sábado, 14 de janeiro de 2012

Crítica: Tudo Pelo Poder, de George Clooney

Por Caio Pimenta


A carreira de George Clooney é realmente admirável. Com seus milhões de dólares, o astro poderia muito bem se satisfazer em protagonizar seus blockbusters como “Onze Homens e um Segredo” (sequências) como, por exemplo, faz Johnny Depp com “Piratas do Caribe”.

Porém, basta dar uma olhada em sua filmografia que podemos ver o quanto o ator é ousado em seus projetos, escolhendo obras que trazem bons questionamentos sobre o mundo em que vivemos e nos desafiando a cada filme que faz. Foi assim em “Syriana”, “Conduta de Risco”, “Amor Sem Escalas”, “Confissões de uma Mente Perigosa”, “Boa Noite e Boa Sorte”.

Este ano, Clooney mais uma vez nos brinda com um grande filme que mostra um olhar interessante sobre a política em geral e, especialmente, a americana em “Tudo Pelo Poder”.

Baseado na peça “Farragut North”, escrita por Beau Willimon, o longa mostra o jovem assessor de imprensa e idealista Stephen Myers (Ryan Gosling) que trabalha na campanha do pré-candidato democrata à presidência dos EUA, Mike Morris (George Clooney). Ao lado do experiente Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), ele tem a responsabilidade de organizar as estratégias para conseguir mais eleitores, além de tentar esconder as falhas de Morris e, claro, conseguir os podres do adversário. Porém, a medida em que a disputa vai se aprofundando, o talentoso rapaz vai se vendo em meio a uma série de intrigas e decepções que o fazem se transformar completamente.

O roteiro escrito por George Clooney e George Heslov (dupla responsável pelo roteiro de “Boa Noite e Boa Sorte”) se apóia muito mais nas figuras dos assessores políticos do que nos próprios homens que disputam os votos dos eleitores. Desde a preparação de um simples discurso até a mudança de pensamentos ideológicos são feitas por estes sujeitos que vivem nos bastidores, sem quase nunca aparecer, mas com uma importância que chegamos ao ponto de se questionar quem realmente manda e dá os rumos à nação.

Uma bela cena ilustra isso: enquanto Morris faz um discurso sobre guerra, economia e meio ambiente que ele mesmo mostra pouca confiança de ser possível concretizar, mas que leva o público à loucura, Stephen e Paul discutem, atrás do palco e sob uma bandeira americana ao fundo, um fato que pode mudar a campanha dos Democratas e, conseqüentemente, o rumo das eleições.

Outro acerto de “Tudo Pelo Poder” são os brilhantes diálogos do filme que conseguem trazer uma inteligência rara para o cinema atual, acompanhado de um humor irônico e refinado.

Na minha opinião, três momentos se destacam: o primeiro encontro de Stephen e Molly Stearns (Rachel Evan Wood), uma conversa entre os personagens de Ryan Gosling e Paul Giamatti em que este concluí “Você quer ficar do lado de quem: do seu amigo ou do presidente?”, e, por último, na sequência decisiva do filme, quando o jovem assessor diz a Clooney o que um candidato a presidente não deve fazer em hipótese alguma.

Claro que nada seria de um bom roteiro sem um elenco de qualidade. Ryan Gosling consegue conduzir bem o filme, ao mostrar gradativamente as mudanças pela qual o personagem dele passa. Já Clooney surpreende com uma atuação contida e mais séria que o habitual, conseguindo mostrar, principalmente nas cenas de discurso com seu olhar indeciso, a falta de segurança nas opiniões de Morris sobre os assuntos que trata. Porém, “Tudo Pelo Poder”, nada mais é que uma aula de interpretação de dois craques da atuação: Paul Giamatti e Philip Seymour Hoffman esbanjam talento nas cenas em que aparecem.

Assim como “Boa Noite, Boa Sorte” foi corajoso em 2006, no auge do apoio nos EUA ao governo Bush, ao mostrar a importância de uma imprensa livre e combativa, mesmo em períodos obscuros da história, “Tudo Pelo Poder” mostra os bastidores nem sempre muito agradáveis da política americana, que tanto gosta de se propagar como bela e incorruptível, em pleno ano de disputa eleitoral para a Casa Branca.

Isso tudo vindo da mão de um astro como George Clooney, o qual poderia estar sentado, tomando seus “bons drinks”, mas que optou pelo caminho mais contestador e crítico.

Bom para o cinema!

 NOTA: 8,0

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