Histórias românticas têm a preferência óbvia do público.
Até aí, ninguém discordaria. Mas por quê, apesar da popularidade, temos tão poucos filmes românticos realmente memoráveis? “Como assim?”, você poderia retrucar. “E Aurora, E o Vento Levou, Casablanca, Amor, Sublime Amor?”. Dá pra concordar, em parte. São todos grandes filmes, e todos têm o amor como tema principal. Mas o “romântico” a que me refiro é diferente. Não são aquelas histórias de amor épicas, de mocinhos e mocinhas submetidos a sacrifícios, de finais com música e festa ou mortes trágicas.
O amor, como eu e você conhecemos, não é desse jeito. Ele está aí, pairando no ar, preso na garganta, numa rua, num espelho, subindo as escadas. Várias formas de amor, mais ou menos banais, mais ou menos sublimes. É o amor que acontece o tempo todo, em todo lugar – um casal que se conhece na fila do banco, no parque, na saída da empresa – mas que o cinema, a despeito de tudo que foi capaz de alcançar em um século, raras vezes conseguiu captar. Alguns chegaram bem perto – Chaplin em Luzes da Cidade, Frank Capra em Aconteceu Naquela Noite, Mike Nichols em A Primeira Noite de um Homem, Woody Allen em seus melhores filmes, com Annie Hall e Hannah e Suas Irmãs à frente –, mas a joia da coroa – polêmica – tem de ir para o americano Richard Linklater e seu Antes do Amanhecer.
O filme, lançado em 1995, parte de uma premissa simples. Jesse (Ethan Hawke) conhece Celine (Julie Delpy, encantadora) no vagão de um trem europeu. Atraídos de imediato um pelo outro, eles decidem descer em Viena (Áustria) e passar as 24 horas seguintes juntos, caminhando, jogando conversa fora, admirando as coisas no trajeto – e vivendo uma paixão intensa.
“Como um filme feito só de conversas pode ser tão bom?”, você talvez perguntasse. Boa pergunta. Esse é um dos muitos aspectos em que Antes do Amanhecer é perfeito. Richard Linklater, que escreveu o filme em parceria com a atriz Kim Krizan e os dois protagonistas, traça com delicadeza os sentimentos que surgem entre Jesse e Celine. A princípio, eles trocam amenidades, se provocam, tentam cativar um ao outro. Pouco a pouco, contudo, eles deixam escapar o que têm de verdadeiro, de íntimo – e de doloroso. Quando percebem, já estão completamente envolvidos.
Para chegar a esse ponto de forma realista, o texto precisaria ser superlativo – e é. Rapidamente, nos deixamos abandonar ao ritmo das conversas, descobrimos as coisas sem saber, como Jesse e Celine, e, no final, compartilhamos a mesma ansiedade. Nenhuma frase, nenhum plano parece fora de lugar em Antes do Amanhecer. Essa talvez seja a mágica do filme: retratar com fidelidade cada impulso, cada hesitação que há no que dizem ou fazem Jesse e Celine, da mesma forma que aconteceria se fosse eu ou você. Mérito de Ethan Hawke e Julie Delpy, que dão vida a cada um desses pequenos gestos.
Na parte técnica, o essencial: tomadas discretas de pontos turísticos de Viena, cidade que por si só já seria um monumento ao romance, com seus parques, bosques e praças. Um lugar onde se pode admirar um pôr-do-sol azulado e ouvir Bach numa igreja; onde poetas populares trocam versos por moedas e cartomantes predizem a sorte de jovens namorados. Para Jesse e Celine, que têm um dia para viver tudo aquilo que para outros casais talvez levasse uma vida inteira, é o cenário ideal.
Fiquei com vontade de ver! O meu filme preferido do gênero é "A princesa e o plebeu", com Audrey Hepburn e Gregory Peck. E sabe que é mais ou menos assim, uma garota que quer ter um dia normal na sua vida encontra uma companhia...E eles acabam se apaixonando! :)
ResponderExcluirDevo ter visto esse filme umas 10 vezes.Um dos meus preferidos.
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