segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crítica – “Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros”, de Timur Bekmambetov

Por Renildo Rodrigues


Quem tem acompanhado com atenção o cinema dos últimos anos conhece Timur Bekmambetov. O diretor russo, que despontou com othriller Guardiões da Noite (2004) e sua sequência Guardiões do Dia (2006), chamou a atenção do grande público em 2008, com o suspense O Procurado.

Dono de um estilo tenso e uma visão de mundo pessimista, ele não é o nome mais indicado para dirigir algo tão – sei lá, escrachado? – quanto uma história em que Abraham Lincoln, o lendário presidente dos Estados Unidos, na verdade é um caçador de vampiros.

Mesmo com isso em mente, não estava preparado para a decepção que é Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros. Um filme apressado, previsível e tolo além da conta, que não funciona nem como aventura, quanto mais como alegoria política.

Adaptado do livro de mesmo nome por seu próprio autor (Seth Grahame-Smith, expoente dos romances que misturam histórias famosas e horror trash, como Orgulho e Preconceito e Zumbis), o filme narra a trajetória do presidente desde a infância, com destaque para os episódios mais importantes de sua biografia: a morte da mãe, os esforços para se tornar advogado, as tensões provocadas pela segregação racial, a explosão da Guerra Civil. No meio disso tudo, em alusões divertidas, estão os vampiros.

Não que a premissa seja ruim. Mas o roteiro de Grahame-Smith e a direção de Bekmambetov tiram dela qualquer elemento que possa despertar o mínimo interesse. Os personagens, sem exceção, são rasos e mal desenvolvidos (o vilão Adam, interpretado por Rufus Sewell, e o mentor de Abraham, Henry, são especialmente ruins); as sequências de ação apenas requentam clichês de outros filmes (uma das melhores, a perseguição ao vampiro Jack, é prejudicada pela computação tosca); e fica difícil dizer quais os momentos em que você já não vai sabia, de antemão, o que acontece na história (a “revelação” de Henry talvez seja a pior).

Também é uma pena ver Bekmambetov não fazer mais do que mexer a câmera o tempo todo, sem piedade. Esse tipo de artifício até se justifica quando temos atores mais velhos nas sequências de ação (como em Os Mercenários 2), mas, de posse de um elenco jovem e um orçamento milionário, resta apenas um cacoete enervante do diretor.

Para não dizer que nada se salva, o trabalho de Benjamin Walker como Abraham Lincoln é muito bom. O ator empresta sentimentos genuínos a um personagem esquemático, sendo o único a conseguir ter alguma empatia com o público ao longo da trama. Chega a ser mais interessante acompanhar sua trajetória política do que suas movimentadas perseguições aos vampiros, justamente por conta dessa carga humana. A fotografia e a montagem também funcionam, a primeira por conseguir dar uma boa atmosfera às cenas, e a segunda pelas criativas transições. O 3D do filme deve atrair a molecada, já que há objetos voando pela tela durante toda a projeção.

O saldo decepcionante de Abraham Lincoln vem somar-se às diversas contrafações sofridas pelos sugadores de sangue desde o sucesso da série Crepúsculo. Vamos torcer para que os papelões a que essas criaturas vêm sendo submetidas estejam perto do fim.

Nota: 6,0

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