quinta-feira, 29 de julho de 2010
Por quê Woody Allen vale a pena?
Por Renildo Rodrigues, diretor-auxiliar/produtor do Set Ufam
Falar de um artista que você admira é bem mais difícil do que parece. Como se manter objetivo, e não descambar para a exaltação? Como permanecer justo na avaliação e não cometer exageros? Digo tudo isto pra confessar que, no final, não consegui me manter fiel a nenhum destes preceitos. Ainda assim, espero convencer vocês, ao menos um pouco, de que Woody Allen vale a pena.
Woody Allen faz um tipo de cinema que está quase em extinção. Tomando como modelos o austríaco (naturalizado americano) Billy Wilder, diretor de algumas das melhores comédias da história ("Quanto Mais Quente Melhor", "Se Meu Apartamento Falasse" e "O Pecado Mora ao Lado", pra ficar apenas em três) e um mestre dos diálogos, mais o sueco Ingmar Bergman, autor de dramas densos e um estudioso das relações humanas ("Gritos e Sussurros", "Fanny & Alexander"), Allen encontrou uma combinação de comédia e drama que transformou o gênero da comédia romântica, com o lançamento de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", seu sexto filme, em 1977. De lá pra cá, Allen construiu um mundo próprio, centrado na sua amada cidade de Nova York, definido por relacionamentos amorosos, pela herança da arte e da psicanálise e pelo jazz. E que, independente de fatores culturais, pode dizer algo a todos nós.
Roteirista de mão cheia, recordista em indicações ao Oscar na categoria (14 vezes), Allen retrata ao mesmo tempo em que sublima o mundo real, com seus indivíduos em conflito com o desejo, buscando uma direção na vida, vivendo dramas familiares, crises de consciência, reflexões morais. Os filmes de Woody Allen são para adultos, um público cada vez mais esquecido no cinema atual. Em seus melhores trabalhos (Além de "Noivo...", poderia citar ao menos outros cinco: "Manhattan", "Memórias", "A Rosa Púrpura do Cairo", "Hannah e Suas Irmãs" e "Vicky Cristina Barcelona"), esses temas são investidos de elementos cinematográficos do mais alto nível, com narrativas sofisticadas, grandes atuações, montagem criativa e não-linear, fotografia e direção de arte impecáveis.
E não, NÃO é verdade que Woody Allen só faz se repetir e que não vemos um grande filme dele desde os anos 90. Em primeiro lugar, como todos os autores dignos do termo, Allen tem elementos similares em todas as suas histórias. Se isso pode se traduzir em preguiça (o que, às vezes, efetivamente acontece – "Igual a Tudo na Vida", "Trapaceiros", "Scoop: O Grande Furo"), na maior parte dos casos o que se vê é a depuração e, ao mesmo tempo, o aprofundamento deles. Segundo: com maior ou menor sucesso, os filmes de Allen, em toda a sua carreira, mantêm uma notável consistência criativa, e nesta década tivemos bons exemplos disso: "O Escorpião de Jade", "Melinda e Melinda", "Match Point: Ponto Final" e o já citado "Vicky Cristina Barcelona".
É isso. Se você chegou até aqui, espero que resolva dar uma chance ao diretor, que, mesmo aos 74 anos, ainda é um dos artistas mais relevantes de nossa época, e cujos filmes merecem ser aguardados. Palavra de fã.
Em tempo: ainda dá pra conferir "Tudo Pode Dar Certo", o último filme do diretor, em cartaz em Manaus.
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