sábado, 30 de abril de 2011

Crítica: Thor

Por César Nogueira

A Marvel Studios vai lançar o filme dos Vingandores ano que vem. Os preparativos para ele são produções que contam a história dos heróis vindos das histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee. O primeiro foi Homem de Ferro, de 2008. Agora, mais um tijolo é posto nesse muro, com Thor. Tijolo esse, aliás, cheio de falhas e furos, apesar de alguns poucos momentos inspirados.


Thor (Chris Hamsworth) é filho do soberano de Asgard, Odin (Anthony Hopkins) e irmão de Loki (Tom Hiddleston). O reino deles tem um acordo de paz com os gigantes do frio planeta Jotunheim. Thor, o futuro sucessor do trono de Asgard, resolve invadir o mundo gelado, com bravos e leais amigos mais o irmão, para satisfazer o seu orgulho. Sua atitude vaidosa causa um incidente diplomático e, por causa disso, é exilado sem nenhum poder no mundo dos humanos pelo pai, que depois entra em coma. Enquanto isso, Loki tenta virar o soberano de Asgard e, com muito mais vontade, busca a aprovação do pai e a vitória perante o irmão. Na Terra, Thor encontrará Jane (Natalie Portman) e sua equipe, que vão ajudá-lo a voltar ao seu mundo e reconquistar o trono. De quebra, o herói vai aprender valores como humildade e gratidão.


Os momentos cômicos se destacam em Thor. Trechos como Jane atropelando o protagonista, ou como o deste se embebando com o doutor Erik (Stellan Skarsgard), sem esquecer as tiradas da estagiária Darcy (Kat Dannings), mostram o timing cômico do diretor, Kenneth Branagh. Outro acerto dele foi colocar Asgard, fruto da visão de mundo dos vikings, como um planeta distante em vez de um mundo paralelo. Assim, abriu-se a possibilidade de vê-lo como um ambiente multiétnico. Isso não contribui em nada para o desenvolvimento da história, mas não deixa de ser interessante ver lendas nórdicas personificadas em negros e asiáticos. Em Thor vemos, pela primeira vez nos filmes, a força da S.H.I.E.L.D., organização que coordena os Vingadores. Inclusive há uma aparição de Nick Fury (Samuel L. Jackson) depois dos créditos, assim como acontece em Homem-de-Ferro. Já Natalie Portman desempenha o seu papel com a competência absurda de sempre. Mostraria ainda mais por que mereceu ganhar o Oscar deste ano se Jane fosse uma personagem, e não um tipo.


A pesquisadora é uma workaholic, solteirona e desastrada que encontra o amor em Thor. Bridget Jones é menos epidérmico que isso, diga-se de passagem. Mas os problemas não param por aí. A primeira parte, que mostra por que Thor foi banido de Asgard, é maçante, com direito a um sem-número de nomes estranhos que confundem o espectador em vez de situá-lo, o propósito original. Por causa disso, os belos planos-gerais em computação gráfica do mundo, que destacam a imponência do lugar, não sustentam esse primeiro quarto do filme. Segundo a mitologia nórdica, Odin é um deus altivo e irascivo, enquanto Loki se destaca pelo mal-caráter. Foi um acerto abordar o todo-poderoso de Asgard como um homem sábio e autocontrolado. Por outro lado, Loki foi transformado em um sujeito inseguro, rancoroso e cheio de mimimis. O seu gosto por pegadinhas é dito, mas não é mostrado. Depois de vilões complexos como o Coringa de Heath Ledger, fica um pouco difícil encarar um que no fundo só quer a aprovação do pai. Também é difícil engolir a atuação de Hamsworth. O sujeito, uma variação da espécie de brucuts como Dolph Lundgren e Steven Seagal que surpreendentemente consegue sorrir, não consegue passar a emoção necessária em momentos que deveriam nos emocionar, como a redenção cristã (e rasteira) do personagem ou quando não consegue recuperar os seus poderes. Esta frustração dele evidencia um dos inúmeros furos de roteiro de Thor: um sujeito que foi imobilizado com uma simples injeção consegue se infiltrar numa base de pesquisas protegida por supersoldados que usam metralhadoras... Bem, pior que isso, só mesmo a sua rendição e a sua soltura, orquestrada por Jane e feita por Erik.


