terça-feira, 29 de maio de 2012

Crítica: Battleship – A Batalha dos Mares, de Peter Berg

Por Diego Bauer

 
Antes de assistir a Battleship – A Batalha dos Mares ouvi comentários de que o filme era inspirado no jogo Batalha Naval (sim, aquele jogo de infância, em que você tem que adivinhar onde está o barco do oponente), e por razão disso se mostrava desinteressante.

De fato, o filme tem forte ligação com o jogo, mas não é por causa disso que ele é um desastre, embora isso também contribua.

O filme é a pataquada que é por conseguir cair em todos os clichês imagináveis do gênero, apresentar atuações que dão vergonha alheia, uma direção afetada e totalmente sem criatividade e (a cereja do bolo) por ter diálogos péssimos, que há muito tempo não tinha o desprazer de ver em cena.

 
O blockbuster conta a história de Alex Hopper (Taylor Kitsch), um rapaz desajustado que já está quase chegando a fase adulta e parece não querer nada com nada na vida. Depois de um episódio com a polícia, o seu irmão (Alexander Skarsgard) decide levá-lo para a marinha, onde terá que seguir uma disciplina mais rígida. Depois de certo tempo, ele e a tripulação da marinha encontram um objeto no mar, e mais tarde descobrem que terão que enfrentar um exército vindo de outro planeta, que possui uma tecnologia superior, e quer acabar com a existência da raça humana.

Basicamente os primeiros cinquenta minutos são apenas para introduzir os personagens à história, ou seja, uma pura encheção de linguiça.

 
Nessa parte o filme tenta imprimir um estilo mais de comédia, mas depois de ver um desfile de cenas constrangedoras, ficava sempre me perguntando: “Eu deveria estar achando isso engraçado?”.

Mas estou me adiantando.

Essa sinopse já promete algo bem ruim, mas o filme conseguiu superar até as expectativas mais extravagantes.

 
Não sei nem por onde começar.

Vou começar pelos clichês. Digo sem medo de estar enganado: em todas as cenas que o filme se propõe a fazer querendo realizar algo de qualidade, ele se rende ao clichê. E não me refiro a clichês inofensivos, mas sim às soluções mais fáceis, preguiçosas, sem um pingo de criatividade.

Perdi as contas de quantas vezes o combo, câmera lenta, trilha sonora de superação e cara de determinação do ator foram usados durante o filme.

Para não me alongar demais, pois teria que usar muitas páginas pra descrever, vou citar dois momentos em que isso fica muito explícito.

 
A primeira é quando vemos o filme querendo fazer uma espécie de homenagem aos marinheiros aposentados, e também aos combatentes deficientes físicos, utilizando um sentimentalismo barato, causando apenas vergonha alheia.

E a mais patética de todas, quando Hopper se mostra desanimado e um soldado chega para ele e diz a frase mais óbvia e previsível: “se você não nos ajudar, quem vai?”.

No take seguinte os dois saem da sala, com uma trilha de superação tocando ao fundo, caminhando em câmera lenta, câmera o filmando de baixo para cima para demonstrar superioridade e com a cara: “vamos salvar o mundo!”.

 
Se tem algo que pode ser eleito como o principal responsável por essa bizarrice é o roteiro. Com diálogos que chegam a assustar de tão ruins que são, e com soluções tão preguiçosas, mal pensadas e mal executadas, esse elemento impossibilitou qualquer possibilidade de se fazer algo com o mínimo de qualidade.

Como posso acreditar que a filha do comandante se apaixonou pelo Alex depois dele ter feito um papel de palhaço daquele? Como ele se transformou num militar responsável, preocupado em salvar o mundo de uma hora pra outra? Como posso acreditar que ele se tornou o comandante daquele barco, tendo chegado ontem à marinha? Como posso me convencer que o marinheiro descobriu o ponto fraco dos extraterrestres graças a uma lembrança de um animal de estimação?

 
Coisa típica de filme de ação/blockbuster/popularesco ruim: sempre que acontece alguma explosão, um ataque, ou algo do tipo, o take seguinte é uma frase de efeito de alguém de dentro do barco.

A recordista nisso foi a personagem interpretada pela Rihanna. Sempre com algo do tipo, “Ai, meu Deus”, “Eles vão atacar!” “UAU UAU UAU”. A melhor de todas é quando ela diz “Eu não quero estar aqui quando chegar esse dia”.

Constrangedor.


 
A direção de Peter Berg é o que de existe de pior e mais viciado do cinema norte-americano. Utilizando planos desnecessários (tomadas aéreas, no chão, closes em momentos óbvios), criando um desfile de cenas desnecessárias, que em nada contribuem para o andamento do filme, e com erros típicos de quem se preocupa a todo custo fazer sucesso em bilheteria, o “cineasta” faz de tudo pra videoclipar o seu filme.

Um exemplo disso é a cena do jogo de futebol. Um desfile de erros.

O primeiro, e mais grotesco de todos, é a nitidez de que ele não faz a menor ideia do que é o futebol, pois um jogador pede tempo no decorrer do jogo! Mas como se não bastasse, na cena da cobrança do pênalti, um emaranhado de planos desnecessários, que eu tenho certeza que ele achou que estava arrasando. Plano de frente do jogador para a bola. Plano no goleiro. Plano nas costas do jogador olhando o goleiro. Close na bola. Close no goleiro. Close no jogador. Close nos pés caminhando pra bater o pênalti. Close no jogador. No goleiro. Na bola. No pé encostando na bola. Close no jogador com cara de esforço. Plano mostrando a torcida. Close no irmão de Alex. No treinador. Plano americano nos companheiros de equipe torcendo. Nos adversários secando. Plano nas costas do jogador vendo a bola ir pra fora.

Ufa! Cansaram? Agora imaginar assistir duas horas disso.

É muito difícil falar sobre as interpretações do filme, pois de certa maneira eles são sabotados pelo horroroso roteiro. De modo geral elas acompanham o nível do restante do filme e são bem ruins.

 
O protagonista, Taylor Kitsch, sendo bondoso, pode ser considerado carismático, e só. Liam Neeson é um coadjuvante de luxo, pouco aparece e está correto no estereótipo de comandante durão.

 
Rihanna está bem caricata, em um personagem feito apenas para falar frases de efeito, ou seja, completamente desnecessária em qualquer filme com o mínimo de conteúdo, mas aqui acaba ganhando uma importância sem razão de existir.

 
Quem está muito mal é o irmão de Alex, vivido por Alexander Skarsgard. O que é aquilo? A cena em que ele dá uma bronca no irmão após ele ser preso é uma das atuações mais exageradas que eu vi há tempos.

 
Quem tenta fazer algo com um pouco mais de seriedade é Gregory D. Gadson, que vive um marinheiro deficiente que ajuda a salvar o mundo. Mas infelizmente os seus esforços para atuar e demonstrar emoção chegam a ser risíveis.

Justiça seja feita, os efeitos visuais e, principalmente, a edição de som têm um trabalho primoroso. É possível perceber que um trabalho meticuloso e detalhado foi realizado para vermos algo dessa qualidade, o que contradiz completamente o resto do filme.

Depois de mais de duas horas desse filme, que para mim passaram como se fossem doze, me senti emburrecido, e quase irritado, por saber que uma grande quantidade de dinheiro foi jogada fora pra se produzir uma atrocidade dessas.

Mas pelo menos o Framboesa de Ouro já tá garantido!

 
NOTA: 2,0

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