segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Trilogia “Batman”, de Christopher Nolan – Acertos e erros

Por Renildo Rodrigues


A estreia de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge veio colocar o ponto final em uma das sagas mais empolgantes do cinema recente.

Podemos dizer que a trilogia dirigida por Christopher Nolan conseguiu um grande feito: reinventar um personagem que todos consideravam acabado, depois de cinco adaptações cinematográficas malsucedidas. Além disso, trouxe uma profundidade psicológica e um subtexto político nunca visto anteriormente em adaptações de quadrinhos.

No conjunto, os três filmes – Batman Begins (2005), Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008) e agora O Cavaleiro das Trevas Ressurge – definiram um novo patamar de criatividade e excelência técnica para o gênero.

Para comemorar esse sucesso todo, o Cine Set aponta, agora, os elementos que fizeram a glória – e a tristeza também, afinal somos críticos, ora bolas – da trilogia de Nolan.

A Musa

Um item importantíssimo. Afinal, quem se arrisca a sair por aí para combater o crime não está querendo reformar a sociedade – mas sim garantir uma velhice tranquila e confortável ao lado da mulher amada, em um mundo menos violento. Na trilogia de Nolan, Bruce Wayne teve três: Rachel Dawes (vivida por Katie Holmes no primeiro filme e Maggie Gyllenhaal no segundo), paixão de infância do herói; Selina Kyle (Anne Hathaway), sensual ladra de joias, mais conhecida como Mulher-Gato; e Miranda Tate (Marion Cotillard), empresária bem-intencionada que tem uma quedinha pelo Homem-Morcego.

Com todo o respeito às outras três, em especial a belíssima Selina, a Mulher-Gato de Anne Hathaway, dá um show de sex appeal e atuação no último capítulo da trilogia. Anne, que não é particularmente bonita (muito pálida, com aqueles olhões), sabe usar a expressão do rosto e do corpo a seu favor, e a única ressalva que fazemos é que ela não tenha mais tempo de tela. Nota... dez!

Melhor Vilão

Hors-concours: Coringa. Uma das grandes fraquezas em qualquer filme de super-herói é o vilão. Eles costumam ser exagerados, caricatos, suas motivações são tolas – em resumo, não são nada reais. Mas Nolan e Heath Ledger fizeram diferente.

Pela primeira vez, vimos um vilão que não só parecia real (assustadoramente real), como seus atos, por mais hediondos que fossem, refletiam uma angústia genuína, compartilhada pelo espectador.

Como o Gollum de O Senhor dos Anéis, Coringa fascina e repele por desvelar o lado obscuro que existe em cada um de nós. O trabalho de Ledger, que morreu pouco depois das filmagens, foi tão eletrizante que ofuscou o de todo o restante do elenco em O Cavaleiro das Trevas (e talvez em toda a trilogia), levando ao primeiro Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para um filme de super-heróis.

Melhor Coadjuvante

Um dos diferenciais da série Batman foi a quantidade de personagens interessantes espalhados pelos três filmes. Da mesma forma que em épicos como O Poderoso Chefão e Era Uma Vez na América, Nolan criou uma intrincada teia de personagens, na qual cada passo dado, cada ação, interfere de forma decisiva sobre os rumos da trama.

O elenco é quase um quem-é-quem do cinema atual: Christian Bale, Morgan Freeman (Lucius Fox), Michael Caine (o mordomo Alfred), Liam Neeson (Ra’s al Ghûl), Aaron Eckhart (Harvey Dent), Joseph Godron-Levitt (Blake), Katie Holmes, Anne Hathaway...

Mas o personagem secundário mais marcante da série é mesmo o comissário Gordon. Vivido com brilho pelo veterano Gary Oldman, Gordon é um investigador de polícia cuja ligação com Batman o leva sempre para o centro dos acontecimentos.

