quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crítica: 'Ted', de Seth Macfarlane

Por Diego Bauer


Family Guy, que aqui recebeu o nome, digamos, infame, de Uma Família da Pesada é uma série de sucesso na televisão norte-americana desde 1999, e que também possui muitos fãs no Brasil. Criada por Seth Macfarlane, o seriado é caracterizado pelo humor que mistura o escracho com críticas sobre a sociedade americana, utilizando-se do sarcasmo e da acidez.

Em Ted, Macfarlane trouxe todos esses elementos para a telona, e foi realmente muito bem-sucedido.

O filme conta a história de John (Mark Wahlberg), um homem que quando menino não era um exemplo de popularidade, visto que até os garotos que sofriam bullying não permitiam que ele fizesse parte de seu grupo. Em um natal, ele recebe um urso de presente, Ted (voz de Seth Macfarlane), e decide que ele será o seu melhor amigo. Com isso, John deseja que o seu ursinho ganhe vida para que eles sejam amigos para sempre. O seu desejo acaba sendo realizado, e juntos eles se tornam inseparáveis. Vinte e sete anos depois, John está namorando Lori (Mila Kunis) há 4 anos, e ela espera que ele a peça em casamento, porém sempre se decepciona com o namorado, por ele aparentar imaturidade em alguns aspectos da vida, principalmente pelo seu relacionamento com Ted, que sempre parece impedir que ele se torne um adulto responsável.

Como Macfarlane está mais do que habituado em trabalhar nessa vertente, o seu debute no cinema mostra-se seguro e confiante, além de criativo, quando insere efeitos visuais e trilha sonora em determinadas cenas fazendo referências a outros estilos, como no momento em que John está indo para uma festa em alta velocidade para encontrar um ídolo.

E a direção é muito favorecida pelo roteiro escrito pelo próprio Macfarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild, que não tem nenhum tipo de pudor em inserir piadas relacionadas à maconha, homossexualismo e humor negro. Criando situações absurdas, com diálogos ácidos, com muitas referências à cultura pop, os roteiristas são competentes em fazer com que todos os excessos estejam completamente dentro de contexto, sendo justificáveis por fazerem parte das características dos personagens, que se mostram bem desenvolvidos.

(Não pretendo me alongar muito, mas é quase assustador ver o misto de ingenuidade e imbecilidade do deputado Protógenes Queiroz, do PC do B de São Paulo, ao tentar fazer com que o filme deixe de ser exibido, afirmando que ele faz apologia às drogas e promove que ser vagabundo e fumar maconha é algo bom. Por que que em vez de gastar tempo com isso, o ilustre deputado não tenta criar projetos que auxiliem na educação das pessoas, para criar um público esclarecido que tenha capacidade de ver que aquilo se trata apenas de um filme, e que seja capaz de estabelecer uma opinião própria, sem que nenhum deputado simpatizante da censura venha e decida o que é, e o que não é bom que as pessoas vejam? Talvez esse público esclarecido também tivesse mais competência na hora de escolher os seus representantes na Câmara).

E o mérito de Macfarlane não para por aí, pois o seu trabalho compondo a voz de Ted é sensacional. O ursinho é, de longe, a melhor coisa do filme, responsável pelas melhores piadas, e a composição de sua voz tem papel importante nisso. É incrível perceber como que aquela voz adulta e masculinizada casa perfeitamente com um urso de pelúcia “fofinho”. Os momentos de destaque são os que Ted conversa com o seu chefe depois de aprontar alguma, e a festa em que ele recebe um convidado especial.

Wahlberg também se sai bem, e se mostra confortável no papel de um eterno adolescente, que busca mudar de comportamento para não perder a namorada. E embora Ted seja o maior destaque cômico do filme, Wahlberg também se mostra engraçado, como na cena que tenta adivinhar o nome da namorada de Ted, e também no momento já memorável de uma briga entre os dois, que quase rivaliza com a clássica cena de Borat (2007).

Sem dúvida, um deslize do filme consiste no direcionamento do roteiro para Lori. Embora seja totalmente plausível o aborrecimento dela em relação a Ted, e as atitudes que ela toma em relação a John, é quase impossível não colocá-la numa posição de megera, pois a sua personagem parece atrapalhar os momentos de felicidade entre John e Ted. E se pararmos para analisar, John parece mais feliz quando está com Ted do que com Lori.

Na parte do final do filme, a comédia fica até em segundo plano, dando espaço para um suspense, graças a um conflito do personagem de Giovanni Ribisi e o seu filho (que poderia facilmente ser uma das crianças da creche de Toy Story 3). Não há problema algum em um filme mudar de estilo no decorrer da sua narrativa, porém surgem uns elementos muito clichês, típicos de finais de comédias românticas ruins, que chegam a incomodar.

Mas como rimos tanto nas últimas horas, esses erros acabam sendo esquecidos, e nos rendemos ao surpreendente charme de Ted, que garante gargalhadas, como a que encerra o filme.

NOTA: 7,5

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