Por Renildo Rodrigues
Stanley Kubrick. Nome polêmico, tanto pela obra provocadora quanto pelo temperamento, recluso e difícil. Nascido em 1928 em Nova York, Kubrick descobriu o cinema ainda na infância, assistindo aos clássicos de Howard Hawks, Max Ophüls e Luchino Visconti. Com a ajuda da família e amigos, o diretor rodou o primeiro curta aos 23 anos. O primeiro longa, Fear and Desire (1953), chamou a atenção da indústria e o colocou no mapa. Ao todo, foram 13 filmes, em gêneros que vão do noir à ficção científica. Kubrick morreu em 1999, aos 70 anos, com seu último trabalho (De Olhos Bem Fechados) lançado postumamente.
Fear and Desire (1953)
Rejeitado pelo diretor, que o considera “amador” demais, não tem edição em DVD. Pode ser encontrado na Internet, mas ainda não o vi.
A Morte Passou por Perto (Killer’s Kiss, 1955) – 3/5
Típico filme de “cineasta-prodígio”, cheio de truques de câmera e luz que existem só para chamar a atenção. Mas vale pelo clímax, uma tensa perseguição que leva a um embate num depósito de manequins.
O Grande Golpe (The Killing, 1956) – 5/5
Primeiro clássico do diretor, e possivelmente seu melhor trabalho, ao lado de 2001 e Laranja Mecânica. Com uma estrutura narrativa original para a época (eventos são vistos novamente pelos olhos de outro personagem), O Grande Golpe carrega também no humor negro, dando fôlego a uma história batida: a do roubo que dá errado.
Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957) – 4/5
Um choque para a época. Glória Feita de Sangue foge ao maniqueísmo dos filmes de guerra para fazer uma envolvente reflexão moral, cujo mote é a execução de três soldados por covardia. Os movimentos elegantes de câmera mostram a evolução de Kubrick como cineasta.
Spartacus (1960) – 3½ /5
Kubrick herdou a cadeira de Anthony Mann na história do escravo Spartacus. Mesmo na condição de contratado, o diretor imprime sua marca: um épico (o único do cinema) sem traços de cristianismo, com cenas de batalha admiráveis até hoje, algumas delas envolvendo centenas de figurantes. Talvez “o” épico, mas que, por seu próprio gênero, soa datado hoje em dia.
Lolita (1962) – 4/5
Adaptação do controverso romance de Vladimir Nabokov, sobre a paixão de um professor de meia-idade por uma adolescente. Apesar do tema escandaloso e da época (1962!), Kubrick driblou a censura e entregou um filme sexy, a um só tempo sóbrio e apaixonado, ainda que não à altura – superlativa – dos seguintes.
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964) – 4½ /5
Uma sátira arrasadora sobre a Guerra Fria. O destaque é Peter Sellers, à vontade em três papéis diferentes – entre eles, o insano Dr. Strangelove. O final é um soco no espectador. Ou melhor, uma bomba.
2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) – 5/5
Um marco do cinema, com inovações que dividiram opiniões em 1968 – e o fazem até hoje. Espécie de “fantasia científica” com reflexões metafísicas, 2001 é o filme mais pretensioso da história. Só mesmo Kubrick para torná-lo possível, com apoio de efeitos de ponta e uma trilha sonora bastante ousada.
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) – 5/5
Terceira obra-prima do diretor, Laranja Mecânica foi ainda mais longe na polêmica: inspirados no sádico Alex, jovens ingleses provocaram um surto de violência e tumultos, o que obrigou Kubrick a uma decisão radical: proibir sua exibição no país. Triste ironia para uma trama que satiriza a violência inerente ao homem.
Barry Lyndon (1975) – 4/5
No visual, o oposto de 2001: um filme de época, com figurinos reais, fotografado à luz de velas (!). No conteúdo, a ascensão e queda de um jovem irlandês na alta sociedade inglesa. A narrativa elegante transcorre sem pressa, o que pode ser um martírio nestes tempos de Transformers.
O Iluminado (The Shining, 1980) – 4½ /5
Qual não deve ter sido a surpresa do público quando Kubrick, um artista conhecido pelo refinamento (mesmo sob a carga maciça de sexo e violência em Laranja Mecânica) sucedeu Barry Lyndon com um filme de... terror, o mais “pobre” dos gêneros? O Iluminado, no entanto, só fica atrás de O Exorcista na arte de meter medo. Prova de que o talento (ou o gênio), quando verdadeiro, não conhece fronteiras.Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987) – 3½ /5
A versão de Kubrick para o Vietnã. A primeira parte é excelente. A segunda tem seus momentos, mas sai perdendo na comparação.
De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999) – 3½ /5
O último filme do diretor causou um grande burburinho quando foi anunciado, sobretudo por especulações quanto ao seu conteúdo sexual. Não é para tanto: trama sobre o desejo que desemboca em suspense surrealista, De Olhos Bem Fechados confunde os registros e perde força no final. Ainda assim, é repleto de grandes momentos, como o diálogo entre Tom Cruise e Nicole Kidman no quarto e a sequência da mansão.
Kubrick sabia filmar. Melhor que Steven e me atrevo a dizer, melhor que o superestimado Hithcock.
ResponderExcluirAliás, seria uma boa fazer um post sobre o Hithcock...