Crítica - Brasil Animado

O cinema brasileiro é um dos mais diversos do mundo.

Somente no ano passado, por exemplo, produzimos filmes de ação como "Tropa de Elite 2" comédias como "De Pernas Para o Ar", religiosos como "Chico Xavier" e dramas como "Lula - O Filho do Brasil" e "As Melhores Coisas do Mundo".

Na animação, porém, ficamos um pouco para trás ao longo dos anos no campo dos longas-metragens, apesar de termos animadores de primeira, um dos principais festivais do gênero no mundo, o Anima Mundi, e curtas de sucesso como "Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma" (Alê Machado, de 2009).

"Brasil Animado" chegou aos cinemas com a missão de tentar tirar um pouco desse atraso e ainda ser a primeira produção nacional realizada em três dimensões.
Pela qualidade da obra, porém, era melhor que continuássemos atrasados.

A tentativa de história do filme é bobinha: dois cachorros, um chamado Stress e o outro Relax, estão em busca do "Grande Jequitibá Rosa", uma árvore belissíma.

Para isso, eles percorrem todo o Brasil, passando pelos principais pontos turísticos do país, descobrindo assim as belezas da nossa nação.
"Brasil Animado" dirigido por Mariana Caltabiano, porém, mais parece ter interesse em ser uma propaganda gigantesca do Ministério do Turismo do que uma obra que possui personagens e uma história a ser contada.

A todo momento, somos bombardeados com informações sobre culinária, fatos históricos, pontos turísticos sobre cada região desse país.

Para se ter uma ideia, Relax e Stress passam quase 40 minutos do longa sem citar ou mesmo aparentarem estar procurando a tal "Grande Jequitibá Rosa".

A consequência disso é a inexistência de conflito e desenvolvimento de personagens (do jeito que Relax e Stress começam, eles terminam o filme) e não há momentos marcantes nem clímax.

Para contornar tal situação, apela-se para tentativas de frases de efeitos ou faladas de uma maneira engraçadinha para nos fazer rir.Além disso, somos contemplados com momentos inexplicáveis, como:

1) por que diabos em determinadas regiões os dois protagonistas são colocados nos ambientes reais e em outros são feitos desenhos do local?;
2) por que Daiane dos Santos aparece de maneira tão deslocada e sem sentido?;
3) o que são aqueles momentos videocassetadas quando uma voz começa a fazer comentários pseudo-engraçadinhos sobre o que está rolando na tela?;
4) o que diabos Fernando Meirelles está fazendo no filme?;
5) o símbolo da revista Veja e suas edições dos melhores das cidades brasileiras precisava ser tão ostensivo e aparecer em vários momentos do filme?;
6) acima de tudo, QUAL O SENTIDO DO SOBREVOO QUE UM PRODUTOR DO FILME FAZ SOBRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO E QUE DURA UNS DOIS MINUTOS?

Para complicar ainda mais, "Brasil Animado" ainda assume um discurso de que os estrangeiros levaram em diferentes momentos da história as nossas riquezas.

Ok, isso aconteceu realmente.

Porém, da maneira com a qual é passada no filme, parece que este é o maior culpado dos problemas enfrentados pelo país.

Corrupção, descaso das autoridades públicas, o jeitinho brasileiro passam batidos.

Não é porque o filme é para crianças que tais assuntos não podem ser tratados.

Por isso que a Pixar é a Pixar!

Já o 3D de "Brasil Animado" é tão ruim e inútil quanto o da maioria dos filmes lançados nesse formato, não servindo em nenhum momento para ajudar a contar a história.
O desespero era tão grande que para se ter o efeito das três dimensões até uma roda de capoeira foi feita com os jogadores chutando em direção a câmera.

Lamentável!

"Brasil Animado", infelizmente, já se candidata a um dos piores filmes do ano e mostra que a maior missão de um filme deve ser contar uma história.

Quando qualquer outro fator assume a dianteira, prepare-se para o pior.

NOTA: 4,0
PS: assisti o filme em uma sessão de 13:30 no Millenium Shopping no sábado, dia 22 de janeiro. Quando o filme iniciou estava na sala eu e mais uma família formada pelos pais e por quatro crianças. No término do longa, olhei para todos os lados e constatei que somente eu prossegui até o fim.

Triste!