segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Crítica: "Os Descendentes", Alexander Payne

Por Caio Pimenta

Se uma palavra pudesse resumir “Os Descendentes” esta seria simplicidade.


Escrito e dirigido por Alexander Payne, o vencedor do Globo de Ouro de melhor filme dramático pretende ser apenas um filme que tem uma história para contar e nada mais do que isso.

Não pretende trazer grandes reflexões sobre a vida (apesar de tê-las, principalmente sobre autoconhecimento) ou a existência humana nem ser um exercício rebuscado de seus realizadores.

Basta à trama, seus personagens e saber desenvolve-los.

E é justamente por isso que reside a grande força do filme.

“Os Descendentes” mostra o drama de Matt King (George Clooney), um homem que vivia para o trabalho e, de repente, vê sua vida se transformar depois que a esposa Elizabeth King (Patricia Haste) sofre um acidente que a deixa em estado vegetativo. Ao saber que ela não tem chances de sobrevivência, Matt tenta se aproximar das duas filhas e vai descobrindo pequenos segredos de sua vida conjugal.

Com essa trama simples, Alexander Payne nos joga em um universo que poderia ser possível com qualquer um de nós, um acerto que se mostra decisivo para o sucesso do filme.


Em “Os Descendentes” não há bonzinhos ou vilões, nem grandes momentos de heroísmo muito menos personagens esteriotipados. Até mesmo na roupa, o filme mostra sua vontade de ser o mais simples possível, com os protagonistas andando de bermuda, chinelo, camisetas e blusas floridas. Porém, todos trazem problemas e conflitos que precisam ser resolvidos, assim como nós em nossas vidas.

Da mesma maneira que o roteiro mostra a força, o sacrifício e o amor que Matt tem pela família durante a jornada que acompanhamos, é possível também perceber que ele que pouco esteve presente para cuidar deles antes do acidente fatal com sua esposa. Por isso, como culpar Elizabeth pelas decisões que muitos julgariam erradas? Ou mesmo o durão pai da garota que reclama do personagem de Clooney pelos possíveis erros dele como marido?

Além disso, cada personagem é muito mais do que aparenta ser. Quando vemos a filha mais velha de Matt, Alexandra (a excelente Shailene Woodley) pensamos logo de cara: mais uma adolescente rebelde que vai ficar reclamando de tudo durante o filme! Porém, à medida que a trama vai se desenrolando, percebemos se tratar de uma garota madura, decidida e determinada, capaz de carregar o pai muitas vezes, dando a Matt coragem em momentos em que claramente este hesitaria.

O mesmo podemos ver com outros personagens da trama como o bobão, mas gente-boa Sid e o durão, porém extremamente cuidadoso sogro de Matt interpretado sensivelmente por Robert Foster.

No campo das atuações, porém, o dono do pedaço em “Os Descendentes” é George Clooney. Assim como em “Tudo Pelo Poder”, o astro volta a fazer uma grande atuação. A cena da despedida entre Matt e Elizabeth sintetiza muito bem o trabalho de um ator que consegue ir do humor elegante e discreto ao drama comovente e sem exageros.


Alexander Payne faz mais um belo gol em sua discreta, porém excelente carreira. O mesmo homem que já conseguiu dirigir os excelentes “Eleição” e “Sideways”, mostra amadurecimento com “Os Descendentes” e nos  faz lembrar como o cinema pode e deve ser simples:  boa história com ótimos personagens,  grandes atores e um ótimo diretor.

Tudo isso resulta em um grande filme.
 
Nota: 8,0

domingo, 29 de janeiro de 2012

Crítica: Millennium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Por César Nogueira



Os créditos iniciais de Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres são rápidos e feitos em computação gráfica. Além disso, têm como música de fundo uma versão pesada de Immigrant Song, do Led Zeppelin. Essa combinação pode nos sugerir que o novo filme de David Fincher se concentra na ação e na violência. Apesar delas se destacarem em Millennium, o foco e as maiores qualidades do filme são os personagens e a narrativa.



O filme começa com o jornalista Mikael Blomqvist (Daniel Craig) tentando resolver sua vida depois de ter perdido a credibilidade com uma matéria em que denunciava um magnata sueco. Por causa do ocorrido, resolve sair da revista Millennium por respeito a ela e para pensar na vida. Estava desolado, mas eis que surge o milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer), que o contrata para investigar um assassinato (ou seria sumiço?) que aconteceu há quarenta anos na sua família, que é cheia de nazistas e loucos. Paralelamente, vemos a hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara) lutando pela sua emancipação e, aos poucos, se aproximando das investigações de Mikael.



Millennium fala sobre como fantasmas do passado nos atormentam e como a civilidade e a sofisticação podem camuflar a desumanidade e a mesquinharia. Tal como fez em A Rede Social e Clube da Luta, David Fincher nos apresenta personagens inteligentes e racionais, porém deslocados do mundo e atormentados. Até coadjuvantes reforçam essa ideia. Por exemplo, Nils Bjurman (Yorick van Wageningen) é um funcionário público que disfarça o monstro que é com uma fachada de cidadão de bem. Porém, e felizmente, a maior parte do brilho da obra fica mesmo por conta de Lisbeth e Mikael.



