Por Diego Bauer
Apesar de apresentar falhas e optar pelo convencionalismo, suspense britânico não ofende a inteligência do espectador e apresenta bom desfecho
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O Despertar é um daqueles filmes que você assiste, e no final fica na dúvida se o que viu foi um bom filme com várias surpresas, ou um filme ruim, que apela para muitas reviravoltas previsíveis tentando se mostrar mais inteligente do que realmente é.
Bem, no fundo, o filme britânico é um pouco das duas coisas.
Dirigido pelo estreante em cinema, mas com boa experiência em televisão, Nick Murphy, O Despertar conta a história de Florence Cathcart (Rebecca Hall), uma espécie de “caça-fantasma”, que ganha a vida desmistificando possíveis casos de aparições de fantasmas, tendo inclusive escrito um livro que mostra todo o seu ceticismo em relação ao assunto. Certo dia, ela recebe a visita de um professor de uma escola, Robert Mallory (Dominic West), que afirma que há um fantasma de um garoto em seu colégio, que pode ter tido participação na morte de um dos alunos. Intrigada pelo caso, ela resolve ir até a tal escola, que dizem que era a antiga casa do fantasma, para investigar o caso.
Passando-se na Londres de 1921, o longa utiliza a primeira guerra mundial como pano de fundo. Seja para explicar que um momento como esse é propício para lembrar dos que se foram e até, numa tentativa desesperada de fugir da solidão, evocar seus fantasmas, mesmo que através do charlatanismo, como é mostrado na primeira cena; no remorso e certa culpa sofridos por aqueles que sobreviveram à guerra, mas que viram seus amigos morrerem, como é o caso dos professores do colégio; ou ainda na própria protagonista, que utiliza a morte de um ente querido na guerra, como estopim para investigar os fantasmas dos outros, meio que na esperança de que isso a ajude a se livrar dos seus próprios fantasmas.
Com o passar do filme, sentimos uma espécie de déjà vu, pois é inevitável não lembrar de outros títulos, como o fraco 1408 (2007), e os ótimos Os Outros (2001), Ilha do medo (2010) e O Sexto sentido (1999). Assim como acontece nesses filmes, vemos as certezas do protagonista diminuírem com o tempo, dando espaço a uma série de fragilidades.
E o que mais acontece no decorrer da história é a dúvida: será que o fantasma realmente existe? Será que ela está enlouquecendo? Alguém está armando tudo aquilo?
E infelizmente parece que o diretor preferiu não permitir que o filme permanecesse com essa dúvida no ar, pois preferiu seguir o caminho dos sustos óbvios e completamente previsíveis, que enfraquecem a tentativa de desenvolver um suspense psicológico, ao qual o filme parecia se propor no início.
O trabalho de Rebecca Hall é competente, embora apresente falhas, principalmente impostas pelo fraco roteiro. Mostrando-se, a princípio, como uma ateia cética, que não acredita em fantasmas, vida após a morte e qualquer coisa que remeta ao sobrenatural, Cathcart vai mostrando muitas fragilidades no decorrer da trama, causadas principalmente pela perda de uma pessoa. É claro que não há problemas em o personagem passar por uma transformação no decorrer da história, mas da maneira como ela é feita no filme, soa artificial, e rápida e fácil demais. De um minuto para outro, ela é a pessoa mais assustada da história. A impressão que fica é de que ela não era tão cética quanto parecia, e isso é um defeito grave que quase põe o filme a perder, pois mostra a fragilidade com a qual a personagem foi construída.
Os coadjuvantes do filme desempenham um competente trabalho. O destaque fica para Imelda Staunton, que vive a empregada Maud Hill, que dá interessante complexidade ao seu personagem, apresentando uma surpreendente surpresa no final. Também merecem destaque o jovem Isaac Hempstead Wright e Joseph Mawle, que apresentam um marcante trabalho. Dominic West também faz um bom papel, mas demonstra certas falhas, como a suposta gagueira que apresenta no início do filme, que desaparece no desenrolar da história.
O diretor de fotografia, Eduard Grau faz um bom trabalho criando um clima apreensivo e hostil para seus personagens, trazendo uma fotografia sempre escura e sombria. Outro fator ótimo do filme é a sua competentíssima direção de arte, em que a diretora Fiona Gavin apresenta cenários muito bem construídos e críveis, alem de optar acertadamente por cores mais sóbrias para ilustrar o momento vivido pela Europa durante aqueles anos.
Apesar de possíveis defeitos e escolhas duvidosas, O Despertar apresenta um desfecho interessante, que deixa o espectador com uma pontinha deliciosa de dúvida na cabeça no final, fazendo até com que relevemos certas falhas que vimos anteriormente.
Talvez poderia ter sido muito melhor do foi se não tivesse optado por escolhas tão fáceis pelo caminho, mas o filme não ofende a inteligência do espectador, e digamos que consegue se salvar nos últimos instantes.
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