestas do filme aparecem quando ele perde ritmo em alguns momentos, como nas sequências com tecnocratas, e em estilizações na fotografia que não atrapalham, mas não contribuem em nada para o desenvolvimento da narrativa, como cenas em contraluz. Apesar disso, a grandiosidade e a qualidade técnica de Xingu não são diminuídas.


A causa indígena-ambientalista está em voga “graças” a conflitos como os da Raposa-Serra do Sol e da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Xingu serve como um exemplo positivo deste contexto.

Sua defesa dos direitos dos índios e do meio ambiente não é ecochata nem subserviente aos poderosos. Aliadas a isso, suas qualidades técnicas justificam tanta expectativa em relação a ele.

Além disso, Caio Blat, Felipe Camargo e, principalmente, João Miguel fizeram jus à grandeza dos irmãos Villas-Bôas com suas atuações.

Graças a filmes como Xingu que mais e mais pessoas mudam o pensamento “filme brasileiro? Que droga”, para o “filme brasileiro? Festa!”.

NOTA: 9,0

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