Lisbeth sofreu muito na vida, tem um visual diferente e é um prodígio da informática. Ao mesmo tempo, ela tem fragilidades não só porque é magrinha e pequena, mas também por causa de suas inseguranças e medos. Rooney Mara faz uma atuação contida, assim como todos os outros atores, e expressa os conflitos de Lisbeth com olhares mais fortes que qualquer careta. Sentimos sua força desde o primeiro momento que a vemos de frente, com seu olhar “preso” atrás de persianas.



Daniel Craig vem se mostrando um ator versátil. Ao contrário de muitos colegas seus, ele se entrega e se adapta ao personagem, em vez de apenas emprestar suas idiossincrasias ao papel. Vemos o jornalista Mikael Blomqvist, e não o Daniel Craig usando óculos e nem, muito menos, o 007.



O filme tem sequências pesadas e dura quase três horas, mas flui com leveza por causa, em grande parte, do seu senso de humor. Cenas de tortura e estupro são imediatamente aliviadas com tiradas cretinas; em um certo momento, Lisbeth pede autorização de Mikael para matar o antagonista. Há até easter eggs, como o forncedor da hacker que usa uma camisa com estampa do Nine InchNails, banda de Trent Reznor, compositor das trilhas-sonoras de A Rede Social e Millennium.



Originalmente, Millennium é um best-seller do escritor Stieg Larsson que já foi levado aos cinemas numa produção sueca de 2009. O primeiro filme se concentra na questão dos imigrantes, leva-se muito a sério e demora demais para fechar suas pontas depois do clímax. Por outro lado, a versão de Fincher prioriza os conflitos psicológicos em vez dos políticos, tem senso de humor (cretino) e resolve seus conflitos depois do ápice com mais agilidade, apesar de ainda se estender mais que o desejado.

Ainda é cedo para dizer o lugar de Millennium na filmografia de David Fincher. Seguramente, não é o mais fraco de sua carreira e leva vantagem na comparação com sua versão europeia. O filme nos mostra com clareza que a nacionalidade não importa muito na hora de se contar uma história. Por isso, não me venha com aquela de que filme europeu é superior a Hollywood e ponto. 



NOTA: 8,5

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 27 de Janeiro

Filme: Os Descendentes
Diretor: Alexander Payne
Elenco: George Clooney, Judy Greer, Shailene Woodley
Sinopse: Matt King (George Clooney) é um marido indiferente e pai de duas meninas, que é forçado a reexaminar seu passado e abraçar seu futuro depois que sua esposa sofre um acidente de barco em Waikiki. O trágico acontecimento acaba por aproximar Matt das filhas, o que o ajuda na difícil decisão de vender um terreno herdado da família.
Onde: Cinemark, Cinemais e Playarte

Filme: J. Edgar
Diretor: Clint Eastwood
Elenco: Leonardo DiCaprio, Josh Hamilton, Geoff Pierson
Sinopse: Cinebiografia sobre o ex-diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), que mostra tanto sua escandalosa carreira, marcada por uma administração dura do FBI e casos de chantagem, quanto seu duradouro romance com Clyde Tolson (Armie Hammer).
Onde: Cinemark, Cinemais e Playarte

 
Filme: Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Diretor: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rommey Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård
Sinopse: Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é um jornalista econômico determinado a restaurar sua honra, depois de ser condenado na justiça por difamação. Contratado por um dos industriais mais ricos da Suécia, Henrik Vanger (Christopher Plummer), para investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet (Moa Garpendal), há 36 anos, ele se muda para uma ilha remota na costa gelada da Suécia sem saber o que o aguarda. Ao mesmo tempo, Lisbeth Salander (Rooney Mara), hacker da Milton Security, é contratada para levantar a ficha e os antecedentes de Blomkvist, missão que será o ponto de partida para que ela se una a Mikael na investigação de quem matou Harriet.
Onde: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: A Beira do Abismo
Diretor: Asger Leth
Elenco: Elizabeth Banks, Sam Worthington, Jamie Bell
Sinopse: Um ex-policial (Sam Worthington) procurado pela justiça resolve se matar pulando do alto de um prédio de Nova York. Uma vez notificada, a polícia da cidade se mobiliza para tentar impedir que ele acabe com a própria vida, levando para o local inclusive uma policial psicóloga (Elizabeth Banks) especialmente requisitada por ele. O que ela percebe, à medida que conversa com o homem no parapeito do prédio, é que tudo o que está acontecendo ali parece cada vez mais um jogo de cena, mas, para acobertar exatamente o quê?
Onde: Cinemark, Cinemais e Playarte

Filme: Forças Especiais
Diretor: Stéphane Rybojad
Elenco: Diane Kruger, Djimon Hounsou, Benoît Magime
Sinopse: Elsa (Diane Kruger), uma jornalista francesa, é raptada por um líder do Talebã que coloca um vídeo na internet determinando a data de execução da mulher. Investigações apontam que o cativeiro está localizado em um território sem lei, próximo ao Paquistão. Uma unidade de elite militar, com seis homens, é enviada ao local para tentar o resgate. O problema, porém, não é recuperar a jornalista, mas sim retirar-se do local com vida.
Onde: Playarte

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Premiados, injustiçados, e um pouco da história do Oscar®

por Jéssica Santos



Os mais prestigiados



James Cameron era, de fato, “o rei do mundo”, como gritou ao receber o Oscar® de melhor filme, por Titanic, em 1997. Seu filme ganhou onze das catorze estatuetas a que havia sido indicado. 14 indicações é um número expressivo, também alcançado por A malvada, que só levou seis. Ben-hur (1959) e O Senhor dos Anéis 3 (2003) ganharam, como Titanic, onze prêmios Oscar®.