O filme dos Vingadores é ansiosamente esperado. Thor é cheio de falhas, mas, se não o levarmos tão a sério, se o encararmos como parte de um todo maior, e se nunca nos esquecermos da presença linda e magnética de Natalie Portman, podemos até passar panos-quentes e ver duas horas de nossas vidas passar rapidamente. É preocupante, porém, ver que os filmes de cada vingador estão, em média, muito irregulares. Será decepcionante ver um filme tão aguardado se tornar uma produção óbvia e capaz de empolgar só os fãs dos quadrinhos.


Que venha Capitão América.

NOTA: 6,5.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cinema em 2011 - Calmo até demais


1º – Rio (4,2 milhões)
2º – Enrolados (3,9 milhões)
3º – De Pernas Pro Ar (3,1 milhões)
4º – Bruna Surfistinha (2,1 milhões)
5º – Esposa de Mentirinha (2 milhões)
6º – O Turista (1,7 milhão)
7º – Caça às Bruxas (1,49 milhão)
8º – Cisne Negro (1,45 milhão)
9º – Zé Colmeia (1,43 milhão)
10º – Gnomeu & Julieta (1,1 milhão)


POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

A lista acima mostra quais são os filmes mais assistidos pelo público brasileiros nos quatro primeiros meses do ano.

Como se pode ver, as animações predominam na lista: são 4 ao todo, sendo que “Rio” e “Enrolados” lideram com ampla margem de vantagem para o terceiro colocado. 

Pensar ainda que 2011 ainda reserva as continuações de “Kung Fu Panda” e “Carros” faz o setor da animação ficar mais feliz.

Ouro ponto que chama a atenção é o sucesso do filme “De Pernas Pro Ar”, estrelado por Ingrid Guimarães que superou em um milhão de espectadores o polêmico e bem-divulgado “Bruna Surfistinha”, com Deborah Secco. Já “Vips”, com Wagner Moura e que recebeu boa divulgação na mídia, não apareceu no Top 10.

Um fato curioso de se notar é que as fitas de ação pouco sucesso tiveram no país. Somente as bombas “O Turista” e “Caça às Bruxas” conseguiram uma vaguinha no ranking. Na minha opinião, a baixa qualidade dos lançamentos (“Santuário”, “Besouro Verde”, “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles”, “Sucker Punch”)   desse gênero tão popular leva a essa ausência. 

Nada que a chegada nos próximos meses de “Piratas do Caribe 4”, “Harry Porter e as Relíquias da Morte – Parte 2”, “Amanhecer”, “Velozes e Furiosos 5”  e “Lanterna Verde” não possa resolver.

 
Já os indicados ao OSCAR 2011 também não impressionaram muito o público. Exceto “Cisne Negro” que tinha como chamariz a excelente a atuação de Natalie Portman e ser um suspense bem amarrado, os outros destaques da premiação não conseguiram chamar a atenção de quem vai aos cinemas. “O Discurso do Rei”, “Bravura Indômita”, “127 Horas”, “O Vencedor” são filmes mais destinados a um público restrito, mesmo possuindo histórias acessíveis e contarem com grandes estrelas de Hollywood ao contrário de longas mais alternativos como “Inverno da Alma” não levaram o público aos cinemas.


 O fato é que 2011 não tem sido muito generoso para os cinéfilos. Até o momento, não houve um lançamento indiscutível, um filme que tenha conquistado o público e a crítica de maneira arrebatadora e capaz de fazer o ano inesquecível.

Torçamos que os novos lançamentos melhorem a média de 2011!

Cinco excelentes filmes do ano:


 Exit Through the Gift Shop - Nota: 8,0

 O Discurso do Rei - Nota: 8,0

 Bravura Indômita - Nota: 8,0

 
 127 Horas - Nota: 8,0
 Rango - Nota: 7,5

Três bombas do ano:

Brasil Animado - Nota: 4,0
Uma Manhã Gloriosa - Nota: 5,5
Sucker Punch – Sem Limites - Nota: 5,5

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 29 de Abril

 

