domingo, 24 de abril de 2011

Crítica - Rio


POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

Simples e complexo são quase antônimos, mas também são os melhores adjetivos para classificar “Rio”, animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha.

O filme conta a história da arara macho Blu, levada para a gélida Minnesota, nos Estados Unidos, após ser capturado ainda bebê no Rio de Janeiro por traficante de animais. Por acasos do destino, o nosso herói encontra a estudante Linda que o domestica, criando uma relação afetuosa entre os dois. Porém, a chegada do cientista brasileiro Túlio muda o rumo da vida da dupla: Blu, por ser o último de sua espécie, precisa ir até o Rio de Janeiro, onde está a única fêmea de sua raça, a bela e brava Jewel e acasalar com ela. Lógico que o plano aparentemente simples, se transforma em uma grande aventura, com direito a uma ave malvada, bichos fofinhos, samba, carnaval, futebol, favelas e a beleza da Cidade Maravilhosa.

 
Neste trabalho, Carlos Saldanha consegue mostrar evolução ao contar com coesão a história ao contrário do que acontecia com os três filmes da série “A Era do Gelo”, nos quais era incapaz de fazer uma ligação entre os personagens principais e o esquilo Scrat. Em “Rio”, o ritmo é veloz e não dá tempo para o espectador se aquietar entre uma cena de ação e outra, o que esconde as falhas do frágil roteiro de Don Rhymer (autor da inesquecível trilogia “Vovó...Zona”), incapaz de dar a profundidade necessária a momentos que transformam um filme correto em algo inesquecível. 

 
Três trechos ilustram bem esses problemas: a rapidez com que a relação entre Blu e Linda é mostrada, exibida em poucas cenas durante o curto crédito inicial, não consegue estabelecer o carinho que os personagens sentem um pelo outro, tendo conseqüências diretas com nossa preocupação durante o drama que eles vivem no segundo e terceiro ato; a forma como o romance entre Blu e Jewel é construída mostra-se frágil, pois não há um momento em que é possível vê-los se apaixonando, acontecendo tudo de repente para já partirmos para mais um momento de ação; e por último, os intrusivos números musicais servem para explicar de maneira breve, sem maior aprofundamento, uma parte importante da personalidade de determinados personagens, atrapalhando qualquer tipo de compreensão mais profunda da razão deles tomarem certas atitudes. Nesse quesito, o vilão da história é o mais prejudicado
Se o roteiro de “Rio” não é dos mais elaborados, os complexos efeitos criados pela equipe da Blue Sky para fazer o filme são dignos de OSCAR. Observar a delicada movimentação das penas das araras é um deleite para quem é cinéfilo tal o cuidado com que é feito, permitindo que seja possível até pensar que são reais. A cena em que Blu e Jewel estão em cima de uma asa-delta em um passeio panorâmico sobre o Rio de Janeiro é o exemplo mais nítido disso, já que vemos os pêlos de suas asas terem movimentos diferentes e variados de acordo com as rajadas de vento. Além disso, a reconstrução dos principais pontos turísticos é excelente, passando desde a energia das praias de Copacabana e Ipanema até a boemia dos Arcos da Lapa. Isso para não falar da impressionante seqüência na Sapucaí, clímax do filme, um verdadeiro show de cores e detalhes, transportando o espectador para o meio do sambódromo.

A impressão que fica ao final de “Rio” é a de um filme correto, mas nada brilhante. Com um pouco mais de ousadia no roteiro, a obra de Carlos Saldanha deixaria de ser apenas mais uma animação e grande cartão-postal do Rio de Janeiro, tornando-se uma obra páreo para os melhores filmes da Pixar.
NOTA:7,0



PS: Já escutei críticas de que a animação de Carlos Saldanha faz um retrato muito bonito do Rio de Janeiro esquecendo os problemas da cidade carioca.
Pura bobagem!
Se for assim, podem condenar também Woody Allen quando ele realizou inúmeros filmes nos anos 80 sobre Nova York quando a metrópole vivia um período de marginalidade e violência intenso.
Além disso, “Rio” não fecha os olhos para os problemas sociais da cidade: a violência da cidade com os macaquinhos que roubam os turistas e o contraste de cores dos pontos turísticos sempre iluminados com as favelas escuras é uma maneira discreta, mas elegante de abordar um tema tão espinhoso para um filme para crianças.

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