Cameron é o diretor responsável pelos dois filmes mais rentáveis de todos os tempos.



 Ele já ganhou cinco estatuetas por efeitos especiais, por seus aclamados filmes: Aliens, o resgate (1986), O segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 (1991), Titanic (1997) e Avatar (2009).
O mais indicado, que levou menos prêmios foi O curioso caso de Benjamim Button (2008). O filme concorria em 13 categorias e levou apenas 3 estatuetas. Já A cor púrpura (1985) não levou nenhum prêmio dos 11 a que concorria.


Walt Disney tem o maior número de indicações ao Oscar, de todos os tempos: 64.




As longas histórias vencedoras


...E o vento levou (1939) tem 3h 42 minutos, e Lawrence da Arábia (1962), 3h 36 minutos. Ambos ganharam o prêmio de melhor filme, e foram, também, os mais longos filmes a ganhar o Oscar®.

Os atores mais reconhecidos


Jack Nicholson e Meryl Streep estão todo ano, na cerimônia do Oscar®. E não é á toa: ele já foi indicado doze vezes, e ganhou três. Ela já foi indicada 16 vezes e venceu apenas duas.
Porém, ninguém superou Katharine Hepburn, que recebeu quatro vezes o prêmio de melhor atriz.



A mais precoce e a incansável


A pessoa mais jovem a ganhar o Oscar® foi Tatum O ‘Neal, que recebeu aos dez anos o prêmio de melhor atriz coadjuvante, por Lua de papel (1973). Jessica Tandy foi a atriz mais idosa a receber o prêmio, aos oitenta anos, por Conduzindo Miss Daisy.



Injustiçados


Laranja mecânica (1971, de Stanley Kubrick), Janela Indiscreta (1954, de Alfred Hitchcock), e Luzes da cidade (1931, de Charles Chaplin) são obras-primas de gênios do cinema, que não ganharam o Oscar®. Os renomados diretores jamais receberam o prêmio de melhor filme.


Outros filmes brilhantes, que não venceram: Cidadão Kane (1941), Cantando na Chuva (1952), Apocalypse Now (1979), e Taxi Driver (1976).





Pouco público, muito prestígio

Guerra ao terror (2008) teve apenas US$ 16 milhões de faturamento e levou o Oscar® de melhor filme. Outros vencedores da categoria mais importante também tiveram renda fraca nos cinemas: Crash – no limite (2004) teve US$ 55 milhões, e Onde os fracos não tem vez (2007) teve US$ 74 milhões de renda.



Ganharam o que realmente importa


Os únicos filmes a vencer o Oscar®, nas categorias principais do prêmio (melhor filme, direção, roteiro, ator e atriz), foram Aconteceu naquela noite, Um estranho no ninho e O silêncio dos inocentes.
Os únicos filmes vencedores do Oscar de melhor filme a levar apenas uma estatueta foram Melodia na Broadway, O Grande Motim e Grand Hotel, sendo que este último não foi indicado a mais nenhuma categoria.

O personagem mais aclamado

Vito Corleone foi o único personagem que deu o Oscar® a dois atores que o interpretaram. Primeiramente, com Marlon Brando (O Poderoso Chefão, 1972), considerado o melhor ator de todos os tempos.



 Depois, com Robert de Niro, que fez o jovem Vito, dois anos mais tarde. Ele foi considerado o melhor ator vivo hoje, pelo sindicato americano da categoria.



A mais grata



O maior número de pessoas citadas no agradecimento feito após ganharem a estatueta do Oscar ocorreu na cerimônia de 1947, quando Olivia de Havilland ganhou o seu prêmio como melhor atriz pelo desempenho no filme de 1946 Só resta uma lágrima, e agradeceu a 27 pessoas.


Quanto vale uma estatueta?



Num leilão em 1993, a estatueta ganha pela atriz inglesa Vivien Leigh em 1940, como melhor atriz pelo filme ...E o vento levou, foi arrematada por 562 mil dólares.

Quem venceu, afinal?


Em toda a história da premiação, houve apenas dois empates: em 1933 Wallace Beery (O campeão) e Fredric March (O Médico e o Monstro) dividiram o prêmio de melhor ator. Em 1969, foi a vez de Barbra Streisand (Funny Girl) e Katharine Hepburn (O Leão no Inverno) dividirem o de melhor atriz. Na época, era considerado empate um resultado que desse uma diferença de até três votos entre os mais votados. Hoje, o empate se tornou muito mais difícil porque o número de votos precisa ser rigorosamente igual.