Além de sua importância para a trama, o complexo desenvolvimento do personagem (sobretudo em O Cavaleiro das Trevas) leva o espectador a querer acompanhar cada passo do detetive.

Melhor Cena de Ação

Outro item fundamental. Afinal, Batman é sobre heróis e vilões, dois tipos marcados pela vida atribulada, cheia de socos e explosões.

Nos filmes, Nolan pôde exercitar à vontade o seu talento para cenas grandiosas e impressionantes, então boas candidatas não faltam: a perseguição ao Espantalho e a luta com Ra’s al Ghûl em Batman Begins; o assalto ao banco e os embates entre Batman e o Coringa em O Cavaleiro das Trevas; a abertura de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, em que Bane e seus comparsas sequestram o Dr. Pavel de um avião em pleno voo (e sem um pingo de computação gráfica!).

Mas o troféu tem de ir mesmo para o final de ...Ressurge. Nolan orquestra várias histórias paralelas, em um crescendo de tensão e violência que dura meia-hora, quase sem vacilar (entenda o “quase” no quesito Pior Momento).

Ao final da sessão, saímos cansados, extenuados, mas felizes – na certeza de termos visto algo que, tão cedo, não vai acontecer de novo.

Pior Momento

Nem tudo é tão bonito em Gotham City. A trilogia de Christopher Nolan também tem suas fraquezas, sendo a maior delas, ironicamente, a sua grande qualidade: a ambição desmedida do diretor, que, na ânsia de criar grandes cenas, às vezes entulha o filme com tramas, personagens e diálogos demais, estragando sequências que, de outra forma, poderiam estar entre as melhores da série.

Mas o ponto mais baixo é mesmo a revelação, fraquíssima, da verdadeira natureza de Miranda Tate em O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Uma personagem sem muita expressão, Miranda ganha uma importância inacreditável com a cena, que não só soa forçada, como atrapalha até o vilão Bane, que, até ali, nos parecia digno de todo o temor.

O único momento que realmente destoa do excelente final do filme (veja em Melhor Cena de Ação), não 
consegue, mesmo assim – e ainda bem –, estragá-lo. Ufa.

Pior Filme

Bom, já está mais do que estabelecido, aqui, que nenhum dos três filmes de Nolan é menos do que ótimo. 

Trata-se, portanto, apenas de decidir, dentre os três, qual é o menos essencial.

Fico mesmo com Batman Begins. O filme é redondinho, não tem os momentos mais arrastados de O Cavaleiro das Trevas, nem a confusão e as cenas constrangedoras de ...Ressurge – mas também não chega, em nenhum momento, aos pontos mais altos destes.

Se Nolan tivesse parado aqui, Batman teria ganho, enfim, o seu primeiro grande filme. Como não parou, ficamos com uma obra-prima, outra quase, e um filme apenas muito bom, mas cujas promessas, ainda bem, se concretizaram em dois dos melhores filmes já feitos – tanto em seu gênero quanto no cinema em geral.
Melhor Atuação de Christian Bale

Christian Bale é o ator a quem a série Batman deve sua razão de ser. Sem sua entrega física, sem sua versatilidade expressiva – capaz de dar vida tanto ao playboy rebelde Bruce Wayne quanto ao sombrio e brutal Homem-Morcego – a trilogia não teria sido um décimo do que foi. Embora a performance maníaca de Heath Ledger lhe tenha roubado a cena em O Cavaleiro das Trevas, Bale manteve o alto nível em praticamente todas as suas aparições.

Só mesmo porque eu tenho de escolher um filme, fico com Batman Begins: é simplesmente aquele em que 

Bale tem mais tempo de tela, sem precisar dividi-la com Coringa e Harvey Dent (O Cavaleiro das Trevas), nem com Bane, Mulher-Gato, Blake e os duzentos outros (contando só os mais importantes) de O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Ah, e porque Batman Begins, coitado, ainda não venceu em nenhuma das outras quatro categorias.

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