Por Renildo Rodrigues, diretor auxiliar e produtor do Set Ufam
O nome Federico Fellini é daqueles que já transcendeu o cinema, de tão famoso. A pouquíssimos cineastas do mundo se deu esse reconhecimento: Chaplin, Welles, Hitchcock, Spielberg e, mais recentemente, Almodóvar. Você consegue se lembrar de mais alguém? Eu não.
Fellini (1920-1993) é uma marca. Assim como os outros diretores citados, o italiano conseguiu associar seu nome a um tipo de cinema, um universo próprio, com suas situações e personagens particulares, e nem por isso menos popular.
As provas estão aí, e aos montes. Recentemente, seu filme 8 e ½ foi transformado em um musical da Broadway, e daí levado novamente ao cinema, com Nine, superprodução de Rob Marshall, que reuniu, entre outros, Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Judi Dench, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Sophia Loren, Kate Hudson e até Fergie, dos Black Eyed Peas. Prestígio? Pois Fellini é seguidamente reverenciado por diretores consagrados (Woody Allen, Tim Burton, Martin Scorsese), inspira bandas pelo mundo afora (você pode ouvir a brasileira Fellini, ou então procurar as influências do diretor na obra dos Beatles e de Bob Dylan. Sério), ganha os palcos com adaptações de seus roteiros (em 2006, no Brasil, foi encenado o belo musical Sweet Charity, calcado no filme Noites de Cabíria) e segue acumulando prêmios (A Doce Vida e 8 e ½ são presenças recorrentes em listas de melhores filmes da história).
Fellini (1920-1993) é uma marca. Assim como os outros diretores citados, o italiano conseguiu associar seu nome a um tipo de cinema, um universo próprio, com suas situações e personagens particulares, e nem por isso menos popular.
As provas estão aí, e aos montes. Recentemente, seu filme 8 e ½ foi transformado em um musical da Broadway, e daí levado novamente ao cinema, com Nine, superprodução de Rob Marshall, que reuniu, entre outros, Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Judi Dench, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Sophia Loren, Kate Hudson e até Fergie, dos Black Eyed Peas. Prestígio? Pois Fellini é seguidamente reverenciado por diretores consagrados (Woody Allen, Tim Burton, Martin Scorsese), inspira bandas pelo mundo afora (você pode ouvir a brasileira Fellini, ou então procurar as influências do diretor na obra dos Beatles e de Bob Dylan. Sério), ganha os palcos com adaptações de seus roteiros (em 2006, no Brasil, foi encenado o belo musical Sweet Charity, calcado no filme Noites de Cabíria) e segue acumulando prêmios (A Doce Vida e 8 e ½ são presenças recorrentes em listas de melhores filmes da história).
Mas qual seria o “tipo” do cinema engendrado por Fellini? Na primeira fase de sua carreira – a melhor, a meu ver – o cineasta faz um sofisticado cruzamento de comédia e drama, a partir de situações que são comuns a todos nós, mas que, processadas pela peculiar sensibilidade felliniana, são transfiguradas em relatos intensos, dolorosos, e, ao mesmo tempo, cheios de encanto. Em seus 40 anos de carreira, o diretor, como poucos no ofício, teve habilidade para expressar o que é humano: amizade, romance, pobreza e luxo, aspirações, incertezas, miséria espiritual, redenção. E – acima e além de tudo – a angustiante dificuldade que as pessoas têm de comunicar-se umas com as outras, de ser sinceros, de criar vínculos verdadeiros, de ao menos se dar ouvidos. É essa preocupação a maior constante dessa fase, que vai dos roteiros iniciais, ao lado de Roberto Rossellini (Roma, Cidade Aberta, Paisà), à confissão arrebatadora da desordem interna de 8 e ½.
Escolher o melhor filme desse período é meramente uma opção pessoal. No meu caso, o troféu vai para Os Boas Vidas, lançado em 1953. Primeira obra “madura” do diretor, após o começo hesitante com Mulheres e Luzes e Abismo de um Sonho, Os Boas Vidas marca também a “descoberta” internacional de Fellini, logo alinhado (erroneamente) às fileiras do neo-realismo italiano, movimento surgido ao fim da 2ª Guerra Mundial que retratava as agruras do país. O interesse de Fellini era outro. Mesmo em suas tramas sobre a vida miserável das ruas, como A Estrada da Vida e Noites de Cabíria, o que ocupa os personagens do diretor são antes as palpitações em seu íntimo.
Os Boas Vidas é um representante modelar não só dos temas, mas também dos métodos que o diretor abordaria durante toda a sua carreira. Trata-se de um filme autobiográfico, que retrata o cotidiano de cinco rapazes do interior da Itália, todos adultos, mas que ainda moram na casa dos pais, incapazes de trabalhar ou de fazer qualquer outra coisa que não seja se divertir. Esse é o mote para uma série de esquetes, alguns cômicos e outros pungentes, mas todos carregando uma nota amarga, uma sensação permanente de futilidade e vazio. Além dos diálogos ágeis, típicos de Fellini, temos a câmera aventurosa, que segue o olhar dos protagonistas, a geografia de praias e piazzas noturnas, as canções, as luzes, a atmosfera de nostalgia e sonho, os eventos e até mesmo os personagens que seriam retomados posteriormente em sua obra (a correlação de Moraldo com o Marcello de A Doce Vida é evidente). Antes de tudo isso, porém, é em Os Boas Vidas que vemos surgir Fellini, o homem, o cineasta que, com seu olhar humanista e compassivo e sua imaginação prodigiosa, elevou o cinema à altura da melhor arte.
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