Aqueles que recusaram o prêmio


Dois grandes atores já rejeitaram o tão almejado Oscar®: George C. Scott e Marlon Brando. Scott, premiado por Patton, avisou antes que não aceitaria se ganhasse, porque não acreditava em competição entre atores. Ganhou assim mesmo e não aceitou receber. Brando, que já havia sido premiado em 1955, por Sindicato de Ladrões e aceitou, mandou uma índia de nome Sacheen Little Feather representá-lo na entrega dos prêmios de 1973, que lhe deu o segundo Oscar por O Poderoso Chefão.


 Sacheen subiu ao palco na hora do anúncio da vitória de Brando – feito por Liv Ullman e pelo então novo 007, Roger Moore - recusou o prêmio em nome dele e deixou a plateia e o público televisivo furiosos, com um discurso escrito pelo ator contra a opressão sofrida pelo índio norte-americano. Tempos depois, descobriu-se que a "índia" era na verdade uma dançarina do Texas que acabou posando para a revista Playboy.

Incrível!


A série cinematográfica de sucesso, "Harry Potter", nunca ganhou um Oscar em seus sete primeiros filmes. Resta apenas o último: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2. A série é a franquia cinematográfica com a maior bilheteria de todos os tempos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Favoritos, Milagres e Injustiças do Oscar 2012

Chegou a melhor época do ano para os cinéfilos: palpitar sobre quem deveria ser o vencedor do Oscar, o que significa assistir uma quantidade imensa de filmes.

Um sacrifício!

Os chatos que só gostam de cinema europeu e esnobam os filmes americanos ou que consideram o prêmio uma tolice ou os que acham Hollywood o maior vilão da sétima arte é claro que não vão concordar, mas aposto que mesmo estes dão suas “espiadas” na lista dos indicados. Mesmo que para criticar.

O prêmio em si não é tão legal, é verdade. Porém, o Oscar serve como um guia para vermos filmes e discutir sobre eles. Coisa que quem é cinéfilo ama.

Pois bem!

A lista dos indicados trouxe algumas surpresas, mas nada demais do que já era esperado.

O mais surpreendente, na minha visão, foi a escolha da Academia de Hollywood de eleger apenas nove longas para a categoria de Melhor Filme e a redução drástica no número de músicas indicadas para Melhor Canção: duas!

A seguir, uma analisada nesta lista dos indicados ao OSCAR 2012 com os injustiçados, os milagres e quem não deveria estar.


MELHOR FILME

"O Artista"
"Os Descendentes"
"Histórias Cruzadas"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Meia-Noite em Paris"
"O Homem que Mudou o Jogo"
"Cavalo de Guerra"
“A Árvore da Vida”
“Tão forte e Tão perto”


Favorito: “O Artista” sai na frente devido à força que traz da temporada de premiações. Porém, “Hugo” ganhou força e tem Martin Scorsese. Já “Histórias Cruzadas” aposta em um tema amado pela Academia (superação de barreiras) e o apoio do público americano.

Milagre: que bom ver “A Árvore da Vida” indicado na categoria principal. O Oscar corrigiu os erros do Globo de Ouro que simplesmente esqueceu o melhor filme de 2011.

Oi?!: “Tão Perto e Tão Longe” tem um marketing muito forte. Somente isso explica sua inclusão na categoria. Não que o filme seja ruim (nem vi, para ser honesto), porém, era um longa que estava totalmente esquecido na temporada de premiações e nem muito cotado para figurar nesta lista. Mostra o carinho que a Academia tem por Stephen Daldry.

Injustiça: Como sobrou uma vaga, bem que a Academia poderia brindar David Fincher com uma lembrança por “O Homem que Não Amava às Mulheres” ou o lado político de George Clooney em “Tudo Pelo Poder”.



MELHOR DIREÇÃO

Martin Scorsese, "A Invenção de Hugo Cabret"
Woody Allen, "Meia-Noite em Paris"
Michel Hazanavicius, "O Artista"
Alexander Payne, "Os Descendentes"
Terrence Malick, "A Árvore da Vida"


Favorito: peguem o foice e comecem a lutar. De um lado no corner está um dos maiores cineastas da história e injustiçado histórico do Oscar: Martin Scorsese! Do outro, o diretor do filme do momento e com um belíssimo trabalho em mãos: Michel Hazanavicius.

Milagre: deixar Terrence Malick fora seria um crime de lesa-pátria ao cinema. Ainda bem Academia, ainda bem!

Justiça:
Deixar Steven Spielberg por “Cavalo de Guerra” de fora. Não merecia o homem que fez “Jurassic Park”, “Indiana Jones” e “A Lista de Schindler” ser indicado por este filme.

Curiosidade: Lista é igualzinha a do Globo de Ouro deste ano.


MELHOR ATOR

Demian Bichir, "A Better Life"
George Clooney, "Os Descendentes"
Jean Dujardin, "O Artista"
Brad Pitt, "O Homem que Mudou o Jogo"
Gary Oldman “O Espião que Sabia Demais”


Favorito: George Clooney, mesmo com Dujardin na cola. O astro hollywoodiano vem crescendo como ator, tem um enorme carisma tanto entre o público, crítica e meio cinematográfico, além de ser um cara engajado politicamente. Sim, meus caros: atuação no Oscar não basta.

