quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Crítica – “À Beira do Caminho”, de Breno Silveira

Por Renildo Rodrigues


Um homem amargurado, marcado por uma tragédia, encontra em seu caminho um garoto, também vítima de um destino infeliz, e desse encontro ambos irão tirar lições importantes sobre a vida.

Um enredo tão básico, dir-se-ia clichê, ainda por cima tendo na trilha sonora as músicas de Roberto Carlos.

O que a muitos (eu incluído) soou como artifício, uma estratégia calculada para fisgar o público, na verdade rendeu um dos melhores filmes brasileiros deste ano.

À Beira do Caminho é um filme simples. Tira toda a sua força de um mínimo de história e personagens. A rigor, são três: João (João Miguel), o protagonista, um motorista de caminhão rude e melancólico, que vaga pelas estradas do Brasil entregando cargas e parando em bares; Duda (Vinicius Nascimento) uma criança desgarrada, órfão após a morte da mãe, que se junta a João na esperança de encontrar o pai, que ele nunca conheceu; e Rosa (Dira Paes), antiga paixão de João, com quem ela anseia viver de novo.

Pouco a pouco, tudo o que parecia calculado vai se mostrando apenas adequado à história. Seu diretor, Breno Silveira, volta a um terreno já explorado antes em dezenas de filmes, e sua preocupação, antes de ser original, é ser autêntico. Transforma a previsível relação de João e Duda num belíssimo “embate” entre os atores, ambos excelentes, com destaque para o menino Vinicius.

Usa a música de Roberto com discrição, apenas pontuando os diferentes atos da história. E extrai, dos demais elementos técnicos (fotografia, montagem, música incidental), o mínimo necessário para dar conta de seu enredo.

Duas referências são inevitáveis: Central do Brasil (1997) e 2 Filhos de Francisco (2005). O primeiro, por ser uma espécie de modelo espiritual para oroad movie de Silveira; e o segundo, ainda o principal trabalho do diretor, por também procurar um amálgama com a cultura brasileira mais popular.

À Beira do Caminho não tem, contudo, a mesma voltagem dramática desses dois filmes. Opera num plano menor, mais introspectivo e melancólico. Rodado em condições adversas e num período marcadamente difícil da vida de Silveira (ele parou os trabalhos por um período para cuidar da esposa doente, que acabou falecendo), consegue, contudo, oferecer um retrato honesto e delicado da relação entre um homem e uma criança machucados pela vida, sem deixar de lado a esperança.

Nota: 8,5

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