Por Caio Pimenta
Durante três anos estive à frente do programa de televisão Set Ufam, dedicado exclusivamente à sétima arte, e pude conhecer pessoas que fazem algo que para muita gente não existe aqui: cinema.
Sim, há cinema por aqui.
Certamente não é aquele que a maioria deve estar acostumado a ver no Playarte, Cinemais, Cinemark ou Severiano Ribeiro: cheio de estrelas renomadas, com efeitos especiais incríveis e com verbas milionárias.
Nada disso tem a ver com o cinema amazonense.
Antes que você torça a cara e fale que o cinema da região não presta, saiba que há pessoas com criatividade que superam os desafios técnicos e a falta de estrutura na região para a sétima arte que estão contribuindo para o desenvolvimento cinematográfico do Amazonas.
Com histórias sobre pessoas, lugares e assuntos típicos da região, esses diretores conseguem levar às telas curtas-metragens e documentários bem-desenvolvidos, de boa qualidade técnica e narrativa. Além do mais importante: suas obras conseguem nos emocionar.
Selecionei cinco nomes, quatro já consolidados e uma aposta, que já fizeram, fazem e ainda vão fazer obras relevantes e tomarão decisões que, acredito eu, vão levar o cinema amazonense a conquistar patamares ainda maiores.
Aldemar Matias
Ambição é uma palavra que muitas pessoas vêem como ruim, chegam a pensar ser até um pecado.
Porém, para Aldemar Matias essa palavra cai como uma luva e pelo sentido mais positivo da palavra.
Somente isso pode justificar o seu último e mais brilhante trabalho, o ótimo curta-metragem “Parente”, rodado em plena Floresta Amazônica que passa por dois Estados da região Norte do Brasil (Roraima e Amazonas).
Aldemar mostra no curta uma triste realidade: o crescente número de indígenas com doenças sexualmente transmissíveis, em especial, a Aids. Pior ainda é perceber o quanto de desconhecimento ainda há sobre a doença, obtida através de riquíssimos depoimentos colhidos durante as entrevistas.
Aldemar que já havia se destacado com “A Profecia de Elizon” (ótimo curta sobre o pavor dos moradores de um condomínio de Manaus após um tremor de terra), conseguiu elevar seu trabalho ainda mais com “Parente”, tamanha a qualidade narrativa do filme quanto a sensibilidade para captar de entrevistas poderosas que fazem a diferença em documentário e deixa o espectador ansioso por seu próximo trabalho.
Júnior Rodrigues
Se eu pudesse escolher um único cara disposto a ensinar cinema em Manaus e estimular que a pessoa produza uma obra audiovisual, esse alguém é Júnior Rodrigues.
As oficinas promovidas por ele para ensinar o básico das técnicas cinematográficas já atraíram uma grande quantidade de pessoas nesses últimos anos em Manaus.
Além disso, iniciativas como os Festivais de Curtas de Um e Quatro Minutos também promovidas por Júnior são louváveis, pois promovem a produção cultural no Amazonas (bem verdade que uma boa parte dos filmes que são feitos para esses eventos são de qualidade duvidosa).
Outra importante contribuição de Júnior Rodrigues é o projeto que tenta transformar a experiência de ir ao cinema em uma atividade de inclusão social com filmes que possuem o formato de Libras para os espectadores. A medida já foi adotada com sucesso nas últimas edições do Amazonas Film Festival.
Ele também tem suas obras cinematográficas no currículo como “Deprê de Pobrê” e o belo “Uayná – Lágrimas de Veneno”.
Legal é ver um cara como Júnior Rodrigues disposto a ensinar, dar os primeiros passos a outras pessoas interessadas por cinema, o que o torna uma figura mais do que especial em nosso meio cultural na atualidade.
Sérgio Andrade
O que o curta-metragem amazonense “Cachoeira” trouxe de prestígio ao cinema do Estado nos últimos dois anos, já seria o suficiente para incluir Sérgio Andrade em qualquer lista de cineastas locais mais importantes dos últimos tempos.
Porém, a ousadia em acreditar que é possível filmar em 35mm no Amazonas; a capacidade de transformar em curta uma obra desafiadora e conseguir um belo resultado no suspense “Criminosos”; a qualidade técnica excelente (principalmente da fotografia) e a densidade da trama de “Cachoeira” e, acima de tudo, a força e superação de rodar o primeiro longa-metragem do Amazonas em décadas (“A Floresta de Jonathan” deve ser finalizado ainda em 2012), o colocam como o nome mais pronto do cinema amazonense na atualidade.
Zeudi Souza
Quando dirigia o Set Ufam na TV Universitária, fui fazer uma matéria sobre as filmagens do mais novo filme de Zeudi Souza que iria mostrar as histórias do estádio Vivaldo Lima.
Durante a captação para fazer a reportagem, observava a maneira como ele trabalhava: corria de um lado para o outro, observava o melhor enquadramento, organizava a equipe, fazia teste de microfone, entrevistava e, também, atendia os chatos da imprensa.
Mesmo que ao fazermos uma análise de sua filmografia, encontremos uma irregularidade na qualidade dos filmes, tendo, por exemplo, o ótimo “Perdido” e o decepcionante “Colosso do Norte”, justamente o documentário sobre o Vivaldão, Zeudi é a figura clara do que é o cinema no Amazonas: garra, determinação, vontade e, claro, talento.
A PROMESSA – Rafael Ramos e Newton Gomes
“Ali na Esquina” e “Serviços Gerais”, os dois primeiros filmes de Rafael e Newton, foram sucessos de público e crítica, tendo vencido prêmios na Mostra Amazônica do Filme Etnográfico e no Unicine.
O reconhecimento nesses eventos faz justiça ao bom trabalho da dupla em seus documentários. Apostando em temas fortes que despertam interesse na população (“Ali...” dá vozes às garotas de programa de Manaus contarem suas experiências na profissão; “Serviços” mostra a luta por emprego na capital do Amazonas),as obras mostram a qualidade de Rafael e Newton em explorarem ao máximo o melhor de seus entrevistados.
Apesar da necessidade de melhorias na fotografia e montagem de seus documentários, Rafael e Newton formam uma dupla interessante e ousada, com uma energia vibrante em seus filmes.
OUTROS NOMES
É lógico que não dá para esquecer nomes como Anderson Silva, diretor de “O Picolé do Aranha” e “Rambú”; a turma do Coletivo Difusão com Michelle Andrews, Sávio Stoco; Janssem Cardoso (“O Conto da Rosa”); Leonardo J. Mancini do vencedor de três prêmios do Amazonas Film Festival 2011 com ‘Morto Vivo’; Bosco Leão (“O Rock que o Brasil não Viu”); Antônio Carlos Júnior (“O Terrorista”)...
Os saudosos Silvino Santos e o professor Narciso Lobo iriam se orgulhar dessa turma!
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