Milagre: Gary Oldman tem um papel meticuloso em “O Espião que Sabia Demais”. Nada mais justo ele ter conseguido superar Michael Fassbander e Leonardo Di Caprio na última hora e conseguido uma indicação, a primeira em uma brilhante carreira.

OI?: quem apostaria em Demian Bichir ser indicado em uma categoria que tem alguns dos maiores astros do cinema americano? O México já pode comemorar.

Injustiça: há dois caras que a Academia não gosta: Jim Carrey e Leonardo Di Caprio. O primeiro é visto como um careteiro (um besteira e quem viu “O Show de Truman” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” sabe); já Di Caprio é uma incógnita. Mais uma vez desprezado pelo Oscar.


MELHOR ATRIZ

Glenn Close, "Albert Nobbs"
Viola Davis, "Histórias Cruzadas"
Meryl Streep, "A Dama de Ferro"
Michelle Williams, "Sete Dias com Marilyn"
Rooney Mara , "Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres"



Favorita: Meryl Streep e Viola Davis disputam acirradamente a estatueta. Porém, a protagonista de “A Dama de Ferro” deve vencer devido a seu impressionante histórico de derrotas recentes (nada mais que 12 perdas em 28 anos).

OI?!: nem Rooney Mara esperava essa indicação por "Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres", principalmente se formos analisar que ela “roubou” a vaga de Tilda Swinton por “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Que aproveite o luxo de ser indicada ao lado de nomes como Streep e Gleen Close.

Injustiça: se Lars Von Trier não tivesse falado besteira em Cannes, pode ter certeza: Kristen Dunst estaria indicada ao Oscar por “Melancolia”. Somente um boicote da Academia a tudo que se referisse ao filme explica sua ausência da lista.


MELHOR ATOR COADJUVANTE


Kenneth Branagh, "Sete Dias com Marilyn"
Jonah Hill, "O Homem que Mudou o Jogo"
Nick Nolte, "Guerreiro"
Christopher Plummer, "Toda Forma de Amor"
Max von Sydow, “Tão Forte e Tão Perto”


Favorito: Christopher Plummer tem e vai ganhar por sua brilhante atuação em “Toda Forma de Amor”. Vá na locadora ou faça o download e saiba porque!

Milagre: quem te viu, quem te vê Jonah Hill? O gordinho atrapalhado de “Superbad” indicado ao Oscar? Evolução, hein! Parabéns!

Injustiça: a maioria das pessoas pediam por Andy Serkis na categoria devido a sua ótima atuação em “Planeta dos Macacos – A Origem”. Porém, admito, que gostaria de ver Aln Rickman por “Harry Porter” nesta categoria. Sua atuação é brilhante em toda série, principalmente em “Relíquias da Morte – Parte II”.


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


Bérénice Bejo, "O Artista"
Jessica Chastain, "Histórias Cruzadas"
Melissa McCarthy, "Missão Madrinha de Casamento"
Janet Mcteer, "Albert Nobbs"
Octavia Spencer, "Histórias Cruzadas"


Favorita: Octavia Spencer já ganhou. Próxima disputa!

OI?: imagino o susto que Melissa McCarthy teve quando começou a perceber que poderia estar na lista do OSCAR. Afinal de contas, você fazer um filme bobinho como “Missão: Madrinha de Casamento” (diga-se de passagem, uma boa comédia) e parar na maior festa do cinema mundial, mostra que você fez bem o seu trabalho.

Injustiça: Jessica Chastain não ser indicada por “A Árvore da Vida” e sim por “Histórias Cruzadas”. Sensibilidade zero dos membros da Academia.



MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

"Meia-Noite em Paris" (Woody Allen)
"Missão Madrinha de Casamento" (Annie Mumolo e Kristen Wiig)
"O Artista" (Michel Hazavanicius
“Margin Call” (J.C. Chandor)
“A Separação” (Asghar Farhadi )


Favorito: apesar de “O Artista” querer atrapalhar, Woody Allen deve levar sua estatueta dourada pelo brilhante “Meia-Noite em Paris”. Aliás, vão ter que entregar o prêmio, pois ele não vai para a festa mesmo.

Milagre: “A Separação” repete um feito de “Cidade de Deus”: ter o roteiro indicado, mesmo sendo um filme não-inglês. Viva a diversidade.

OI?: Ignorado nas outras categorias, “Margin Call” surgiu aqui de intrometido. Uma boa prova que os americanos ainda estão traumatizados com a crise econômica que atingiu o país em 2008.

Injustiça: o delicioso roteiro de “Toda Forma de Amor” e o complexo e estranho texto de “A Árvore da Vida” ficarem de fora, é uma pena.


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

"Os Descendentes" (Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash)
"A Invenção de Hugo Cabret" (John Logan)
"O Homem que Mudou o Jogo" (Steven Zaillian e Aaron Sorkin)
"Tudo pelo Poder" (George Clooney, Grant Heslov, Beau Willimon)
"O Espião que Sabia Demais” (Bridget O'Connor e Peter Straughan)


Favorito: sem chances na categoria de Melhor Diretor, Alexander Payne deve ganhar aqui com “Os Descendentes”. Porém, é bom ficar de olho em “A Invenção de Hugo Cabret” e todas suas homenagens ao cinema.

