A cena que define "A Busca" acontece antes dos atores aparecerem em cena: é a entrada do último patrocinador do longa, a Volkswagem. Dali em diante, somos alvo de uma das propagandas mais patéticas já feitas no Brasil, transformando um filme estrelado por um dos atores mais respeitados e de maior credibilidade do país na atualidade (Wagner Moura) em um merchandising do mais novo carro da empresa. Como se não bastasse, ainda somos vítimas de um dos roteiros mais estúpidos já realizados nos últimos tempos.
O longa tenta contar a história de Theo (Moura), um médico paulistano que vive um doloroso processo de separação da esposa, Branca (Mariana Lima). No aniversário de 15 anos do filho do casal, Pedro (Brás Antunes), o garoto some e começa a tal busca do protagonista Brasil adentro em encontrar o rebento. Paralelo a isso, ele terá que encarar um passado marcado por desavenças com o pai.
Como falei, "A Busca" tenta trazer esta história para o espectador e até consegue no tenso e desesperador ato inicial. A atuação do sempre ótimo Wagner Moura traz uma angústia àquele homem que parece não entender como o casamento, aparentemente tão duradouro, tenha chegado ao fim. Os momentos de silêncio e paralisia de Theo, como se esperando que 'caísse a ficha' ou alguém chegasse e contasse que tudo era uma brincadeira, transformam o personagem em um ser complexo. Mariana Lima também vai bem, apesar de não ser tão talentosa como o baiano. Pena mesmo é o relacionamento com o filho não possuir muito espaço na trama.
Porém, quando o jovem desaparece, o filme mostra a sua verdadeira face: uma obra publicitária. Dirigido e escrito pelo estreante no cinema, Luciano Moura, o longa não poupa de mostrar que o protagonista, ou melhor, Wagner Moura, está no carro da empresa. E tome imagens do veículo de todos os ângulos que você possa imaginar (planos gerais, contra-plongé, planos abertos) e em situações extremas (do sertão à montanha, da cidade e até mesmo em um rio!).
O automóvel se torna uma espécie de companheiro nessa jornada pelo interior do Brasil, quase um confidente, uma espécie de amigo inseparável, com o qual a pessoa pode contar a todo momento. Quer um exemplo? Olhe, a cena em que o protagonista está desesperado no meio do pequeno rio e veja quem está ao fundo da cena, como fiel companheiro. Praticamente, um 'Wilson' de "O Naúfrago'.
O golpe de misericórdia, porém, é na patética cena em que o Theo dá carona para um bando de adolescentes em uma estrada. Na hora em que os meninos pegam suas tralhas e colocam no porta-mala do carro, só falta Wagner Moura virar para câmera e dizer o quanto aquela máquina era espaçosa e confortável.
Como se não bastasse este papel propagandista, "A Busca" possui um roteiro que desafia o bom senso e basta estar com o mínimo da inteligência ligada para perceber falhas absurdas. Para não entrar em spoilers, vou listar os principais absurdos dos inúmeros:
1) como pais desesperados não entram em contato com a polícia ou as autoridades locais sobre o desaparecimento do garoto?
2) como um garoto de 15 anos de idade faz um transporte interestadual de um cavalo com um RG estupidamente falso?
3) como um menino da classe média paulista passa por dois Estados do Brasil montado à cavalo? Ele fazia hipismo?
4) como a mãe volta para casa e demora praticamente três a quatro dias para encontrar pistas óbvias pelas quais já tinha olhado?
5) não seria mais fácil comprar um cavalo no local onde ele queria chegar em vez de cruzar várias regiões do país?
O roteiro de "A Busca" também não dispensa os "milagres" que permitem à história prosseguir. Ou você não acha incrível como ele consegue sempre encontrar pessoas que sabem o paradeiro do moleque? Ou localizar, no meio do canavial, o sujeito com quem o filho trocou a blusa? Ou estar no momento exato do parto da colega do filho? Quase uma festa de aniversário onde todos se conhecem.
Ah, tem mais!
E o que são esses encontros de Theo com personagens no meio da tal busca? Criados de maneira para fazer humor ou mistério ou drama, conseguem, na verdade, ser nada disso, resultando em momentos vazios ou tolos. Um bom exemplo é a história com o senhor cardíaco: se estivesse em um quadro da "A Praça é Nossa" ou em trama de contexto nonsense faria efeito. Aqui, não. Tentativa fracassada dos realizadores em trazer elementos do roteirista Eric Roth, autor de "Forrest Gump" e "Benjamin Button", no qual o protagonista encontra sujeitos fora do comum e estes vão acrescentando ou sendo levados a importantes mudanças em suas vidas a partir de suas ações.
Com tantas falhas, resta lamentar o desperdício de um ator como Wagner Moura, o qual procura tirar o teor publicitário e desenvolve o protagonista até onde dá em uma tentativa de reinvenção do sujeito para conseguir aquilo que tivera de volta e, claro, o momento histórico do encontro entre Zé Pequeno e Capitáo Nascimento.
No fim das contas, "A Busca" serve mais aos interessados em comprar um carro do que propriamente a ser um bom filme.
NOTA:4.5
Acho que deveríamos valorizar mais os filmes nacionais, "A Busca" pode até ter tido alguns erros, mas foi um ótimo filme e muito emocionante, diferente de muitos filmes nacionais.
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