segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Crítica: Cada um Tem a Gêmea que Merece, com Adam Sandler

Por Emanuelle Canavarro


Em 1996, foi firmada uma parceria de trabalhos medíocres que, por uma daquelas inexplicáveis obras do acaso, se estenderia pelos dias atuais. A primeira vez de Adam Sandler com Dennis Dugan resultou em “Um Maluco no Golfe”. Três anos depois veio “O Paizão”, mas foi de uns cinco anos para cá, que as produções começaram a render frutos (podres) – ao dar vida a comédias como “Eu os Declaro Marido e... Larry (2007)”, “Zohan – O Agente Bom de Corte (2008)” e a pérola da vez “Cada um Tem a Gêmea que Merece” (Jack and Jill,2011).

Se você é do tipo que ainda aposta suas fichas em Adam Sandler, esperando que um dia ele consiga finalmente fazer algo engraçado, desista. O longa é uma prova viva de que o ator chegou às profundezas da fossa subterrânea do Rio Amazonas e está fadado a um caminho sem chances de retornar. O gênero de comédia é o que paga as contas de Adam, mas talvez o ator esteja desperdiçando um formidável talento.

Lembra do drama “Reine Sobre Mim (2007)”, onde ele interpreta com maestria um personagem traumatizado que perdeu os familiares no 11 de setembro e se tornou um afetado psicologicamente? Bem que ele poderia explorar esse aparente potencial. Mas, é só um palpite.

Desnecessário. Eis a palavra que melhor define “Cada um tem a Gêmea que Merece”, uma comédia que não mede esforços para investir em uma série de piadas óbvias e previsíveis. A história, pensada por Ben Zook (Eu Odeio o Dia dos Namorados, 2009) e escrita por Steve Koren (Click, 2006), exagera em composições bizarras e descarta qualquer possibilidade de contar uma trama plausível. Como é de praxe nas produções em que estrela, Sandler encarregou-se de escrever a barafunda de seu próprio texto.

Um Sandler incomoda muita gente, dois Sandlers incomodam muito mais...

Brincadeiras à parte, o filme conta a história de Jack Sadelstein, um publicitário de sucesso, que mora em Los Angeles, tem dois filhos – Gary (Chand) e Sofia (Tougne) – e é casado com a bela Erin (Katie Holmes). Todos os anos, às vésperas do feriado de Ação de Graças, Jack recebe uma visitinha dos infernos – sua irmã gêmea, Jill, ressurge para azucrinar o juízo da família. Em uma performance ‘eddiemurphiana’, Sandler ganha dose dupla e uma versão travestida de enchimento, dentadura e peruca, para interpretar a solteirona de QI reduzido, com voz insuportável e sem a mais ínfima noção de convívio social.

No enredo, um dos principais clientes da agência de Jack quer porque quer Al Pacino em um comercial da Dunkin’ Donuts. Quando o protagonista resolve fazer a proposta ao ator veterano, uma contraproposta deixa todos boquiabertos: o nosso poderoso astro, no auge da melhor idade, rende-se aos (des) encantos de Jill e propõe que Jack troque a irmã por uma participação na campanha. Não precisa nem dizer que Jack aceitou de imediato, né? Depois da gravação, Al Pacino diz a Jack: "apague isso, queime, jogue fora e garanta que ninguém nunca veja". Muitos críticos defendem que o apelo da ficção deveria ter acontecido na vida real e que a passagem pode refletir uma espécie de autocrítica por parte de Dugan.

Se você resolveu dar uma chance ao filme e o assistiu só porque viu grandes nomes do cinema (leia-se “Al Pacino” e “Johnny Depp”) no elenco, assim como eu, com certeza teve uma decepção ainda maior. Oh raios, o que deu neles para participarem de um filme tão condenado ao fracasso? Sentaram no pudim? Viajaram na maionese e na batatinha? Enlouqueceram de vez ou será que a idade tem culpa no cartório?

As hipóteses são muitas mas, em um contexto geral, claro que os nossos fidedignos personagens estão há anos luz de serem os maiores problemas do filme – aliás, vamos reconhecer que, entre uma cena e outra, pode-se dizer que Al Pacino acaba tornando as passagens menos deprimentes.

O momento em que Jill quebra o único Oscar de Al Pacino, por exemplo, vale algumas risadas – pois, apesar de oito indicações ao prêmio, ao contrário do que parece, ele ganhou somente um. Sua conhecida técnica de interpretação o levou a soltar, aqui e ali, alguns diálogos dos clássicos “O Poderoso Chefão (1972)” e “Scarface (1983)”, o que também enriqueceu algumas cenas. Quanto ao Depp, em uma aparição efêmera e inofensiva, ele resolve dar o ar da graça em um jogo de basquete (vestindo uma camisa do Justin Bieber).

Apesar das piadas escatológicas, politicamente incorretas e preconceituosas em relação aos latinos, bem comuns na filmografia de Dennis Dugan, o filme ganha certa competência no quesito (d)efeitos especiais. Por um ângulo bem menos feliz, a trilha de Rupert Gregson-Williams, que vem se especializando nas comédias de Sandler, deixa a desejar ao atingir o cúmulo da obviedade em vários atos.

Enquanto isso, o figurino de Ellen Lutter valoriza o conceito de incoerência em Jill ao montar um guarda-roupa com uma salada de fruta de breguices, que varia de estilos que vão do colegial e jovial ao cafona e senhoril.

Mesmo com as críticas negativas, o novo filme de Sandler ainda conseguiu estrear com R$ 46 milhões na bilheteria norte-americana. Com um custo de R$ 141 milhões, é a pior estreia de uma comédia na carreira do ator desde “Little Nicky – Um Diabo Diferente”, com R$ 28 milhões, em 2000.

Sandler teve todos os seus filmes mais recentes detonados pela crítica americana, o que tem ajudado a reduzir cada vez mais a sua bilheteria. “Cada um Tem a Gêmea que Merece” não deve alcançar a marca dos R$ 177 milhões. Está mais do que escrachado: chegou a hora de Adam Sandler passear por outros gêneros, conhecer novos labirintos e se entregar a novas emoções.

Nota: 5,5

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