quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Crítica: Jovens Adultos, com Charlize Theron

Por Renildo Rodrigues


O cinema, como o futebol, é mesmo uma caixinha de surpresas. Quem poderia imaginar que um modesto filme sobre uma adolescente peculiar e falastrona, às voltas com uma gravidez indesejada, pudesse se tornar um sucesso de público – e, de quebra, levar uma roteirista estreante ao Oscar? E quem poderia, com espanto ainda maior, imaginar que a dupla responsável por Juno (2007), em um filme superior, fosse dar de cara com as paredes?

Pois essa foi a sina de Jovens Adultos, a nova empreitada do diretor Jason Reitman e da roteirista Diablo Cody. Lançado no Brasil no começo do ano, o filme foi bastante elogiado por revistas e sites de cinema, mas passou em brancas nuvens junto ao público – Manaus, é claro, nem tomou conhecimento. Num esforço para reparar esta injustiça, o locutor que vos fala une-se ao coro de sortudos que tiveram o prazer de ver e recomendam:Jovens Adultos é mesmo ótimo. Não percam.

O filme gira em torno de Mavis Gary (Charlize Theron, cuja ausência do Oscar neste ano foi uma injustiça similar à cometida com Ryan Gosling por Tudo Pelo Poder), uma escritora de romances para “jovens adultos” (histórias de fantasia como Crepúsculo) que recebe um e-mail anunciando o nascimento da filha de um ex-namorado (Buddy Slade, vivido pelo sempre eficiente Patrick Wilson [Pecados Íntimos]). Aos 37 anos, e vendo a própria vida parada em ponto morto, Mavis parte para a cidade fictícia de Mercury, em Minnesota (EUA), na esperança de reconquistar Buddy.

Todas as qualidades vistas nas obras anteriores de Reitman (ele também dirigiu o sucesso Amor sem Escalas [2009] e o ótimo Obrigado por Fumar[2005]) estão presentes: o trabalho maduro de caracterização dos personagens (ele costuma usar gestos e manias como forma de revelar mais sobre suas personalidades, evitando diálogos expositivos e flashbacks); o humor sutil, algo melancólico; e a sensibilidade felliniana para a riqueza existente em histórias aparentemente banais. Cody entrega o seu melhor roteiro até agora: além dos diálogos sempre interessantes da escritora, ela revela uma percepção madura e um ponto de vista original sobre um personagem característico da nossa época: o “adulto jovem” – invertendo a frase do título, é aquela pessoa que, passando da hora para tanto, simplesmente se recusa a amadurecer.

Charlize Theron mostra, mais uma vez, a enorme categoria que possui como atriz. Seu desempenho como Mavis é cheio de nuances, e nos leva, o tempo todo, a compreendermos seus erros e inseguranças, apesar da aparência às vezes tão antipática. O elenco secundário, liderado por Wilson, também é ótimo, com destaque para o inusitado melhor amigo de Mavis, Matt Freehauf (Patton Oswalt). A fotografia de Eric Steelberg, e a edição, a cargo de Dana Glauberman (colaboradores habituais do diretor), só contribuem para o excelente resultado final. Então, o que deu errado?

Dentre as várias hipóteses surgidas (nenhuma satisfatória), arrisco aquela que parece ser a menos furada: este é um filme mais amargo, de humor mais sutil e complexo que os anteriores, e, mesmo sendo o oposto de “inacessível”, não conseguiu obter a mesma ressonância que Juno e Amor sem Escalasconseguiram junto ao público. É uma pena, porque, neste caso, o público vai estar deixando escapar um dos melhores filmes lançados no país este ano.

Não cometa esse erro. Se você gostou dos outros dois, compre ou alugue esse aqui – e depois una-se ao coro.

Nota: 9,0

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