terça-feira, 26 de abril de 2011

Classic Movies - Fanny & Alexander (1982)


Quando Ingmar Bergman rodou Fanny & Alexander em 1982, parecia o fim de uma das carreiras mais brilhantes que o cinema já tinha visto. Nascido em 1918, na Suécia, Bergman conseguiu, durante 4 décadas, fazer filmes que superaram as dificuldades de produção, o estranhamento de Hollywood e até os novos trendsetters que o sucederam.

Vindo do teatro, Bergman ficou marcado principalmente como autor de dramas complexos, onde discutia relações familiares e amorosas, como em Cenas de um Casamento e Gritos e Sussurros, mas também como o existencialista de O Sétimo Selo e Morangos Silvestres, onde debate filosoficamente a existência de Deus e o medo da morte.

Com regularidade invejável (que seu discípulo mais famoso, Woody Allen, procurou imitar), o diretor fez de um a três filmes por ano, quase todos ótimos, alguns realmente memoráveis (além dos citados acima, Noites de Circo, Persona e Da Vida das Marionetes também são imperdíveis). Uma carreira triunfal. Até que, em 1976, uma denúncia infundada (e escandalosa) de evasão fiscal fez o diretor ser investigado pela Justiça sueca. A celeuma provocada foi tamanha que o diretor teve de deixar o país e se exilar na Alemanha. Em crise e vendo sua reputação desmoronar, Bergman concebeu o que deveria ser a sua despedida do cinema.

Primeiro, o cenário: a Suécia do início do século XX, com seus campos nevados, suas casas coloniais, barrocas e góticas, as igrejas, as carruagens. Depois, as pessoas: familiares, amigos e empregados da casa do pequeno Alexander e de sua irmã, Fanny. Por último, a história: o difícil processo de amadurecimento dos protagonistas, às voltas com a morte do pai, a separação da família e os maus-tratos do padrasto. Para seu trabalho final, Bergman escolheu fazer um retorno à infância, um acerto de contas com o passado. O resultado é a sua melhor obra.

Mais acessível que muitos de seus grandes filmes, e ao mesmo tempo mais denso, Fanny & Alexander é ideal para quem deseja conhecer o diretor. Todos os seus temas aparecem em uma trama simples, direta e honesta. Mesmo quando fica mais sério, o filme não cai na sisudez: sequências de festa convivem lado a lado com monólogos sobre a infelicidade e a solidão. A trama criativa também consegue unir o realismo seco ao olhar fantasioso das crianças. E, como sempre, cada personagem, mesmo os que têm um minuto de tela, são muito bem escritos, parecem ter vida própria fora do filme.
 

Mas, talvez, a melhor coisa a ser dita sobre Fanny & Alexander (e sobre o artista Bergman) é a sua capacidade de revelar o humano. O diretor não acreditava no mero realismo: para Bergman, certas emoções e impulsos só o cinema seria capaz de registrar. É esse poder de capturar uma epifania – um tremor nos lábios, um olhar de desamparo, a sensação de estar apaixonado – o atestado maior de seu gênio, coisa que ele pode compartilhar com outros raros criadores. E em poucos filmes seus esta capacidade é tão evidente quanto em Fanny & Alexander. 

Um comentário:

  1. A colorida festa de Natal na casa da avó Helena Ekdahl, o clima de confraternização, em contraste com a frieza da casa do bispo, são inesquecíveis. Para mim, o mais espetacular dos filmes de Bergman.

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