Por Renildo Rodrigues
Quarto dia de Amazonas Film Festival, que em sua 8ª edição chega à maturidade, trazendo um elenco de produções e realizadores de alto nível, e uma disposição de firmar-se como referência para o calendário brasileiro.
Os filmes exibidos na mostra competitiva de curtas e longas deste domingo (6) não desapontaram, mas as surpresas talvez tenham ficado aquém do esperado. O começo, muito bom, foi com o curta “Sala dos Milagres”, de Cláudio Marques e Marília Hughes. Feito em cima da procissão anual de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, o filme alcança um bom equilíbrio nas aproximações entre o sensual e o sacro, a religiosidade e a cultura popular. A produção seguinte, “BraXília”, é ainda melhor. Uma pequena reflexão sobre a capital federal a partir da visão do poeta Nicolas Behr, “BraXília” faz relembrar a produção cultural da década de 1970, e ainda resgata a história “oculta” da cidade, das pessoas e lugares que normalmente não associamos a ela. O protagonista Behr também merece destaque.
O mais aguardado da noite, “O Estudante”, do diretor e roteirista argentino Santiago Mitre, é que acabou deixando a pior impressão. Não se trata de um filme ruim, muito pelo contrário. O problema é a comparação com os outros trabalhos de Mitre.
Para quem não teve a oportunidade de assistir a “Abutres” (2010) e “Leonera” (2008), do diretor Pablo Trapero, é bom que se diga logo: são dois dos trabalhos mais maduros e bem-realizados do cinema argentino recente. Nos dois, o roteiro é de Mitre. Como não poderia deixar de ser, a trama envolvente é a maior qualidade de “O Estudante”. Roque (Esteban Lamothe) entra para a Universidade de Buenos Aires, onde se envolve com a líder estudantil Paula (Romina Paula), e com ela adentra o intrincado mundo da política universitária.
Espécie de thriller sem balas, “O Estudante” traz uma proposta inteligente e um escopo épico: sua referência são os filmes que examinam uma sociedade por meio de suas figuras de poder, como as séries “O Poderoso Chefão”, “Wall Street”, ou, para usar um exemplo recente, “A Rede Social”. Se o filme de Mitre não é tão bom quanto o de David Fincher, parece ter mais a ver com a falta de recursos para a produção do que qualquer outra coisa. Há mais, porém: o texto político que percorre o filme, ainda que maduro e rico em ideias, atrapalha na identificação entre o espectador e Roque. Uma montagem mais enxuta também ajudaria.
São defeitos pequenos. No entanto, marcam uma diferença entre o trabalho de Mitre como diretor e o de seu colaborador Trapero. Vale registrar, contudo, que estamos diante do primeiro filme de Santiago, e que seu texto, cada vez mais nuançado, é um dos melhores do cinema atual. Saldo final: sem grandes surpresas, mas mantendo o alto nível da programação do Festival. Vamos ver o que nos aguarda nesta segunda-feira.
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