As pessoas estão ficando loucas!
Somente isso e nada mais diferente consegue explicar o sucesso da “Saga Crepúsculo” e, mais precisamente, de “Amanhecer – Parte I”.
Como as pessoas conseguem enxergar nisso uma história de amor e não um filme com pessoas, no mínimo, com problemas psicológicos sérios?
A “Saga Crepúsculo” não resiste a uma simples análise em que paremos para fazer por dois minutos.
Não precisa ser um intelectual, ler mil livros do Nietzsche ou visto cem filmes iranianos ou ido em peças alternativas.
Basta refletir!
Topa o desafio?
Então, vamos!
Desde o início da Saga quando a humana Bella Swan (Kristen Stewart) descobre que o rapaz bonitão da sala dela, Edward Cullen (Robert Pattinson), era um vampiro e se apaixonam, a conversa entre os dois se resume a isso:
Bella - Edward, eu não me sinto adaptada a esta vida. Quero ser vampira e viver com você! (tom melodramático, por favor)
Edward - Não, Bella. Você não sabe das conseqüências disso. (tom passivo)
Bella - Olha Edward! Eu amo você, faço tudo por você. Eu quero morrer. (tom melodramático 2X)
Edward - Não posso, Bella! (tom passivo)
Bella - Eu quero morrer! (tom melodramático + cara de choro)
Edward - Não, Bella. (tom passivo)
Bella - Quero Morrer, Edward!
Nisso, se resume grande parte dos primeiros filmes da saga e nas conversas entre os dois pombinhos (reparem que nos diálogos trocados pelos dois há sempre sofrimento e, raramente, brincadeiras ou declarações verdadeiras de amor).
Triste é perceber que, em nenhum momento, o roteiro parece se importar em fazer Bella se questionar se será válido morrer por um amor, abrir mão de uma vida, carreira, profissão, filhos porque gosta de um cara, se é uma paixão de adolescente (afinal de contas, somente em “Amanhecer” que ela completa 18 anos).
Até aí, não passava de uma tolice bobinha que dava para ser relevada facilmente.
Ok.
Porém, a série de barbaridades vistas em “Amanhecer-Parte I” assume um grau de ofensa a inteligência mínima que qualquer ser humano possui.
Olhar o que acontece com Bella e ver as atitudes tomadas por Edward são, no mínimo, revoltantes.
A PARTIR DE AGORA, NÃO LEIA CASO AINDA NÃO TENHA ASSISTIDO O FILME
Quem acompanha a história ou, pelo menos, é bem informado, sabe que neste quarto filme os pombinhos vão se casar e passar a lua-de-mel no Rio de Janeiro.
Porém, nesse meio do caminho somos testemunhas de uma das maiores loucuras já feitas por uma personagem no cinema nos últimos tempos: Bella, apesar de ter sido alertada do perigo que corria de se machucar fisicamente ao fazer sexo com Edward por este ser um vampiro, topa mesmo assim.
Resultado: no outro dia, a garota acorda com hematomas por todo o corpo e, mesmo assim, está satisfeitíssima com a noite de “amor”.
Para piorar, Bella insiste para fazer sexo mais vezes, em uma atitude que mostra sua total falta de amor por si própria, já que parece não se importar se vai ficar ferida ou não.
A desculpa usada por ela para não se transformar logo em vampira naquele momento era porque não queria ESTRAGAR a lua-de-mel, já que a transformação a faria ficar se contorcendo de dor por um dia inteiro.
Ou seja: ser espancada enquanto perde a virgindade, tudo bem. Estragar a lua-de-mel, não.
Daí, a autora do livro Sthepanie Mayer resolve “ferrar” de vez com a protagonista, engravidando-a de um ser que não se sabe se é vampiro ou humano.
O que acontece com Bella a partir deste momento é chocante: a menina emagrece completamente; hematomas disparam em seu corpo, para não falar da barriga que fica roxa (literalmente); não consegue mais andar; mesmo não sendo vampira, precisa se alimentar de sangue para conseguir fazer o bebê se acalmar, chega a quebrar a bacia e a perna devido a um deslocamento abrupto do vampirinho....
Algo digno de “O Bebê de Rosemary”.
Mas, acredite se quiser: tudo isso é mostrado pelo filme como uma prova de amor e sacrifício por Edward.
Sim!
Roteiristas, atores e diretor apresentam tudo isso como uma grande prova de amor.
Amor?
Desejar a morte é amor?
Ver seu corpo se deteriorar é amor?
Se expor a dores terríveis é amor?
Amor a quê?
A Edward?
Um cara que simplesmente na noite do casamento a entrega ao outro homem que a ama, dizendo ser um presente? E que permite, na frente de toda família, que o rival abrace sua amada?
Um cara que aceita fazer sexo com ela mesmo que a deixe se machucar terrivelmente?
Um cara que sabe que se Bella levasse a gravidez adiante poderia morrer da pior maneira possível e mesmo assim fica imóvel, incapaz de tomar uma decisão firme?
Um homem (vampiro, ok!) que mesmo com seus séculos de vida não consegue impedir uma garota do ensino médio, com claros problemas psicológicos, de se apaixonar por ele? E que não a faz perceber de maneira minimamente convincente o quanto pode se arrepender da escolha e do que estará abrindo mão com a vida que pretende levar?
Não bastasse o casal mais transtornado da história do cinema, há Jacob.
Se ele até este filme, conseguia ser um cara legal com Bella e que a fazia se animar, ganhando a simpatia do público (confesso que não entendia porque ela não ficava com o vampiro, já que era Jacob quem mais a fazia rir e se divertir), dessa vez, a revelação guardada para o personagem o transforma em um pedófilo.
P-E-D-Ó-F-I-L-O!
Ou você não viu a maneira como ele olha para o bebê em uma cena tão mal construída que não possui metade do impacto que propõe?
Enfim...
Saber que há pessoas por aí que idolatram essa história de personagens com problemas psicológicos sérios e encaram tudo isso como uma prova de que o amor pode vencer barreiras, além de ser tudo perdoável pelo fato dos atores serem bonitos, me causa espanto.
Para mim, o sucesso da “Saga Crepúsculo”, principalmente de “Amanhecer”, mostram quanto às pessoas estão perdendo seu senso crítico e capacidade mínima de pensar, pois se fizessem, esses filmes não durariam muito tempo.
Não sou daqueles que acham que Hollywood seja o pior lugar do mundo e que só pensem em dinheiro, sendo incapazes de produzir bons filmes. Muito menos que esses filmes que possuem público-alvo em crianças e adolescentes sejam tolos, bobos e estúpidos, principalmente quando o assunto é roteiro.
Se assim fosse não teríamos obras-primas como “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, o primeiro“Jurassic Park”, a trilogia “Toy Story” e tantos e tantos outros.
Como cinéfilo, acredito que o cinema é sim uma grande diversão, da mesma maneira em que creio que possa ser também um lugar para pensar.
Porém, ter que engolir Edward Cullen e Bella Swan e esse amor doentio é demais para mim.
Ainda não acho que estou tão louco.
NOTA: 4,5