Justiça: ainda não vi “Histórias Cruzadas”, porém no meio de tantos filmes fortes como os deste ano, seria uma pena desperdiçar uma indicação com esta história com cara de que já vimos em algum lugar (se você viu o trailer, sabe muito bem do que falo).


MELHOR ANIMAÇÃO

“Um Gato em Paris”
“Chico e Rita”
“Kung Fu Panda 2”
“Gato de Botas”
“Rango”


Favorito: sem “Tintim”, “Rango” tem a estatueta nas mãos.

OI?!: “Kung Fu Panda 2” está indicado? OI?!

Injustiça: “Rio” e “As Aventuras da Tintim” ficarem de fora mostra a falta de seriedade da Academia neste ano para com esta categoria.

Milagre: no meio de tantos erros, a ausência de “Carros 2” é um consolo. A Pixar deveria apagar este filme de sua quase irretocável filmografia.


MELHOR FILME ESTRANGEIRO

"Bullhead" - Michael R. Roskam (Bélgica)
"Monsieur Lazhar" - Philippe Falardeau (Canadá)
"A Separação" - Asghar Farhadi (Irã)
"Footnote" - Joseph Cedar (Israel)
"In Darkness" - Agnieszka Holland (Polônia)


Favorito: “A Separação” não vai dar chances aos indicados.

Injustiça: é impossível não lamentar “Tropa de Elite 2” na lista. A não ser que só tenha clássicos entre os cinco indicados (o que não acredito), é triste o Brasil ter ficado de fora mais uma vez do Oscar.


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

"Man or Muppet", de "Os Muppets" - música e letra de Bret McKenzie
"Real in Rio", de "Rio" - música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown e letra de Siedah Garrett


Favorito: “Man or Muppet”, principalmente porque o filme estava cotadíssimo para essa categoria e só ficou com uma indicação.

OI?!: Dois indicados? É um boicote da Academia à categoria? Somente isso explica tamanha miséria nas indicações. Houve anos bem piores em que mais músicas foram escolhidas. Por que isso agora?

Justiça:
“Rio” tinha que ser indicado para alguma coisa. Era o mínimo pela esnobada na categoria de Melhor Animação.



DIREÇÃO DE ARTE

"O Artista" (design de produção: Laurence Bennett; decoração do set: Robert Gould)
"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" (design de produção: Stuart Craig; decoração do set: Stephenie McMillan)
"A Invenção de Hugo Cabret" (design de produção: Dante Ferretti; decoração do set: Francesca Lo Schiavo)
"Meia-Noite em Paris" (design de produção: Anne Seibel; decoração do set: Hélène Dubreuil)
"Cavalo de Guerra" (design de produção: Rick Carter; decoração do set: Lee Seales)

Favorito: "A Invenção de Hugo Cabret"

Injustiça:
“O Espião que Sabia Demais”

Milagre: "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2"



DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA

"O Artista" (Guillaume Schiffman)
"Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (Jeff Cronenweth)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Robert Richardson)
"A Árvore da Vida" (Emmanuel Lubezki)
"Cavalo de Guerra" (Janusz Kaminski)


Favorito: "O Artista"

Justiça: "A Árvore da Vida"

Injustiça: “O Espião que Sabia Demais”



MELHOR FIGURINO

"Anonymous" (Lisy Christl)
"O Artista" (Mark Bridges)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Sey Powell)
"Jane Eyre" (Michael O'Connor)
"W.E." (Arianne Phillips)


Favorito: “Jane Eyre”

Injustiça:
“O Espião Que Sabia Demais”



MELHOR EDIÇÃO

"O Artista" (Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius)
"Os Descendentes" (Kevin Tent)
"Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (Kirk Baxter e Angus Wall)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Thelma Schoonmaker)
"O Homem que Mudou o Jogo" (Christopher Tellefsen)


Favorito: “A Invenção de Hugo Cabret"

Injustiça: “A Árvore da Vida”



MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL

"As Aventuras de Tintim" (John Williams)
"O Artista" (Ludovic Bource)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Howard Shore)
"O Espião que Sabia Demais" (Alberto Iglesias)
"Cavalo de Guerra" (John Williams)


Favorito:
"O Artista"

Injustiça: John Williams indicado duplamente por duas trilhas fracas.


EDIÇÃO DE SOM

"Drive" (Lon Bender e Victor Ray Ennis)
"Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (Ren Klyce)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Philip Stockton e Eugene Gearty)
"Transformers: O Lado Oculto da Lua" (Ethan Van der Ryn e Erik Aadahl)
"Cavalo de Guerra" (Richard Hymns e Gary Rydstrom)


Favorito: "Cavalo de Guerra"

Injustiça: qualquer indicação para “Transformers” é uma injustiça.

Detalhe: na minha opinião, essa é uma categoria em que os jurados escolhem os mais barulhentos. Não é à toa que “Transformers” está aí.