Filme: Thor
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Natalie Portman, Chris Hemsworth, Anthony Hopkins, Samuel L. Jackson
Sinopse: Prestes a ser coroado Rei de Asgard e suceder seu pai Odin (Anthony Hopkins), o arrogante Thor (Chris Hemsworth) é expulso de seu lar e enviado à Terra por ter reiniciado uma antiga guerra. Obrigado a conviver com mortais, ele deverá aprender a ser um verdadeiro herói para combater as forças do mal que ameaçam a sobrevivência de seu mundo.
Duração:114 mins
ONDE: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: Água Para Elefantes
Direção: Francis Lawrence
Elenco: Robert Pattinson, Reese Witherspoon, Christoph Waltz
Sinopse: Jacob Jankowski (Robert Pattinson) é órfão e vive na era da Grande Depressão. Sozinho, ele decide entrar num trem de passagem e acaba em um mundo maluco de circo e fica responsável por cuidar do zoológico, por sua experiência como estudante de veterinária. Lá ele conhece a domadora de cavalos Marlena (Reese Whiterspoon), casada com August (Christoph Waltz), treinador dos animais circenses. Surge um triângulo amoroso entre Jacob, Marlena e August.
Duração:121 mins
ONDE: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Harrison Ford e sua fase negra

POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

"Uma Manhã Gloriosa” é um filme para ser esquecido.

Roteiro falho, com furos absurdos (o repórter “seqüestra” o carro da emissora, faz um link ao vivo acusando gravemente o governador se baseando apenas em fontes que não podem ser reveladas só para mostrar que ele é o cara?!), Patrick Wilson e Diane Keaton apagados, Rachel McAdams afetadíssima, quase tendo um ataque epilético somente para aparentar que a personagem dela é empolgada e luta até o fim, edição equivocada, principalmente no terceiro ato, trilha sonora mal inserida e direção equivocada de Roger Michell (“Um Lugar Chamado Notting Hill”) são justificativas de sobra para tornar o longa medíocre. 

Porém, observar a atuação de Harrison Ford é constatar a decadência de um gigante. Ainda mais se lembrarmos que ele interpretou dois ícones da história do cinema: o mercenário de bom coração Han Solo na trilogia “Star Wars” e nada mais nada menos que Indiana Jones nos quatro filmes da série.

 
Em “Uma Manhã Gloriosa”, Ford parece estar incomodado de fazer o filme: apela para caras e bocas com o intuito de mostrar que seu personagem é rabugento e está insatisfeito com o trabalho, o que lembra em muitos momentos a patética atuação de Clint Eastwood em “Gran Torino” que fazia cara de buldogue bravo e só faltava latir para espantar os chineses que o enchiam o saco no longa dirigido pelo próprio em 2008.
Além disso, os momentos de humor nos quais Ford poderia se destacar são um fracasso, pois ele não consegue se expressar bem, chegando a ser constrangedor as horas em que tenta ser engraçado.

A situação é tão complicada que não dá nem para dizer que ele está no “piloto automático”, pois não creio que seria tão ruim se fosse o caso.

 
Harrison Ford vê a carreira declinar desde 1997, quando lançou “Força Aérea 1” e “Inimigo Íntimo” seus últimos sucessos. De lá para cá, o eterno Indiana Jones se meteu em uma série de filmes inexpressivos (“Seis Dias e Sete Noites”, “Revelação”, “Firewall”) até fracassos de público e crítica (“Divisão de Homicídios”, “Decisões Extremas”).

 Apesar de não ser tão talentoso como Al Pacino, Robert De Niro e Daniel Day Lewis, “monstros” da atuação desses últimos 40 anos do cinema americano, Ford, assim como Tom Hanks, tem potencial dramático excelente e possui carisma de sobra.

Porém, enquanto Hanks optou por produções mais sérias e trabalhou com diretores do naipe de Steven Spielberg, Robert Zemecski e os irmãos Coen, Ford preferiu as fitas de ação e suspenses menores.

 
Ator que estrelou clássicos como “Blade-Runner – O Caçador de Andróides” (1982), “Star Wars” (1977, 1980, 1983), “Indiana Jones” (1981, 1984, 1989), além dos excelentes “A Testemunha” (1985), “Acima de Qualquer Suspeita” (1990 e “O Fugitivo” (1993), Harrison Ford tem história e talento suficientes para conseguir papéis em filmes melhores. 

Basta vontade e desejar mudar o rumo de uma carreira em declínio assustador nesses últimos anos.

Quem sabe essa recuperação não leve o ator a faturar uma certa estatueta dourada ainda inédita em sua carreira...


