Por Renildo Rodrigues
Lá se vão 37 anos da primeira continuação importante de Hollywood, concebida e executada como tal: O Poderoso Chefão – Parte II. E pensar que, naquela época (1974), a Paramount, produtora do filme, tentou de todas as formas vetar o “Parte II” do título. Acreditavam que isso afastaria os espectadores, que não iriam assistir ao filme se não estivessem familiarizados com a Parte I. Claro, estavam errados: o filme faturou monstruosos 193 milhões de dólares em bilheteria, e a era das franquias estava oficialmente inaugurada. As franquias – filmes que formam uma série, com continuações, spin-offs (produções alternativas com personagens da série) e um mundo particular são hoje o ativo mais valioso de Hollywood. Três filmes lançados recentemente ajudam a avaliar o que há de bom e ruim com essa situação.
Podemos dividir X-Men: Primeira Classe, Se Beber, Não Case 2 e Carros 2 em três categorias: reinvenção da franquia (X-Men), repetição da fórmula (Se Beber...) e retrocesso (Carros). Não era minha intenção usar apenas palavras que começam em “re”, mas elas servem bem ao propósito, então...
Reinvenção
Quer aprender a fazer uma franquia? Assista à série X-Men. Após um começo hesitante, numa época (não tão distante: 2000) em que filmes sobre quadrinhos ainda eram uma novidade, a série se impôs pela alta qualidade de suas tramas e pelos desempenhos de gente como Anna Paquin, Hugh Jackman e Ian McKellen. Agradando a fãs de cinema e quadrinhos, X-Men acabaria se tornando uma bem-sucedida trilogia, mas o público queria mais. Eis que então surgiu X-Men Origens: Wolverine, um spinoff com a história do personagem mais querido da série, o rude e violento Wolverine. Apesar do potencial, a obra acabou se mostrando uma decepção, trocando a complexidade e o realismo dos originais pela ação deslavada e sem imaginação. Ainda bem que Primeira Classe veio virar o jogo: espécie de “mito fundador” da série, o filme mostra a origem de Charles Xavier e Magneto, os homens que criaram a Academia de Mutantes e deram início a tudo. Nas mãos de Matthew Vaughn, diretor do brilhante Kick-Ass (2010), X-Men ganha novo fôlego, e dá gancho pro que promete ser uma nova série antológica de filmes sobre os heróis mutantes.
X-Men: Primeira Classe: 8,5
Ressaca
A sensação desoladora que sucede uma noite de farra é o mote de Se Beber, Não Case (2009), comédia de baixo orçamento que virou um fenômeno de bilheteria e tomou o mundo inteiro de surpresa (não exatamente pela qualidade, vale dizer). Ressaca também é a sensação que se tem ao se assistir Se Beber, Não Case 2, a esperada continuação do filme. Imagino se não terá sido com essa sensação que os roteiristas resolveram escrever uma sequência tal e qual o primeiro trabalho. Se Beber... é a repetição cansativa, pelo manual, de tudo o que deu certo no filme anterior, com rigorosamente nada de novo. Deu certo, por sinal, já que fazem bem umas três semanas que o filme anda em cartaz em Manaus, e a bilheteria mundial acumulou respeitáveis U$ 527 milhões. Ainda que tenha seus momentos (a sequência dos travestis, por exemplo, é impagável, mas não consigo ver a graça do macaco fumante), por ser a mera repetição de outro filme, Se Beber, Não Case 2 estaciona num patamar artístico muito inferior ao dos outros dois filmes deste post.
Se Beber, Não Case 2: 5,5
Retrocesso
E a Pixar, quem diria, falhou. A empresa de animação, com padrões altíssimos em todos os quesitos que fazem um bom filme, nunca pôde ser acusada de preguiça ou de fazer o óbvio. Até agora. Carros 2, sequência de um trabalho considerado por muitos (mas não por este locutor) o menos inspirado da produtora, parece querer validar essa pecha. Ainda que o controle de qualidade característico da Pixar tenha feito deste um filme bem acima de “aceitável”, Carros 2 é, de fato, um passo atrás. Ainda mais contando o impressionante retrospecto que antecede a obra: Ratatouille (2007), Wall-E (2008), Up – Altas Aventuras (2009) e Toy Story 3 (2010), um conjunto superior ao de qualquer cineasta no período. Mas Carros, infelizmente, guarda pouco da maturidade, criatividade e ousadia desses filmes. Ficou apenas a divertida história de Mate, que no primeiro Carros era o melhor amigo do protagonista Relâmpago McQueen. Neste, o caminhão caipira assume a dianteira (desculpem a metáfora) numa trama que mistura espionagem a la James Bond e um discurso pró-sustentabilidade ambiental. Tudo muito bonitinho, tudo muito certinho, e pouco além de um filme-passatempo pra se ver e esquecer. Resta aguardar que 1906, nova produção sob o comando de Brad Bird (Os Incríveis, Ratatouille) devolva a Pixar ao lugar que lhe é de direito: o topo.
Carros 2: 7,5
Novos episódios devem aquecer ainda mais a batalha das sequências, com Kung-Fu Panda 2, Transformers 3 O Gato de Botas e o novo Harry Potter, mobilizando os cinéfilos mundo afora. Nós, aqui do Set Ufam, estaremos assistindo!
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