MIXAGEM DE SOM

"Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Tom Fleischman e John Midgley)
"O Homem que Mudou o Jogo" (Deb Adair, Ron Bochar, Dave Giammarco e Ed Novick)
"Transformers: O Lado Oculto da Lua" (Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin)
"Cavalo de Guerra" (Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson)


Favorito: "A Invenção de Hugo Cabret"

Injustiça: qualquer indicação para “Transformers” é uma injustiça.

Detalhe: na minha opinião, essa é uma categoria em que os jurados escolhem os mais barulhentos. Não é à toa que “Transformers” está aí.



EFEITOS VISUAIS

"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" (Tim Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson)
"A Invenção de Hugo Cabret" (Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Hennemg)
"Gigantes de Aço" (Erik Nash, John Rosengrant, Dan Taylor e Swen Gillberg)
"Planeta dos Macacos: A Origem" (Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett)
"Transformers: O Lado Oculto da Lua" (Scott Farrar, Scott Benza, Matthew Butler e John Frazier)


Favorito: "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" como prêmio de consolo e reconhecimento por tudo que representou para o cinema. Além disso, os efeitos são muito bons.


Injustiça: qualquer indicação para “Transformers” é uma injustiça.



MELHOR MAQUIAGEM

"Albert Nobbs" (Martial Corneville, Lynn Johnston e Matthew W. Mungle)
"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" (Edouard F. Henriques, Gregory Funk e Yolea Toussieng)
"A Dama de Ferro" (Mark Coulier e J. Roy Helle)


Favorito: "A Dama de Ferro"

domingo, 22 de janeiro de 2012

Crítica: 2 Coelhos

Por César Nogueira

2 Coelhos foi vendido para mim como o “Sucker Punch brasileiro”. Por isso, liguei o meu desconfiômetro na hora. Afinal, o filme de Zack Snyder se preocupa com a estetização e o ritmo de videoclipe a ponto de se esquecer de contar uma história e de ter personagens carismáticos. Sucker Punch entrou em listas de piores filmes de 2011 e, por isso, não seria uma referência cinematográfica positiva. Mas, pelo visto, acompanhado pelos filmes do Tarantino, o foi. Infelizmente, as minhas expectativas em relação a 2 Coelhos se concretizaram. Com exceção da parte das listas, toda a descrição da produção americana se encaixa perfeitamente no filme nacional.



O filme escrito e dirigido por Afonso Poyart conta como o playboy Edgar (Fernando Alves Pinto, que parece o Paulo Miklos até nos cacoetes de expressão) pretende roubar uma maleta com dois milhões de dólares e, assim, dar uma lição nos corruptos e ter uma vida mansa longe da sua cidade, São Paulo. De ladrões da periferia a um político corrupto querem o dinheiro. Na busca pelos dólares, haverá muitas explosões, perseguições de carros, tiroteios e traições. Os maiores trunfos da história são a sua estética, até então inédita no cinema nacional, e a narrativa que brinca com seus elementos narrativos e sua não-linearidade. Os efeitos visuais, como as animações em 3D, impressionam num primeiro momento por causa da sua qualidade técnica. Infelizmente, observando o todo, eles apenas envernizam com cultura pop a sucessão de incoerências da história.

Planos longos em 2 Coelhos têm cinco segundos. Isso não é uma crítica.

Exemplos delas não faltam. Velinha (Thaíde) assalta Edgar e, numa Síndrome de Estocolmo sem sentido, o protagonista vai atrás dele, liberta-o da prisão e propõe-lhe uma parceria para conseguir a maleta. Edgar tem um Iphone e uma BMW, mas não tem sequer uma muda de roupa no seu apartamento de luxo. Esta informação causa um reviravolta no terceiro ato. Pois é.

Outra incoerência é Walter (Caco Ciocler). O professor universitário larga o seu emprego depois de uma tragédia da história e aceita trabalhar no restaurante do pai do seu desafeto Edgar sem nenhuma razão plausível. Além disso, seu brinco é constantemente realçado e contribui em nada para o desenvolvimento dele e nem para a história como um todo. A incoerência em Júlia está na escolha de Alessandra Negrini para dar-lhe vida. A linda atriz desempenha com profissionalismo o papel da advogada jovem, bem-sucedida e com um toque de ninfeta. Mas Júlia seria mais plausível se fosse vivida por uma atriz mais jovem. Isso porque, ao observarmos as mãos e as rugas de Negrini, percebemos que a idade está chegando aos poucos para ela...



Todas essas incoerências são vividas por personagens que não se passam de tipos. Os conflitos e motivações de Edgar procuram chocar o público, mas se tornam justificativas pouco convincentes para explosões e violência. Seus offs podem até incomodar com seu rebuscamento e frases de efeito sem efeito. Júlia é bonita, charmosa e só. A canastrice dos vilões é tragicômica, porque suas caras e bocas de badguys são involuntariamente engraçadas. A exceção é Walter. Caco Ciocler não deixa transformar a variação e a intensidade de suas emoções e dramas do personagem em um simples golpe de efeito do roteiro.

Copiar o modelo de Hollywood não seria um problema. Mas não amarrar bem uma história...