Novos Clássicos: “Moulin Rouge: Amor em Vermelho”

por Gabriel Oliveira
Moulin Rouge - Pôster
Em uma cena fundamental de Moulin Rouge, o Argentino Narcoléptico, ao notar a aflição de Christian, ciente de que Satine está na torre com o Duque, o adverte sobre a tragédia que cerca o amor impossível e, assim, lhe apresenta ao tango: “Nunca se apaixone por uma mulher que se vende. Sempre acaba mal! (...) Temos uma dança nos bordéis de Buenos Aires. Conta a história de uma prostituta e um homem que se apaixona por ela. Primeiro, há o desejo. Depois... paixão! Então, suspeita. Ciúmes! Raiva! Traição! No amor pela melhor oferta, não há confiança. Sem confiança, não há amor! O ciúme! Sim, o ciúme... vai levá-lo à loucura!” 

O tango se confunde, então, com a história de amor contada em Moulin Rouge: Amor em Vermelho, do diretor australiano Baz Luhrmann, responsável por Romeu e Julieta (aquele com o Leonardo DiCaprio) e pelo recente Austrália. Christian (Ewan McGregor) é um jovem escritor, defensor dos ideais boêmios: Verdade, Beleza, Liberdade e, acima de tudo, Amor. No entanto, embora defenda ardentemente o poder do amor, ele nunca se apaixonou. Pelo menos não até conhecer Satine (Nicole Kidman), a cortesã mais desejada do Moulin Rouge, o bordel situado nos confins de Montmartre, e que reúne gente de todo tipo. O que poderia ser apenas um amor platônico torna-se realidade, mas o casal deve enfrentar o ciúme do Duque de Monroth (Richard Roxburgh), o principal investidor da peça a ser realizada no estabelecimento.
Lendo a sinopse que fiz acima, o enredo pode parecer simplório, e à primeira vista, não haveria nada demais no filme. Mas é aí que reside o grande trunfo de Moulin Rouge: atribuir uma roupagem totalmente nova a uma história já conhecida, sem cair na obviedade – e vale apontar que é curioso que, embora sejamos advertidos logo no início a respeito do fim trágico do romance, acompanhamos toda a trama com envolvimento e ansiedade. Assim, Baz Luhrman constrói magnificamente um cinema de qualidade; um verdadeiro espetáculo. E definir o filme como um espetáculo não é exagero. 

Afinal, o longa se inicia com o abrir das cortinas, como se estivéssemos no teatro, enquanto assistimos a um maestro no canto inferior da tela conduzindo efusivamente a música-tema da Fox, e da mesma forma, termina com o fechar das cortinas. É o poder da metalinguagem que cerca o filme todo: temos uma peça, sendo escrita por Christian e encenada por toda a trupe do Moulin Rouge, sobre um pobre tocador de cítara que se apaixona por uma cortesã, objeto de desejo de um terrível marajá. Trata-se de uma clara metáfora do próprio caso de amor de Christian e Satine, acontecendo bem debaixo do nariz do Duque. A peça, por sua vez, está dentro de um livro, escrito ao longo do filme, em que Christian, convencido pela amada, narra a história de amor deles. O livro, dentro de um musical, que, por sua vez, está dentro de todo um espetáculo destinado a emocionar o espectador. O tango serve também como uma referência ao turbilhão de sentimentos que faz mover a história toda. Em um momento da dança, por exemplo, o argentino agarra os braços da moça com força, movimento repetido logo depois pelo Duque, tomado pela raiva. No mais, o filme como um todo pode ser tomado como uma referência ao próprio cinema como forma de entretenimento. Mas esse não é o ponto agora. 

Moulin Rouge - El Tango de Roxanne
Referências, aliás, são a base para a construção de Moulin Rouge. Não é de hoje que se utilizam referências pop no cinema; a filmografia de Quentin Tarantino é prova suficiente disso. No entanto, inserir, por exemplo, o hino grunge Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, no ambiente parisiense romântico de 1899, de forma a ter uma função dentro do filme e não ser apenas uma referência gratuita, não é tarefa fácil, mas notoriamente alcançada em Moulin Rouge. Da mesma forma, grande parte da trilha sonora é constituída por trechos de músicas já existentes, ou releituras de algumas canções. É o caso de Roxanne, do The Police, que ganha uma poderosa versão em ritmo de tango; Your Song, de Elton John; Diamonds are a Girl’s Best Friend, imortalizada por Marilyn Monroe, e cruzada nesta versão com a Material Girl de Madonna; e Elephant Love Medley, uma canção que começa com All You Need Is Love, dos Beatles, passa por Pride (In the Name of Love) do U2 e Heroes de David Bowie, e termina com o agudo de I Will Always Love You, de Whitney Houston – tudo isso da maneira mais natural possível. Além de tudo, há também as óbvias referências à ópera e as coreografias muito bem orquestradas, como a da supracitada El Tango de Roxanne, que ajudam a manter o filme com o status de espetáculo, além das alusões ao próprio cinema, como a Lua de Georges Méliès. E o que dizer da aparição surpresa da cantora pop Kylie Minogue, como a Fada Verde do absinto? 

