Por Diego Bauer
Fazer cinema no Brasil é algo realmente difícil, diria que quase heróico. Imagina fazer cinema no Amazonas...
Faço parte de um grupo de amigos (que hoje se tornou uma empresa, a Artrupe Produções) que possui grande respeito e admiração pela arte cinematográfica. É claro que quando nos conhecemos tínhamos uma visão completamente diferente sobre cinema comparada com a que temos agora, mas desde sempre a sétima arte se mostrava como algo maravilhoso de assistir, e pensávamos em como seria legal ser um grande diretor, ator, com muito dinheiro, Oscars e amigos famosos.
Com o passar do tempo, acabamos nos tornando mais seletivos, conseguimos ter uma visão mais clara sobre a abissal diferença entre um clássico e os filmes bobinhos que enchem as salas de cinema, e buscamos nos especializar cada vez mais, participando de cursos sobre linguagem cinematográfica, além de ir atrás de métodos de interpretação.
Depois disso, fazer filmes não parecia mais ser uma ideia muito distante, e decidimos meter a cara e começar a produzir um.
Em 2011, após assistir, em um curto intervalo de tempo, Cães de Aluguel e Pulp Fiction, escrevi um roteiro com características de submundo, periferia, crimes, e sujeira de modo geral. Foi então que Fátima surgiu em nossas vidas.
Com todos os exageros e maneirismos pueris, típicos de um roteirista iniciante, Fátima se apresentava como um filme sobre filmes, que queria ser divertido, mas sofisticado, com movimentos de câmeras e planos-sequência que foram pensados por, mais do que qualquer outra coisa, serem interessantes de se ver.
Afetações a parte, acredito que Fátima era um trabalho interessante e de boas qualidades, principalmente em relação ao elenco, que contou com ótimas atuações dos sempre talentosos Efrain Mourão, Antônio Carlos Jr. e Elis Marinheiro. Porém, infelizmente não é disso que lembramos assim que o filme acaba. O que fica mais forte na memória são os graves problemas de áudio, que comprometem a compreensão de algumas ideias fundamentais para a compreensão do filme, além dos problemas de iluminação ocasionados pelos equipamentos inadequados, além da nossa falta de perícia em operá-los.
Passamos noites sem dormir (as gravações ocorreram de madrugada), tivemos um trabalho infernal para tentar realizar o filme, o inscrevemos no Amazonas Film Festival do ano passado, e... não fomos selecionados.
É claro que ficamos frustrados, mas com o tempo, percebemos que Fátima acabou se tornando a nossa maior escola, talvez o momento em que mais aprendemos sobre como é realmente fazer um filme, e descobrimos o quanto fantasiávamos sobre o assunto, e que estávamos errados sobre uma série de verdades que alimentávamos.
Passou um tempo, criamos a Artrupe, e o Rafael Ramos apareceu com o esboço de um roteiro, chamado
Antes. Depois de algumas discussões, o nome acabou sendo mudado para
A Segunda Balada. Fui escolhido para um dos papeis, juntamente com o Efrain Mourão, novamente conosco, e a atriz de um dos grupos de teatro mais interessantes de Manaus, a Cia Cacos de Teatro, Ana Paula Costa.
Dessa vez, não queríamos fazer um filme por fazer. Na época de Fátima, o mais importante de tudo era praticar, mas aqui não mais: queríamos dar sequência, caminhar nesse aprendizado. Portanto, decidimos que A Segunda Balada seria um filme possível de ser realizado. Não faríamos loucuras, nem criaríamos cenas que não teríamos condições de fazer.
Graças a isso, acredito que fizemos um filme simples, é verdade, mas muito bem trabalhado, com uma atenção especial aos detalhes, realizando um longo período de preparação com os atores e priorizando a parte técnica, lição que aprendemos com o filme anterior.
Depois do filme pronto, e de um longo trabalho de divulgação, finalmente chega a sua estreia. Para a nossa grande alegria, conseguimos encher o Espaço Thiago de Mello, e não apenas com os nossos amigos, mas com gente que nunca tinha visto antes, que parecia curiosa e ansiosa para ver o filme. Que tinha saído de casa, num sábado à noite, para ver um filme amazonense, um filme feito por uns garotos amantes de cinema. O nosso filme!
Confesso que fica difícil deixar de enlarguecer o sorriso, quando pensamos nisso, e vemos que, pelo menos aparentemente, as pessoas ficaram satisfeitas com o que viram, com comentários elogiosos, e sem a linha do “pra um filme amazonense, até que é bom”.
Esperamos que
A Segunda Balada ainda esteja no início de uma grande carreira. Torcemos para que ela passe em vários festivais pelo Brasil, e que o maior número possível de pessoas tenha a oportunidade de assisti-lo. Acredito que isso é uma prova de que tem gente que quer fazer cinema de qualidade por aqui, que acredita que isso é possível, e quer fazer com que outras pessoas também acreditem nisso.
E mesmo que o nosso filme não passe em grandes festivais, ainda assim o saldo seria imensamente positivo, pois o nosso processo de crescimento só está começando, e esse é apenas o segundo, de muitos que virão por aí.
E acredito que o que aconteceu na noite do dia 22 de setembro é uma prova de que estamos no caminho certo, e que o nosso sonho não parece mais tão distante assim.