Câmeras DSLR foram usadas em 2 Coelhos. Sua fotografia aproveita a sensibilidade do foco do equipamento e brinca com a profundidade de campo. O resultado, interessante, direciona o olhar do espectador e contribui para seu ritmo acelerado. Mas a sensibilidade da câmera também desfoca personagens quando não seria necessário. Há planos em que o foco está na parede atrás das pessoas. O diretor de fotografia Carlos Zalasik acertou ao prioziar o tom cinza, para simbolizar a frieza de São Paulo e do mundo-cão. Mas ele criou muitos planos com elementos sujos e inúteis. Por exemplo, a conversa de Edgar com o pai no restaurante tem linhas e ângulos que não signficam nada e tiram a atenção do que realmente importa na cena. Zalasik escolheu certos filtros que também não contribuem para o desenvolvimento da história. O dourado da procuradoria, além de não acrescentar nada, dói na vista.


2 Coelhos seguiu à risca a receita pop de Sucker Punch e a estetização da violência dos filmes de Tarantino. Mas o seu roteiro não é bem amarrado o suficiente e, assim, suas reviravoltas não alcançam o impacto esperado. Seu grande feito estaria na sua ousadia e na comprovação de que o cinema nacional atingiu um nível internacional de produção e habilidade técnica. Mas não mostrou nada mais do que isso e uma vontade de ser hollywoodiano a pulso. Como diria o meu amigo Caio Pimenta, 2 Coelhos é um filme que você esquece depois de descer o primeiro lance de escadas-rolantes.

Pelo menos não as desceríamos ofendidos, como aconteceu quando saímos da sessão de Segurança Nacional.

NOTA: 7,0

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crítica: As Aventuras de Tintim

Por César Nogueira

Tintim é uma história em quadrinhos criada pelo belga Hergé em que um jornalista entra em altas aventuras por causa das matérias. Admirada em todo o mundo, a obra ganha uma versão cinematográfica dirigida por Steven Spielberg e co-produzida por Peter Jackson. As Aventuras de Tintim honra a HQ com uma história bem-amarrada e mostra que Spielberg é grande mesmo quando se repete.


O diretor usou a técnica motion-capture para transpor as emoções dos atores para a animação, que mistura expressões faciais e ambientes realistas com corpos de desproporção cartunesca. Dessa forma, acompanhamos uma aventura em que o jornalista (no original, sua voz é a de Jamie Bell, de Billy Elliot), acompanhado pelo seu cãozinho Milou, apura uma matéria que envolve tesouros perdidos, viagens para o norte da África, milionários, Interpol e sede de vingança que atravessa gerações. Tudo isso aconteceu depois de um singelo passeio por uma praça, onde comprou um navio em miniatura muito importante para o capitão Haddock (Andy Serkis, o eterno Gollum) e para o vilão Sahkarine (Daniel Craig).


Spielberg conta uma história sem pontas soltas, incoerências nem forçadas de barra. Mesmo os acontecimentos paralelos, como o cleptomaníaco, contribuem para o desenvolvimento da história e não tomam mais tempo que o necessário. A fotografia e montagem são eficientes como o roteiro. Os closes, particularmente nos objetos, e os reflexos, graças à sua funcionalidade, não são só exercícios de estilo. A câmera ajuda a reforçar sensações, como quando ela reforça com tremedeiras o raciocínio tortuoso que  Haddock faz até chegar a uma informação importante. Destaca-se também o plano-sequência da perseguição à águia. As transições, elegantes, usam poças d'água e semelhanças na forma e nos movimentos. A cena em que  Haddock se lembra da informação importante usa várias dessas transições e foi montada de um jeito que também reforce sua caminhada pelos labirintos da memória.



As piadas também funcionam, mesmo que apelem para tipos e para o pastelão, e são embaladas num clima de matinê, onde tudo dá certo no último segundo. Isso porque a influência de Indiana Jones é notória: substitua a arqueologia pelo jornalismo, tire alguns anos do Dr. Jones, dê-lhe um topete ruivo, mantenha o estilo de fotografia e montagem e, assim, teremos Tintim. Indy já foi comparado anteriormente ao jornalista. Para Spielberg, talvez não haveria melhores referências nem outros caminhos a serem seguidos senão olhar para a sua própria filmografia quando foi dirigir “Tintim”. Mesmo assim, a sensação de estarmos vendo um episódio de Indiana Jones feito em animação, com um 3D que não influi nem contribui e sem nenhuma grande inovação em relação aos filmes anteriores é grande.

Os créditos iniciais, a piadinha do auto-retrato do início do filme e expressões como “carambolas” homenageiam a HQ.


O Caio Pimenta não achou "Cavalo de Guerra" ruim, mas esperava mais dele por ser um filme de Spielberg. Talvez “As Aventuras de Tintim” desperte o mesmo sentimento no Caio e em outras pessoas que partilham de sua opinião. Compreendo-os, mas penso de outra maneira. Spielberg dirigiu “Tintim” fazendo o feijão-com-arroz, mas acertou nos temperos. O filme não vai mudar a história do cinema. Talvez nem ganhe relevo na carreira do diretor. Mesmo assim, diverte e, para mim, um básico bem-feito do Spielberg vale mais que o ápice de muitos. Talvez a situação fique problemática mesmo se ele insistir nesses rescaldos nas continuações de Tintim. Afinal, tudo em excesso enjoa.


NOTA: 7,5.