O desvario visual em que embarcamos logo no início do filme, aliás, nos dá a sensação de que bebemos o absinto junto com Christian, e estamos tão delirantes quanto ele. Tudo graças a, desde referências cartunescas (como na cena em que se cria, de improviso, o enredo da peça para o Duque), a imagens quase surrealistas, apresentadas com tanta rapidez em cortes rápidos e sucessivos — o processo de montagem de Moulin Rouge não deve ter sido muito tranqüilo para Jill Bicock, parceira cativa de Baz Luhrmann. Além disso, os outros aspectos técnicos do filme também são muito bem realizados, desde o figurino das cortesãs, dos boêmios, dançarinos e outras figuras da noite de Montmartre, até à belíssima direção de arte. 

Moulin Rouge - Diamonds are a Girl's Best FriendAinda por cima, o longa revela possuir um elenco primoroso. Nicole Kidman está excelente (e vale dizer, belíssima), encarnando Satine como a dançarina ora frágil, ora sedutora, ciente de sua beleza e talento, e que, embora relutante no início, se encanta pelo amor de Christian. E se havia alguma possibilidade de Ewan McGregor ser ofuscado por ela, isso não acontece. Seu escritor romântico, idealista e inseguro é extremamente comovente, e de quebra, tem uma voz ideal para as canções. Vale lembrar também de Jim Broadbent, como o dono do Moulin Rouge, de olhos e bochechas grandes, responsável pelos melhores toques cômicos da trama (especialmente sua interpretação inusitada de Like a Virgin), e Richard Roxburgh, como o ciumento e cruel Duque de Monroth e sua vozinha aguda, ambos os personagens com um certo toque caricatural. 

Há ainda muito a se falar sobre Moulin Rouge, mas o fato é que, sem dúvida alguma, trata-se de um novo clássico. Não só por ser um musical original, que transforma uma história aparentemente simples em um filme poderoso e emocionante, mas também por ter sido o responsável pelo renascimento do gênero, abrindo portas para o surgimento de filmes como Chicago. Sendo assim, é realmente lamentável que tenha sido mais um filme ignorado pelo Oscar, que preferiu premiar Uma Mente Brilhante naquele ano. Apesar de ser odiado por muitos (Haters are gonna hate. Always.), seja por sua montagem rápida ou por ser pretensioso, Moulin Rouge é uma experiência cinematográfica completa, que emociona e fascina, e é lembrado por muito tempo depois do cair das cortinas.
Moulin Rouge - Pôster (2)
“A coisa mais importante que se pode aprender na vida é amar. E em troca, ser amado.”

terça-feira, 26 de abril de 2011

Classic Movies - Fanny & Alexander (1982)


Quando Ingmar Bergman rodou Fanny & Alexander em 1982, parecia o fim de uma das carreiras mais brilhantes que o cinema já tinha visto. Nascido em 1918, na Suécia, Bergman conseguiu, durante 4 décadas, fazer filmes que superaram as dificuldades de produção, o estranhamento de Hollywood e até os novos trendsetters que o sucederam.

Vindo do teatro, Bergman ficou marcado principalmente como autor de dramas complexos, onde discutia relações familiares e amorosas, como em Cenas de um Casamento e Gritos e Sussurros, mas também como o existencialista de O Sétimo Selo e Morangos Silvestres, onde debate filosoficamente a existência de Deus e o medo da morte.

Com regularidade invejável (que seu discípulo mais famoso, Woody Allen, procurou imitar), o diretor fez de um a três filmes por ano, quase todos ótimos, alguns realmente memoráveis (além dos citados acima, Noites de Circo, Persona e Da Vida das Marionetes também são imperdíveis). Uma carreira triunfal. Até que, em 1976, uma denúncia infundada (e escandalosa) de evasão fiscal fez o diretor ser investigado pela Justiça sueca. A celeuma provocada foi tamanha que o diretor teve de deixar o país e se exilar na Alemanha. Em crise e vendo sua reputação desmoronar, Bergman concebeu o que deveria ser a sua despedida do cinema.

