Por Renildo Rodrigues
Clint Eastwood.
Nome que é sinônimo de bons filmes, certo? O que hoje parece óbvio ao espectador um dia já esteve longe de ser verdade.
Em 1988, Eastwood tinha uma história estranha. Ator que durante muito tempo parecia relegado a comerciais e filmes de segunda linha, Clint um dia teve a sorte de ser convidado pelo diretor italiano Sergio Leone a estrelar um dos faroestes mais memoráveis do cinema: Por um Punhado de Dólares (1964). A parceria, que fez sucesso imediato, ainda nos renderia Por uns Dólares a Mais (1965) e aquele que talvez seja o filme definitivo do gênero (um dos, na verdade; seria uma grande injustiça com Rastros de Ódio, Shane ou Onde Começa o Inferno): Três Homens em Conflito (1966). Pronto. Ali nasciam duas lendas do cinema: o diretor Leone e o caubói Clint. Mas ninguém perguntou o que ele achava disso.
Eastwood queria mais. O matuto da Califórnia era sensível e tinha um gosto refinado para a música e a literatura, o que não cabia nos papéis de durão que lhe ofereciam. Após um rompimento cheio de rusgas com Leone, Clint ainda passou um bom tempo se enquadrando nos filmes de ação que desprezava. Findo o trabalho no primeiro Dirty Harry (Perseguidor Implacável, 1971), o ator resolveu se arriscar na direção: rodou o suspense Perversa Paixão (1971) e o western O Estranho sem Nome (1973). Apesar deste último ser hoje considerado um clássico, a recepção aos primeiros filmes de Eastwood variou entre indiferente a negativa. Hesitante, desacreditado, o caubói teria um longo caminho a percorrer.
O filme levou o Oscar de Melhor Som em 1989, além do Globo de Ouro de Melhor Diretor para Eastwood. Dando finalmente vazão a seus interesses pessoais, o diretor acertou o caminho com um cinema questionador e introspectivo, que levaria, nos anos seguintes, a obras do nível de Os Imperdoáveis (1992), As Pontes de Madison (1995), Sobre Meninos e Lobos (2003) e Menina de Ouro (2004).
A paixão de Eastwood por jazz o levaria ainda a gravar discos com músicos parceiros, entre os quais as trilhas sonoras de Sobre Meninos e Lobos e A Troca (2008) e a prestar novos tributos, desta vez aos cantores Johnny Hartman e Dinah Washington (na trilha de As Pontes de Madison) e ao pianista Thelonious Monk (no ótimo documentário Straight, No Chaser, sobre o músico, também lançado em 1988).
Mas sua mais bela homenagem é mesmo a cinebiografia de “Bird” Parker.
P.S.: O filme infelizmente não tem edição nacional, o que força os interessados em Eastwood ou Parker a importarem uma cópia (como foi o meu caso) ou a contarem com a ajuda da televisão (se servir de esperança, descobri o filme na sessão de domingo de madrugada na Band).
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