quarta-feira, 21 de março de 2012

Ranking - Melhor e Pior do Cinema de Quentin Tarantino

Por Renildo Rodrigues

O cinema dos anos 90 divide-se em antes e depois de Quentin Tarantino.

Os trabalhos do cineasta nessa década – Cães de AluguelPulp Fiction, o subestimado Jackie Brown – fizeram escola e influenciaram diretores de todos os gêneros.

Sua grande sacada foi pegar as inovações de mestres do passado, como Sergio Leone, Stanley Kubrick e Akira Kurosawa, e misturá-las a referências atuais – quadrinhos, cultura pop – de forma irreverente e criativa.

Com o anúncio de sua nova produção, o western Django Unchained, para janeiro do ano que vem, aproveito para relembrar os trabalhos que fazem de Mr. T um dos nomes mais interessantes do cinema atual.


Veja:

5. Prova de Morte (2007)

O penúltimo filme de Tarantino é grindhouse dos bons. Como? Eu explico.

Grindhouses são aqueles cinemas decadentes, que passavam a programação Z das décadas de 70 e 80 – no Brasil, os famosos “poeiras”. Pois o diretor, que passou a adolescência em uma vizinhança pobre de Los Angeles, era grindeiro convicto. Ele prestou uma homenagem a essa época com Prova de Morte.

A trama tosca, sobre um piloto de corridas assassino (Kurt Russell) que persegue um carro cheio de garotas (Rosario Dawson entre elas), rendeu um filme de muitas qualidades: danças sensuais, automóveis classudos, as cenas de perseguição em asfalto mais eletrizantes do cinema recente (pelo menos até Drive).

Em suma, diversão de primeira.

4. Kill Bill, Vols. 1 e 2 (2003)

Primeiro trabalho de Tarantino após o intervalo de seis anos que sucedeu a Jackie Brown (ver abaixo), Kill Bill foi muito aguardado pelos fãs do diretor. Para a alegria destes, o filme correspondeu às expectativas.

Dividido em duas partes, Kill Bill narra a história de vingança da Noiva (Uma Thurman), assassina profissional que sofre uma tentativa de homicídio e tem a filha sequestrada. Com os diálogos ágeis característicos do diretor, mais elementos de western e artes marciais, o filme marcou o retorno de Tarantino à fileira dos grandes diretores americanos.

Em tempo: os dois volumes são ótimos, mas, se tiver que assistir a apenas um, escolha o segundo. As cenas finais estão entre as melhores que Mr. T já criou.

3. Bastardos Inglórios (2009)

O filme que Tarantino queria ter feito depois de Pulp Fiction (ver abaixo) acabou levando mais de dez anos para ficar pronto. Mas a espera valeu a pena.

Bastardos Inglórios começou a ser escrito em 1994. Tendo em mente os grandes filmes de guerra que vira em adolescente (Agonia e GlóriaRan), Tarantino criou a história, passada na 2ª Guerra Mundial, sobre um pelotão de soldados judeus em busca de vingança contra os nazistas. E parou aí.

Sem conseguir levar a trama adiante, o diretor escreveu dezenas de versões do roteiro, até que desistiu de tudo e se voltou para o projeto de Kill Bill.

A experiência parece ter renovado a criatividade de Tarantino, e Bastardos ganhou sua versão definitiva. Deu no que deu.

Um trabalho belíssimo, Bastardos Inglórios tem ação, humor, grandes diálogos e sequências eletrizantes do início ao fim. Com performances memoráveis de Christoph Waltz (o vilão Hans Landa lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), Brad Pitt, Michael Fassbender e Mélanie Laurent, Bastardos Inglórios pode ser cotado tranquilamente entre os grandes filmes do diretor.

2. Cães de Aluguel (1992)

Filme de estreia de Tarantino, é provavelmente seu trabalho mais influente: incontáveis tramas de ação, de lá pra cá, chupam elementos dessa obra-prima. Mas a culpa é dele mesmo: poucas vezes se viu uma mistura tão viciante de referências.

De Madonna a Rashomon, do roteiro de dar nós aos nomes dos personagens (Mr. Blonde, Mr. Pink), tudo em Cães é digno de antologia.

Claro que, para além dos detalhes, trata-se de um suspense de primeira, que prende o espectador do começo ao fim – final, aliás, que é sensacional. Veja o quanto antes.

1. Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994)

O sucesso de Cães de Aluguel fez de Tarantino um dos nomes mais festejados de Hollywood. Os melhores roteiros lhe chegavam antes, grandes atores o procuravam, incontáveis festas eram feitas em seu nome.

Ao invés de descansar na própria glória, acreditando ser um gênio, Tarantino sumiu. Foi para a Europa, vagou por uns tempos em Amsterdã, e trabalhou no que viria a ser seu melhor filme: Pulp Fiction.

O roteiro, inacreditável, mistura personagens e tramas, joga fortes doses de ironia, e tem alguns dos melhores diálogos já escritos. John Travolta, Samuel L. Jackson, Bruce Willis e Uma Thurman, todos viraram astros por suas performances aqui (Travolta, no caso, voltou a ser). Pulp Fiction virou referência obrigatória para o cinema dos anos 90 e gerou milhares de imitações.

Infelizmente, lançou também uma sombra sobre a carreira de Tarantino: todos os seus filmes posteriores vêm sendo comparados a ele, e acabam perdendo – Jackie Brown, mais do que todos, teve a trajetória arruinada pelas expectativas. Mas dá, realmente, para culpar o diretor por ter assinado esta obra-prima?

Por mim, Tarantino estaria perdoado para sempre.

Fuja!:

Jackie Brown (1997)

O que fazer quando seu último trabalho se chama Pulp Fiction?

Tarantino bem que tentou: voltou-se para o cinema blaxploitation, como eram chamados os filmes escritos, dirigidos e estrelados por negros, nos anos 70.

Mais uma visita ao passado grindJackie Brown resgata uma estrela do gênero, Pam Grier, e aponta para a direção mais madura de filmes como Kill Bill – Volume 2 e Bastardos Inglórios.

Não é um filme ruim, longe disso – o roteiro é esperto e várias cenas são memoráveis, como, de resto, é comum na obra do diretor. Mas, de todos os seus trabalhos, acaba sendo o mais datado, e o que menos faz jus à excelência de seu realizador.

Ah, e o fato de ter sido o primeiro filme de Tarantino após Pulp Fiction só piorou as coisas. Ele levaria seis anos pra se recuperar dessa.

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