Primeiro, o cenário: a Suécia do início do século XX, com seus campos nevados, suas casas coloniais, barrocas e góticas, as igrejas, as carruagens. Depois, as pessoas: familiares, amigos e empregados da casa do pequeno Alexander e de sua irmã, Fanny. Por último, a história: o difícil processo de amadurecimento dos protagonistas, às voltas com a morte do pai, a separação da família e os maus-tratos do padrasto. Para seu trabalho final, Bergman escolheu fazer um retorno à infância, um acerto de contas com o passado. O resultado é a sua melhor obra.

Mais acessível que muitos de seus grandes filmes, e ao mesmo tempo mais denso, Fanny & Alexander é ideal para quem deseja conhecer o diretor. Todos os seus temas aparecem em uma trama simples, direta e honesta. Mesmo quando fica mais sério, o filme não cai na sisudez: sequências de festa convivem lado a lado com monólogos sobre a infelicidade e a solidão. A trama criativa também consegue unir o realismo seco ao olhar fantasioso das crianças. E, como sempre, cada personagem, mesmo os que têm um minuto de tela, são muito bem escritos, parecem ter vida própria fora do filme.
 

Mas, talvez, a melhor coisa a ser dita sobre Fanny & Alexander (e sobre o artista Bergman) é a sua capacidade de revelar o humano. O diretor não acreditava no mero realismo: para Bergman, certas emoções e impulsos só o cinema seria capaz de registrar. É esse poder de capturar uma epifania – um tremor nos lábios, um olhar de desamparo, a sensação de estar apaixonado – o atestado maior de seu gênio, coisa que ele pode compartilhar com outros raros criadores. E em poucos filmes seus esta capacidade é tão evidente quanto em Fanny & Alexander. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cine Vídeo Tarumã - Filmes Inéditos em Manaus

O tema da semana no Cine Vídeo Tarumã são filmes inéditos nos cinemas de Manaus.

Para quem não conhece, o cineclube é comandado pelo professor Tom Zé, da UFAM, e pertence ao setor de Comunicação Social da Universidade.

As sessões começam às 12:30hrs no auditório Rio Negro, no ICHL, no Campus da UFAM, no bairro Coroado, zona sul de Manaus. A entrada é gratuita.

Confira a programação da semana:



Filme: O Corte
Direção: Costa-Gravas
Elenco: José Garcia, Karin Viard, Geordy Monfils
Sinopse: Após quinze anos de leais serviços como executivos de uma fábrica de papel, Bruno D. é despedido com centenas dos seus colegas devido a corte de despesas.Três anos se passam sem que ele encontre um novo emprego. Agora ele está disposto a tudo para conseguir um novo posto, inclusive a partir para a ofensiva.
Quando: Segunda-Feira (25/04)

Filme: Ellie Parker
Direção: Scott Coffey
Elenco: Naomi Watts, Mark Pellegrino, Chevy Chase, Scott Coffey
Sinopse: Ellie Parker (Naomi Watts) é uma mulher hiper-atarefada, que vive tentando um papel de atriz em algum longa-metragem. Ela constantemente muda de roupa, maquiagem e personalidade, indo de um lado para outro para participar de entrevistas de elenco. Só que seu namorado Justin (Mark Pellegrino), sua melhor amiga Sam (Rebecca Riggs) e seu novo caso Chris (Scott Coffey) não a apóiam em suas tentativas. Para piorar ainda mais sua situação, seu agente Dennis (Chevy Chase) está prestes a dispensá-la, o que apenas não fez ainda por não saber como lhe dar a notícia.
Quando: Quarta-Feira (27/04)
 
Filme: Visões
Direção: Christopher Hampton
Elenco: Antonio Banderas, Emma Thompson, Horacio Flash
Sinopse: Em plena ditadura militar na Argentina na década de 70, Carlos Rueda (Antonio Banderas) é um diretor de teatro infantil que tenta levar uma vida tranquila com sua família. Porém sua vida muda radicalmente quando sua esposa, Cecilia (Emma Thompson), que é jornalista, escreve uma matéria sobre o desaparecimento de crianças. Após a publicação da matéria, a própria Cecilia some. É quando Carlos, que parte em seu encalço, descobre que possui um dom para encontrar pessoas desaparecidas, decidindo usá-lo para encontrar sua esposa e também para ajudar outras pessoas que estão em situação semelhante a dele.
Quando: Sexta-Feira (29/04)

domingo, 24 de abril de 2011

Crítica - Rio


POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

Simples e complexo são quase antônimos, mas também são os melhores adjetivos para classificar “Rio”, animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha.

