domingo, 14 de março de 2010

Crítica - A ILHA DO MEDO


A filmografia de Martin Scorsese é composta de personagens com um pé e meio na loucura.

Jake La Motta em "Touro Indomável", Tommy De Vitto em "Os Bons Companheiros", o psicopata de "Cabo do Medo", Bill, o Açougueiro de "Gangues de Nova York", Howard Hughes de "O Aviador" e, claro, Travis Bickle de "Taxi Driver" são pessoas angustiadas,sempre tendo atos impulsivos quando desafiados.

Agora é a vez de Teddy Daniels, personagem de Leonardo Di Caprio em "A Ilha do Medo" aumentar essa lista.

O filme se passa em 1954 e conta a história de dois policiais federais que vão até Shutter Island, ilha que serve de instituiçao de recuperação e prisão para criminosos com problemas mentais, com o objetivo de desvendar os mistérios que envolvem o desaparecimento de um dos prisioneiros.
Chegando ao local, Teddy começa a desconfiar que tudo não passa de enganação e que ali, na verdade, são feitas experiências danosas a saúde e a já tão abalada mente dos detentos.Lá, também, Daniels começa a ter que enfrentar o seu passado.

Quarto filme da dupla DiCaprio-Scorsese, "A Ilha do Medo" não passa de um suspense comum. Não é nada difícil se você conseguir adivinhar o que realmente está acontecendo na trama depois de uns 30 minutos de filme. O roteiro de Laeta Kalogridis em momento algum parece se esforçar em esconder ou ludibriar o espectador do "grande segredo da trama".

Apesar disso, os diálogos do filme são excelentes, prendendo nossa atenção a cada mínima conversa, pois conhecemos um pouco do pensamento e das motivações de cada personagem,especialmento do protagonista. O melhor deles acontece quando Teddy Daniels pega uma carona com o chefe de segurança da ilha, interpretado por Ted Levine, e os dois começam a discutir sobre a violência humana e como ela está presente em cada um de nós. Uma discussão interessante, mas que não é aprofundada com o passar do longa-metragem.

Assistir um filme de um mestre do cinema é ter a certeza de que momentos de ousadia e brilhantismo vão acontecer mais cedo ou mais tarde, mesmo quando for uma obra menor desse autor. Em “A Ilha do Medo” não poderia ser diferente.

Scorsese mostra isso logo na seqüência inicial, ao usar uma pesada trilha sonora para nos dar a sensação de que Shutter Island é um lugar sombrio e perigoso. Outro acerto é a montagem incompleta, pois em vários momentos, vemos um personagem começar uma ação e no outro corte ela já está completa, sem haver o meio desse movimento. Explico: quando, por exemplo, o personagem de Leonardo DiCaprio está acendendo um cigarro, o outro corte já mostra ele tragando, não sendo colocada a cena dele levando o cigarro a boca. Isso dá uma sensação de inquietude e de que algo está fora do local.

Além disso, a fotografia do filme é belíssima ao nos ambientar no tom pesado e de suspense que o longa guarda (reparem nas cenas passadas na ALA C, a dos prisioneiros mais perigosos da ilha) e no tom iluminado e calmo, contrastando com a tragédia que vemos em uma das passagens mais importantes do filme.

É claro que analisar “A Ilha do Medo” é falar de Leonardo Di Caprio. Ator de uma das carreiras mais bem sucedidas dos últimos anos, o astro de “Titanic” e “Os Infiltrados” mostra todo o seu talento ao interpretar um personagem que ora parece ser o mais lúcido ora parece ser o mais louco de todos. Teddy Daniels é um personagem complexo, pois ao mesmo tempo em que procura ser um detetive racional, que está ali somente para solucionar o sumiço da prisioneira, ele também quer resolver o problema pessoal que o atormenta e passa a ter que enfrentar o seu passado traumático. E são nesses flashbacks que Di Caprio dá um show, dando um ar trágico ao personagem.

Como tudo gira em torno de Teddy Daniels, os outros atores pouco podem fazer. Os maiores destaques dos coadjuvantes são Ben Kingsley que interpreta Dr. Cawley, o chefe médico da prisão e Michelle Willians, intérprete da esposa de Teddy em uma aparição de uma morbidez assustadora.

No fim das contas, “A Ilha do Medo” resulta em uma experiência interessante, mas que nada acrescenta em nossas vidas. É um bom filme de suspense como tantos que assistimos ao longo dos anos. Com um pouco mais de qualidade técnica, claro. O mínimo que se pode esperar de um diretor como Scorsese.

A grande e triste verdade é que Martin Scorsese, diretor de filmes como “Taxi Driver”, “Touro Indomável”, “A Última Tentação de Cristo” e “Os Bons Companheiros”, parece disposto somente a entregar bons trabalhos, esteticamente brilhantes, mas sem a ousadia e a contestação que marcaram toda sua carreira.

Uma pena.

NOTA: 7,5

por Caio Pimenta
Diretor-Geral do SET UFAM

Um comentário:

  1. Eu penso que Shutter Island é mesmo um grande filme que retrata os clássicos "noir" com uma vertente psicótica pelo meio...

    A interpretações de DiCaprio e Jackie Earl Haley são espantosas, esta última, perfeita!

    Abraço
    Cinema as my World

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