Mesmo que não assistisse a muitos filmes na infância, visto que meus pais nunca me incentivaram a seguir com frequência o cinema, creio que durante esta fase da minha vida pude acompanhar muitos dos desenhos que passavam pela manhã, como Tom e Jerry, Dragon Ball Z, Pica-pau, e claro, um dos mais “cultuados” de todos, Power Rangers. Lembro-me que adorava os super-herois, e achava aquelas suas batalhas finais em que eles destruíam a cidade no fim de cada episódio, o máximo.
Muitos anos se passaram, tive a chance de ver muitos filmes, e até identificar de onde surgiu o estilo adotado pelo seriado. Mesmo assim não deixa de ser surpreendente perceber a sensação que eu tive ao assistir João e Maria, pois, pelo menos pra mim, o filme é um episódio dos Power Rangers, sem os Rangers e com uma hora e meia a mais, e ele me pareceu uma experiência bastante ruim, e nem de longe lembrava o glamour que a minha memória afetiva trazia quando me lembrava dos guerreiros poderosos.
A sinopse é bastante simples, e tem início com a história clássica de João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma Arterton) que se perdem na floresta, e param na casa de uma bruxa, etc. Depois deste episódio marcante em suas vidas, eles decidem seguir a carreira de caçadores de bruxas, e vivem atrás de recompensas pelo mundo. Certo dia eles são chamados a uma cidade, que sofre com a terrível bruxa Muriel (Famke Janssen), que já levou onze crianças do vilarejo, e tudo indica que ela ainda pretende continuar com o mal. Portanto, João e Maria partem em busca do paradeiro das crianças sequestradas, e tentam derrotar a terrível bruxa.
Bom, piadinhas a parte, talvez não seja inadequado dizer que o filme se trata de um episódio dos Power Rangers. Mesmo que a estética desenvolvida pelo fraco diretor Tommy Wirkola seja de um filme de terror, com sangue por todos os lados, cabeças explodindo, e bruxas sendo despedaçadas, nada disso causa nenhum impacto, pois as situações nem assustam e nem divertem, visto que elas são extremamente clichês, como vemos, por exemplo, na cena inicial. E a vilã consegue assumir com brilhantismo o posto de elemento mais clichê da história, com situações risíveis de tão previsíveis e canastronas, como na cena em que ela revela o seu plano maligno para as suas comparsas. Faltou um milímetro para ela arrematar no final da frase: “E seremos INVENCÍVEIS!!! MUAHUAHUAHUAHUAHUAHAHA!!!”. Juro que fiquei esperando o momento em que ela se tornaria uma giganta no fim da história, e que João e Maria montariam em uma árvore grandiosa e enfrentariam a bruxa.
E o clichê consegue se fazer presente em todos os elementos do filme, sem medo de errar, e isso está bastante óbvio na sua quase onipresente trilha sonora, que fica martelando em nossa cabeça quase durante toda a duração do filme. Esses caras precisam entender que em determinados momentos a música atrapalha a cena, e que uma ausência de trilha é benéfica ao filme em certas partes, pois traz um tom mais seco, que funcionaria em uma série de cenas de suspense e ação.
Mas preciso dar um parágrafo para o péssimo 3D do longa. Confesso que não sei se denomino o uso da ferramenta neste filme como cretino ou ingênuo. Logo quando o 3D ganhou grande destaque no mundo inteiro com o lançamento de Avatar (2009), uma epidemia de filmes em 3D foram lançados. Como vimos com o tempo, Cameron estava muito a frente dos seus colegas, visto que eles mantinham-se presos ao esqueminha bobo de ficar jogando coisas na plateia. Veja bem, alguns anos se passaram, e já dá pra se ter uma melhor dimensão de como usar a ferramenta. E aí vem João e Maria e faz isso incessantemente, achando que estão desenvolvendo um efeito super-bacana. Bom, aí é com vocês. É cretino ou ingênuo? Eu acho que a primeira opção é a verdadeira.
E é engraçado como parece ficar claro que o diretor quer deixar escancarado o tempo todo que eles tiveram bastante trabalho em desenvolver os efeitos especiais do filme, que tentam desesperadamente chamar a atenção para si. A cena da bala no final é um exemplo claro disso.
E se durante o filme vemos que João relaciona-se com a bruxa branca, Mina (Pihla Viitala), Maria também tem o seu par romântico, e essa situação nos remete a dois clássicos do cinema, A Bela e a Fera (1991) e Crepúsculo (2008). Agora relendo o que escrevi, disse que o filme não era divertido. Deixa eu me redimir.
Quando Maria pergunta ao troll o seu nome, e ele, com um rosto sofrido, triste e cheio de sentimentos, responde, Edward, confesso que ri bastante. Não só eu, mas a sala toda. É, nesse momento o filme se mostrou divertido.
Não pretendo entregar spoilers, mas a forma como o desfecho de Edward (o troll) interfere na trama, mostra-se forçada e sem um pingo de profundidade e evidencia de uma vez por todas que o trabalho de roteiro e direção do filme é bastante precário.
E já que iniciei a crítica falando sobre minha infância, lembro-me que nessa época achava bem bacana o conto de João e Maria. Pois é, isso resume-se ao conto.
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