terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Crítica: Jack Reacher, com Tom Cruise

Por Diego Bauer


A década de 80 e 90 foi palco de vários exemplares de um subgênero dentro dos filmes de ação, que ficou bastante popularizado por serem estrelados por atores como Jean- Claude Van Damme, Sylvester Stallone, Chuck Norris, dentre outros. Esses filmes basicamente se caracterizavam por terem roteiros fracos, cheios de furos que desafiam várias leis da física, ou a inteligência do público, situações criadas apenas para vermos longas sequências de lutas, frases de efeito por todos os lados, explosões, helicópteros, e protagonistas fortões, que depois de passarem pelo inferno e derrotarem Satanás e seus capangas, salvavam o dia depois de uma grande batalha final.

Com o tempo, filmes deste subgênero acabaram caindo no esquecimento e se tornando datados, embora até hoje de vez em quando surja filmes do tipo. E para a alegria de muitos (e tristeza de muitos, certamente), estreou nos cinemas, Jack Reacher, mais um filme que poderia facilmente entrar neste nem tão seleto hall de filmes.

Como se pode esperar, o longa conta a história de Jack Reacher (Tom Cruise), um ex-militar que teve uma carreira brilhante, mas que decidiu abandonar isso para viver uma vida errante, pois assim se considerava uma pessoa livre. Porém ele é chamado por James Barr (Joseph Sikora), um homem acusado de ter assassinado 5 pessoas, e que tem como advogada, Helen (Rosamund Pike), filha do promotor Rodin (Richard Jenkins). Além do promotor, o delegado Emerson (David Oyelowo) estão certos de que Barr é o culpado pelos crimes, mas Helen e Reacher investigam o caso, e descobrem uma série de fatos que podem revelar a verdade, que envolvem o misterioso Zec (Werner Herzog).

O filme até começa bem, com a ótima sequência que mostra a visão do atirador enquanto mata as pessoas, em que podemos perceber até como a sua respiração interfere na sua concentração. Com esse momento e nas cenas seguintes, como quando Jack Reacher e James Barr são apresentados, o filme mostra ser capaz de apresentar satisfatoriamente seus personagens, de maneira fluida e eficaz, além de saber desenvolver sequências de suspense, conseguindo prender o público.

Mas é uma pena que ele não cumpra as suas promessas, pois o que vemos dali em diante é um filme de ação genérico, bastante parecido com o que vemos estrear no cinema toda semana.

O roteiro é bastante previsível e óbvio, daqueles que quando chega na metade já sabemos exatamente a forma como vai terminar,além de ter furos terríveis, como quando ele nos diz que apenas Reacher percebeu que havia algo errado na cena do crime. Como? Como ninguém percebeu que aquilo tava muito na cara, que havia algo estranho? E ainda erra feio ao não explicar os motivos que fazem com que Emerson aja daquela forma, e depois ainda insinua que ele não está a vontade com aquilo, fazendo com que essa virada se torne completamente mal desenvolvida, e sem pé nem cabeça, escancarando que ela foi pensada como uma tirada espertinha do roteiro que queria nos surpreender, mas só confunde.

Tudo isso somado faz com que a sua duração se torne quase uma tortura para quem assiste, visto que ele além de ser previsível, demora bastante a chegar onde quer. E essa demora se deve a falta de perícia do diretor Christopher McQuarrie, que cria uma série de cenas completamente desnecessárias, que não levam o filme a lugar nenhum. A impressão que fica é que elas estão ali muito mais preocupadas no efeito que causam do que se elas contribuem para a história. E isso é ainda mais agravado visto que McQuarrie não consegue nem causar este efeito, pois tais cenas são sofríveis, como a sequência em que Helen visita o pai de uma das vítimas; quando mostra a história das vítimas, apresentando-as bonitinhas, querendo que a plateia sofra por suas mortes; a cena da perseguição de carro que não vai a lugar nenhum; ou quando Reacher escreve em um bilhetinho a solução do caso, em uma decisão pensada apenas para mostrar o personagem como ainda mais fodão, e claro, para desfilar mais uma das várias frases de efeito presentes em todo o longa.

Pra completar o combo de cenas bizarras não posso deixar de citar o momento Os Trapalhões, em que os capangas se mostram completamente incapazes de matarem um Jack Reacher quase desmaiado, em uma sequência cômica bastante duvidosa, que em vez de fazer rir faz com que se pense que isso não se encaixa muito bem na história; na troca de telefonemas digna de dois adolescentes que acontece logo após o sequestro; e na principal, não poderia faltar de jeito nenhum, o maior clichê desse tipo de filme: O herói consegue desarmar o vilão, e no último momento prefere jogar a sua arma para ter uma luta “de homem pra homem”.

E até o protagonista não se salva. E nem me refiro tanto ao trabalho de Cruise, que é clichê como o de todo o elenco do filme, sem exceções, mas sim a construção dele na sua origem, visto que o tal isolamento do personagem, que deveria fazer com que ele fosse uma pessoa reclusa, que não se importa com os outros, é falha, como quando, mesmo ao dizer que não é um herói, vai decidido salvar a advogada, ou quando sofre pela morte de Sandy, em que fica claro que a tentativa de entregar ao personagem uma maior profundidade se torna algo inverossímil e completamente superficial.

E pra finalizar com chave de ouro, não poderia faltar a quase onipresente trilha genérica de filme de ação ruim do Van Damme sonora, que enche o saco da forma como é colocada, mostrando a total falta de perícia do seu diretor na construção das cenas.

Quando o filme terminou, meio que fiz um flashback para a minha infância, quando via filmes como Street Fighter (1994), O Grande Dragão Branco(1988) e O Desafio Mortal (1996), e achava aquilo o máximo. Pois é. O tempo passa.

NOTA: 5,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário