Os
filmes de Tim Burton se baseiam na inadequação dos protagonistas ao
mundo. Para esta proposta, o diretor encontrou em Johnny Depp o ator
ideal. Juntos, emplacaram sucessos de público e crítica como Edward Mãos de Tesoura, A Noiva Cadáver e Ed Wood.
Por outro lado, também tiveram que lidar com críticas pesadas a filmes como Alice no País das Maravilhas, o trabalho anterior da dupla. Agora, com Sombras da Noite,
os dois se unem de novo e nos trazem uma história que, enquanto os
redime da história da mocinha loirinha que cai na toca do coelho, fica
bem abaixo da sua filmografia.
No
filme, Depp vive Barnabas Collins, aristocrata inglês do século XVIII
que imigra com a família para os Estados Unidos. Rico e presença,
Barnabas faz sucesso com as mulheres, mas só tem olhos para Josette
(Bella Heathcote), o que Angelique (Eva Green), bruxa apaixonada por
ele, não aceita. Por isso, Angelique faz com que Josette cometa suicídio
e transforma Barnabas em vampiro. De quebra, ela manipula os moradores
da cidade a enterrarem o protagonista e demole a reputação e as finanças
da família dele.
O
resultado desse rancor se extende até 1972, o tempo presente do filme,
quando Barnabas consegue sair do caixão e vai à sua antiga casa, onde
encontra seus descendentes falidos. Por isso, Barnabas resolve ajudar os
parentes enquanto (re)encontra o amor da sua vida.
A inadequação ao mundo, tão querida ao diretor, é mostrada no desconforto do protagonista em ser o que não quer, em ter um amor improvável e em viver numa época de costumes e pessoas diferentes do que estava acostumado.
Apesar dessas qualidades, o filme tem muitos pontos fracos.
Movimentos
dos anos 1970, como a liberação sexual, emancipação feminina e os
hippies, aparecem apenas como elementos cosméticos. Apesar de renderem
piadas rasteiras envolvendo choques culturais, eles, rigorosamente, não
levam o filme pra frente. Por isso, não faria muita diferença para os
temas se eles fossem ambientados em 2021. Mudando a direção de arte ali e
acolá e umas piadas, teríamos, para todos os efeitos, o mesmo filme.
Helena Bonham Carter, esposa de Burton, vive a doutora Hoffmann
Além disso, personagens com motivações entre o simplório e o imaturo diminuem a história.
Angelique
foi construída de uma maneira que dá vontade de lhe dizer: “minha
filha, Barnabas não te quer. Não entendeu ou quer que eu desenhe? Tenha
amor próprio e vá viver a vida”.
Victoria
nos foi apresentada como uma mulher com traumas do passado e diante do
desafio de cuidar de David (Gulliver Mcgrath). Infelizmente, suas
“cicatrizes” se revelam absurdas no mau sentido, o trabalho com David
não existe e, na segunda metade da história, ela se transforma numa
mocinha romântica genérica de tamanho médio.
Para
completar, Johnny Depp nos apresenta, mais uma vez, um excêntrico cheio
de cacoetes. Por isso, a sensação de déjà vu se faz presente. Por causa
disso, a sensação de que o astro está desgastado é reforçada.
Barnabas
se queima com um raio de sol que ultrapassa a janela da sua casa, mas
anda na rua normalmente durante o dia. Incoerência é o que há. Só que
não.
Os maiores trunfos de Sombras da Noite são a direção de arte e a maquiagem. F.W. Murnau, Fritz Lang
e companhia talvez se sentiriam orgulhosos com seu discípulo Tim
Burton. Além disso, o filme tem Johnny Depp, um ator que rende
bilheteria por ter a simpatia de vários tipos de público.
Mas,
como sabemos, uma história funciona graças a um conjunto de fatores. No
filme, eles são falhos em sua grande maioria; não tem visual e astro
carismático que sustentem uma história mais sem vida que seu
protagonista vampiro.
Depp e
Burton nos brindaram com histórias que já fazem parte da cultura
popular. Por isso, vê-los abaixo do nível a que nos acostumamos, pela
segunda vez consecutiva, pode causar preocupações.
Ou não?
NOTA: 6,5
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