O filme conta a história da arara macho Blu, levada para a gélida Minnesota, nos Estados Unidos, após ser capturado ainda bebê no Rio de Janeiro por traficante de animais. Por acasos do destino, o nosso herói encontra a estudante Linda que o domestica, criando uma relação afetuosa entre os dois. Porém, a chegada do cientista brasileiro Túlio muda o rumo da vida da dupla: Blu, por ser o último de sua espécie, precisa ir até o Rio de Janeiro, onde está a única fêmea de sua raça, a bela e brava Jewel e acasalar com ela. Lógico que o plano aparentemente simples, se transforma em uma grande aventura, com direito a uma ave malvada, bichos fofinhos, samba, carnaval, futebol, favelas e a beleza da Cidade Maravilhosa.

 
Neste trabalho, Carlos Saldanha consegue mostrar evolução ao contar com coesão a história ao contrário do que acontecia com os três filmes da série “A Era do Gelo”, nos quais era incapaz de fazer uma ligação entre os personagens principais e o esquilo Scrat. Em “Rio”, o ritmo é veloz e não dá tempo para o espectador se aquietar entre uma cena de ação e outra, o que esconde as falhas do frágil roteiro de Don Rhymer (autor da inesquecível trilogia “Vovó...Zona”), incapaz de dar a profundidade necessária a momentos que transformam um filme correto em algo inesquecível. 

 
Três trechos ilustram bem esses problemas: a rapidez com que a relação entre Blu e Linda é mostrada, exibida em poucas cenas durante o curto crédito inicial, não consegue estabelecer o carinho que os personagens sentem um pelo outro, tendo conseqüências diretas com nossa preocupação durante o drama que eles vivem no segundo e terceiro ato; a forma como o romance entre Blu e Jewel é construída mostra-se frágil, pois não há um momento em que é possível vê-los se apaixonando, acontecendo tudo de repente para já partirmos para mais um momento de ação; e por último, os intrusivos números musicais servem para explicar de maneira breve, sem maior aprofundamento, uma parte importante da personalidade de determinados personagens, atrapalhando qualquer tipo de compreensão mais profunda da razão deles tomarem certas atitudes. Nesse quesito, o vilão da história é o mais prejudicado
Se o roteiro de “Rio” não é dos mais elaborados, os complexos efeitos criados pela equipe da Blue Sky para fazer o filme são dignos de OSCAR. Observar a delicada movimentação das penas das araras é um deleite para quem é cinéfilo tal o cuidado com que é feito, permitindo que seja possível até pensar que são reais. A cena em que Blu e Jewel estão em cima de uma asa-delta em um passeio panorâmico sobre o Rio de Janeiro é o exemplo mais nítido disso, já que vemos os pêlos de suas asas terem movimentos diferentes e variados de acordo com as rajadas de vento. Além disso, a reconstrução dos principais pontos turísticos é excelente, passando desde a energia das praias de Copacabana e Ipanema até a boemia dos Arcos da Lapa. Isso para não falar da impressionante seqüência na Sapucaí, clímax do filme, um verdadeiro show de cores e detalhes, transportando o espectador para o meio do sambódromo.

A impressão que fica ao final de “Rio” é a de um filme correto, mas nada brilhante. Com um pouco mais de ousadia no roteiro, a obra de Carlos Saldanha deixaria de ser apenas mais uma animação e grande cartão-postal do Rio de Janeiro, tornando-se uma obra páreo para os melhores filmes da Pixar.
NOTA:7,0



PS: Já escutei críticas de que a animação de Carlos Saldanha faz um retrato muito bonito do Rio de Janeiro esquecendo os problemas da cidade carioca.
Pura bobagem!
Se for assim, podem condenar também Woody Allen quando ele realizou inúmeros filmes nos anos 80 sobre Nova York quando a metrópole vivia um período de marginalidade e violência intenso.
Além disso, “Rio” não fecha os olhos para os problemas sociais da cidade: a violência da cidade com os macaquinhos que roubam os turistas e o contraste de cores dos pontos turísticos sempre iluminados com as favelas escuras é uma maneira discreta, mas elegante de abordar um tema tão espinhoso para um filme para crianças.