segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Crítica: "Os Descendentes", Alexander Payne

Por Caio Pimenta

Se uma palavra pudesse resumir “Os Descendentes” esta seria simplicidade.


Escrito e dirigido por Alexander Payne, o vencedor do Globo de Ouro de melhor filme dramático pretende ser apenas um filme que tem uma história para contar e nada mais do que isso.

Não pretende trazer grandes reflexões sobre a vida (apesar de tê-las, principalmente sobre autoconhecimento) ou a existência humana nem ser um exercício rebuscado de seus realizadores.

Basta à trama, seus personagens e saber desenvolve-los.

E é justamente por isso que reside a grande força do filme.

“Os Descendentes” mostra o drama de Matt King (George Clooney), um homem que vivia para o trabalho e, de repente, vê sua vida se transformar depois que a esposa Elizabeth King (Patricia Haste) sofre um acidente que a deixa em estado vegetativo. Ao saber que ela não tem chances de sobrevivência, Matt tenta se aproximar das duas filhas e vai descobrindo pequenos segredos de sua vida conjugal.

Com essa trama simples, Alexander Payne nos joga em um universo que poderia ser possível com qualquer um de nós, um acerto que se mostra decisivo para o sucesso do filme.


Em “Os Descendentes” não há bonzinhos ou vilões, nem grandes momentos de heroísmo muito menos personagens esteriotipados. Até mesmo na roupa, o filme mostra sua vontade de ser o mais simples possível, com os protagonistas andando de bermuda, chinelo, camisetas e blusas floridas. Porém, todos trazem problemas e conflitos que precisam ser resolvidos, assim como nós em nossas vidas.

Da mesma maneira que o roteiro mostra a força, o sacrifício e o amor que Matt tem pela família durante a jornada que acompanhamos, é possível também perceber que ele que pouco esteve presente para cuidar deles antes do acidente fatal com sua esposa. Por isso, como culpar Elizabeth pelas decisões que muitos julgariam erradas? Ou mesmo o durão pai da garota que reclama do personagem de Clooney pelos possíveis erros dele como marido?

Além disso, cada personagem é muito mais do que aparenta ser. Quando vemos a filha mais velha de Matt, Alexandra (a excelente Shailene Woodley) pensamos logo de cara: mais uma adolescente rebelde que vai ficar reclamando de tudo durante o filme! Porém, à medida que a trama vai se desenrolando, percebemos se tratar de uma garota madura, decidida e determinada, capaz de carregar o pai muitas vezes, dando a Matt coragem em momentos em que claramente este hesitaria.

O mesmo podemos ver com outros personagens da trama como o bobão, mas gente-boa Sid e o durão, porém extremamente cuidadoso sogro de Matt interpretado sensivelmente por Robert Foster.

No campo das atuações, porém, o dono do pedaço em “Os Descendentes” é George Clooney. Assim como em “Tudo Pelo Poder”, o astro volta a fazer uma grande atuação. A cena da despedida entre Matt e Elizabeth sintetiza muito bem o trabalho de um ator que consegue ir do humor elegante e discreto ao drama comovente e sem exageros.


Alexander Payne faz mais um belo gol em sua discreta, porém excelente carreira. O mesmo homem que já conseguiu dirigir os excelentes “Eleição” e “Sideways”, mostra amadurecimento com “Os Descendentes” e nos  faz lembrar como o cinema pode e deve ser simples:  boa história com ótimos personagens,  grandes atores e um ótimo diretor.

Tudo isso resulta em um grande filme.
 
Nota: 8,0

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