Por Renildo Rodrigues
Um dos eventos cinematográficos de 2012 é a estreia de
Prometheus, nova incursão do diretor Ridley Scott pelo gênero que o consagrou: a ficção científica.
Responsável por alguns dos clássicos do gênero, como
Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e
Blade Runner – o Caçador de Androides (1982 –
saiba mais abaixo), Scott, com
Prometheus, vem alimentando expectativas por uma revolução comparável à desses dois filmes.
Embora remeta a cenários futuristas, explosões e efeitos especiais
elaborados, a ficção científica é um gênero tão antigo quanto o próprio
cinema.
Um dos primeiros filmes, aliás, a empregar técnicas de edição
e efeitos especiais foi
Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès, trabalho seminal recentemente homenageado no filme
A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorsese.
O auge do gênero se deu entre as décadas de 50 e 60, inspirado pela
corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética. Desde então,
entre altos (poucos) e baixos (muitos), a ficção científica continua a
produzir algumas das genuínas manifestações de criatividade de uma
indústria tão afeita à repetição.
Veja:
5. Metrópolis (1927)
Se
Viagem à Lua foi um salto para uma arte ainda em seus primórdios,
Metrópolis marca o auge do período mudo do cinema. A obra-prima de Fritz Lang (
M – O Vampiro de Düsseldorf)
imagina um futuro decadente, em que a elite vive literalmente no céu
(os efeitos de naves voando são surpreendentes para um filme tão antigo)
e a ralé, mais literalmente ainda, no chão.
Quando Freder (Gustav Fröhlich), filho do homem mais poderoso da
cidade, se apaixona pela proletária Maria (Brigitte Helm), tem início
uma revolução que irá abalar de forma irreversível o sistema de classes
de Metrópolis.
Com um texto engajado e um visual delirante, o filme ainda encanta os espectadores, mais de 80 anos depois de seu lançamento.
4. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004)
Nossa quarta posição estava reservada originalmente para
Matrix (1999), mas a obra dos irmãos Wachowski (
V de Vingança) já é um marco mais do que estabelecido no gênero. Esta aqui, não.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, do até então
conhecido diretor de videoclipes Michel Gondry no cinema, é ficção
científica da melhor safra. Joel (Jim Carrey) contrata uma firma para
apagar de sua memória as lembranças do relacionamento com Clementine
(Kate Winslet, em outra grande atuação). O problema começa quando Joel
simplesmente
não quer esquecer que um dia amou a ex-namorada.
Inteligente, ousado e, sobretudo, emocionante,
Brilho Eterno... foi a melhor ficção científica lançada na década passada, derrotando rivais de respeito, como
Filhos da Esperança (2006),
Wall-E (2008) e
Serenity – A Luta pelo Amanhã (2005).
3. Blade Runner – O Caçador de Androides (1982)
Ridley Scott é objeto de culto para os fãs de ficção científica. Seu segundo filme,
Alien – O Oitavo Passageiro, é um clássico do gênero, e inspirou várias sequências, algumas tão boas quanto o original. Mas a sua obra-prima é mesmo
Blade Runner – O Caçador de Androides.
Denso, melancólico, sombrio,
Blade Runner une o suspense a
reflexões filosóficas na história de Deckard (Harrison Ford), um caçador
de androides que é chamado, contra a sua vontade, a realizar uma última
missão.
O visual marcante do filme, aliado a um roteiro que revisita de forma inteligente a tradição do cinema
noir, fizeram de
Blade Runner um dos maiores clássicos do gênero.
2. Guerra nas Estrelas, Ep. 4 – Uma Nova Esperança (1977)
O início da saga mais popular do cinema pode ser considerado como o
filme que gravou a ficção científica no imaginário do público.
As aventuras de Luke Skywalker, Leia e Han Solo são vibrantes, os
efeitos especiais, inovadores, e o vilão mais famoso do cinema – Darth
Vader, um jovem cavaleiro transformado em um ser monstruoso e cruel –
formam o cardápio para um sucesso sem precedentes na história do gênero.
Imperdível!
1. 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968)
Steven Spielberg, fiel praticante do estilo e que infelizmente ficou de fora desta lista (é o responsável por clássicos como
Contatos Imediatos do Terceiro Grau e
E.T. – O Extraterrestre), chama este filme de “eventualidade científica”, não de ficção.
Este é o impacto que causa, até hoje, a experiência de se assistir a
2001 – Uma Odisseia no Espaço. A obra máxima da ficção científica,
2001
é tão ousado que, mesmo hoje em dia, parece estar à frente dos demais
filmes do gênero. Culpa do trabalho obsessivo e brilhante de Stanley
Kubrick, diretor americano que, durante três anos, trabalhou em segredo
junto aos melhores técnicos para criar as imagens de assombroso realismo
do filme.
São diversos pontos altos: a abertura, com a música grandiosa de
Richard Strauss; o salto entre a pré-história e o futuro da humanidade,
numa cena simples e genial; o balé das naves espaciais; a aparição
marcante de HAL-9000, supercomputador que entrou para a galeria dos
grandes vilões cinematográficos; e o final, uma incrível viagem de cores
e sons que, mesmo na era dos efeitos especiais computadorizados, ainda é
capaz de mesmerizar o espectador.
Tanta inovação, contudo, tornou difícil a digestão pelo grande público. O filme só foi salvo do fracasso graças à comunidade
hippie, que ia para as sessões munida de LSD e ficava doidona com a sequência final, que tem mesmo o seu quê de psicodélica.
Fato
é que, aos poucos, crítica e público acordaram para as (inúmeras)
outras qualidades do filme, e sua influência sobre o gênero nos anos
posteriores – técnicos que trabalharam em
2001 criaram os efeitos de
Star Wars,
Blade Runner e
Contatos Imediatos..., só para começar – é incalculável.
Fuja!:
A Reconquista (2000)
Acreditem, escolher um filme ruim de ficção científica é tarefa complicada – porque os candidatos são muitos!
Se o gênero, em seu melhor, foi responsável por alargar as fronteiras
do cinema, disseminando inovações técnicas e narrativas, por outro
lado, ele se perde muito facilmente entre pretensões (
Guerra dos Mundos – o de 2005, não o original), excesso de efeitos (
O Dia Depois de Amanhã) ou mesmo mediocridade pura e simples (qualquer
Alien Vs. Predador da vida).
A Reconquista, desastre encabeçado por John Travolta, reúne
num conjunto singular tudo o que há de ruim com o gênero. O roteiro é
espantoso, de tão ruim; as atuações, idem; os efeitos, nem se fala.
O
filme foi muito malhado em seu lançamento, com justiça, mas a verdade é
que ele é apenas simbólico entre tantos exemplares dessas mesmas
fraquezas.
Defeitos à parte, é importante frisar o enunciado lá de cima: numa
indústria tão carente de ideias como a do cinema atual, é da ficção
científica que vêm alguns dos filmes mais memoráveis do cinema recente:
Lunar (2009),
Distrito 9 (2009) e
A Origem (2010) que o digam.