“O Carteiro”, de Reginaldo Faria, é um filme que sofre ao longo de sua história com uma grave crise de identidade.
Explico: com um roteiro que não consegue decidir que rumo tomar, o longa não se decide se é uma comédia ou drama ou policial e acaba, no final, sendo um grande nada.
A história mostra Victor (Carlos André Faria), um jovem carteiro da pacata cidade gaúcha de Venato. Ao lado de seu parceiro de trabalho, tem o costume de violar cartas dos moradores da região para saber da vida deles. O rapaz se apaixona pela bela Marli (Ana Carolina Machado) que tem um namorado no Rio de Janeiro com o qual se comunica através de .................. (adivinha?)......................... cartas. Ao abrir as correspondências entre o casal, Victor vai tramando maneiras de acabar com o relacionamento e conquistar a mocinha.
Através descrição da história aí em cima percebe-se que não se trata de nenhum Shakespeare ou trama revolucionária. Porém, nem todos os grandes filmes possuem histórias inovadoras (“Titanic”, “Central do Brasil”, “Um Sonho de Liberdade, “Tubarão” são bons exemplos).
Porém, a falta de rumo que “O Carteiro” mostra durante sua projeção é que o impede de ser um bom filme. Ora optando em ser uma comédia com seus momentos engraçados, como as “pegadinhas” elaboradas por Victor e seu colega de trabalho, ora querendo ser um drama com o protagonista sofrendo pelo amor de Marli, ora tentando ser um policial de quinta categoria com direito até mesmo a sequência de interrogatório, faz o filme não ter um foco, “atacando” para todos os lados e não se definindo em momento algum.
Além disso, “O Carteiro” não sabe lidar com o grande número de personagens coadjuvantes que participam da história. O caso do comerciante Joca, vivido por Zé Victor Casteli, é um ótimo exemplo.
Com uma paixão secreta por uma viúva da cidade, o personagem se torna uma pessoa simpática aos olhos do público de imediato, pois ao vermos, percebemos através de seu olhar e comportamento, o amor que não pode revelar e nos damos conta de seu sofrimento. Quando começamos a nos interessar mais pela história de Joca, porém, o roteiro escrito também por Reginaldo Faria, muda de foco e volta à história do protagonista e de outros inúmeros coadjuvantes. No momento que decide voltar, o impacto é bem menor.
Como se já não bastasse tudo isso, Reginaldo Faria ainda opta por tentar reforçar estes momentos com artifícios ridículos. Ao colocar personagens recitando poemas de maneira teatral durante uma aula com o objetivo de mostrar os dilemas de determinado personagem ou ao inserir uma sonorização de tambores do exército a cada aparição do delegado interpretado por Marcelo Faria (péssimo, diga-se de passagem) somente para mostrar a autoridade do delegado, o diretor-roteirista praticamente nos dá um certificado de incapaz de entender o que estamos vendo.
Para não falar que tudo é uma desgraça, “O Carteiro” possui boas atuações, principalmente, do protagonista do filme, o ator Carlos André Faria (também filho de Reginaldo). Versátil, o rapaz mostra que é capaz de ir do menino feliz e bagunceiro do início do filme ao jovem tenso e preocupado da parte final. Vale também destacar as atuações de Felipe de Paula, Zé Victor Casteli e Anselmo Vasconcelos.
“O Carteiro” possui boas intenções, mas falha por sua completa indecisão no rumo que a história deveria tomar. Reginaldo Faria tem talento como diretor, porém, como roteirista, ainda precisa melhorar um pouquinho mais.
NOTA: 6,0
NOTA: 6,0
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