Dirigido
por Sam Mendes (“Beleza Americana” e “Foi Apenas Um Sonho”), “007 – Operação Skyfall”, o novo filme de
James Bond, vai além de um simples e puro filme de ação e se torna um complexo
estudo de personagens, fazendo com que figuras conhecidas do grande público
ganhem uma nova dimensão por explorar o íntimo dos protagonistas.
Após
uma missão malsucedida para recuperar um chip que contém todos os dados de
agentes da Otan e ser considerado morto pelo MI6, James Bond (Daniel Craig)
retorna para combater um ex-agente da entidade intitulado apenas como Silva
(Javier Bardem), o qual pretende se vingar de M (Judi Dench) que o abandonou
após uma falha em outra tarefa.
Roteirizado
por James Wade, Neal Purvis e John Logan (este último estreando na série), a
trama foca em uma situação que os filmes da série já haviam sugerido, porém,
sem a densidade de “Skyfall”: a relação de M com seus comandados. Se em todos
os outros filmes, a personagem de Judi Dench parecia um artigo de luxo e com apenas
a função de indicar a próxima missão de 007, aqui ela toma às rédeas desde o
princípio quando ordena, friamente, o tiro que atinge Bond em uma intensa disputa em um
trem em movimento. O alívio (mínimo e cuidadoso interpretado pela brilhante Judi Dench) em descobrir que Bond estava vivo no início do filme, porém, mostra que há algo mais.
É
nesse campo de dualidade que a personagem conduz o herói e o vilão ao confronto
que permeia o filme. Sabendo que há um trabalho rígido e necessário, envolto em
um meio de mistério em que não se sabe quem é o inimigo e que um deslize é
suficiente para assassinos matarem centenas de pessoas, M é ciente que não pode
sentir algum tipo de laço afetuoso com seus comandados. A forma pouco delicada
de conversar com eles, sempre com tratamentos ríspidos e diretos, acentuados pela roupa
preta e os braços cruzados constante da personagem traçam este perfil reservado e fechado. Mas, ela, mesmo com tudo isso, revela, em pequenos e quase imperceptíveis momentos, preocupação e zelo com
seus agentes, afinal de contas, conhece as trágicas histórias de vida de cada
um e sabe tudo sobre os passos que tomam.
Antagonismo até nas roupas
Porém,
como fazer com que o agente secreto possua uma relação estritamente
profissional com a única pessoa que representa segurança neste mundo? É
justamente neste campo que Bond e Silva mais se contrapõem. Enquanto o
personagem de Craig (excelente, mais uma vez) é um sujeito que usa dos mesmos
artifícios de M para provocá-la (não é à toa que quando perguntado sobre a
palavra que define a chefe, ele já tem a resposta rápida: cachorra), Bardem
(competente, apesar dos maneirismo de risadas) interpreta um homem necessitado
de atenção, precisando, acima de tudo, de carinho, o qual vê o mundo
transformado após a negação de auxílio por parte dela. Ao mesmo tempo,
semelhantes e antagônicos, os dois lembram o conflito entre Batman e Coringa em "O Cavaleiro das Trevas" em que um complementa o outro.
Além
disso, o excelente roteiro traz ainda um desfecho interessante sobre o passado
de Bond que, apesar de não ser uma novidade quando surge pelo decorrer da trama, apresenta-se
dois locais simbólicos (em todos os sentidos) e traz uma bela homenagem aos antigos
filmes da série: o famoso Aston Martin do personagem.
Lembrando
pouco o diretor de dramas como “Estrada Para Perdição”, “Foi Apenas um Sonho” e
“Beleza Americana”, Sam Mendes dá ritmo à trama e conduz bem as cenas de ação, optando
mais pelo bom posicionamento da câmera e de uma fotografia exata do que o
estilo “Bourne” que, de tão copiado, já cansou o público. Além disso, a trilha
sonora (incluindo a correta canção “Skyfall”, interpretada aos gritos por
Adele) dão o ritmo certeiro de urgência e aventura ao filme.
Com
apenas a ressalva pela apagada atuação de Ralph Fiennes e bondgirls pouco marcantes, “007 – Operação Skyfall”
mostra o quanto o agente secreto britânico ainda pode render ao cinema, apesar de
estar ‘cinquentona’. Apostar em bons personagens e roteiros que saibam desenvolvê-los é uma boa oportunidade para a série.
Nota: 8,5
Análise crítica que transmite sensatez e apuração de quem escreve. Achei interessante a percepção do "mis-en-scène" que, desta vez, difere dos filmes anteriores. Excelente amigo :)
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