O filme se baseia em uma história real. Aron Ralston (James Franco) gosta de se aventurar em montanhas. Um certo dia, acorda e sai para explorar os cânions de Utah. Encontra uma dupla de amigas, se socializa com elas e volta a explorar a natureza. Enquanto perambula por fendas do cânion, ele tropeça, e um pedregulho prende e imprensa o seu braço direito na parede, impossibilitando-o de ser retirado. No final, Aron é obrigado a se mutilar para sobreviver. Calma, não foi revelado nenhum spoiler. Isso é dito até no trailer. Na hora seguinte vamos acompanhar como o rapaz vai conseguir escapar com vida da situação. E é aí que os problemas se intensificam.
Boyle se aproveita da câmera portátil – e de bateria ultra-econômica – de Aron, de suas memórias e de seus delírios no desenvolvimento da história. Assim, boa parte do filme são flashbacks, imagens oníricas e videocasts, que servem para nós conhecermos um pouco mais sobre Aron e também para ele não perder a sanidade. Esses recursos funcionariam ainda mais se não fosse a previsibilidade do filme. 127 Horas é um feel-good movie padrão, com direito a final moralista. Não nos deixa torcer por Aron, porque sabemos (ou, pelo menos, intuímos) que sua sobrevivência é certa desde o início. A cada ato de sobrevivência do protagonista, a cada delírio dele, é capaz de alguém se perguntar: mas sim, quando ele vai cortar o braço?
Como era de se esperar do diretor, o ritmo do filme e os seus recursos se parecem com o dos videoclipes de cantoras pop. Os planos são rápidos, a tela se divide em três, mostrando cenas distintas, em vários momentos e a música tem uma bátida acelerada. 127 Horas e os videoclipes mencionados se parecem até no excesso de merchãs mostrados. Por outro lado, uma sacada interessante são as “molduras” que compõem os planos. Elas funcionam como o prenúncio da tragédia. Além disso, intensificam as sensações de dor e claustrofobia durante o imprensamento do braço do protagonista.
127 Horas tem outros pontos positivos que, infelizmente, perdem força graças ao todo. A soul music tocada quando Aron acorda no domingo e volta a tentar tirar o braço do imprensamento dá um tom inusitado de rotina à situação. Mas, no geral, a trilha-sonora de A. R. Rahman é cheia de músicas postas em momentos-chave para tentar canhestramente emocionar o espectador. James Franco interpreta com competência um cara bem-humorado e com amor à vida até no meio de uma catástrofe. Mas não alcança mais força por limitações de roteiro, que lhe presenteou com um tipo, e não com um personagem. Além disso, Boyle tem o bom senso de não explicitar certas necessidades instintivas de Aron e mostra talento para cenas gore.
Quem Quer Ser o Milionário? ganhou oito Oscars em 2008. Teve ajuda da simpatia da Academia pela Índia na época. Por outro lado, 127 Horas, mesmo com as suas seis indicações, dificilmente ganhará categorias de mais projeção, como a de Melhor Filme e Melhor Ator, porque as tendências apontam para outra direção. Essa história de luta pela sobrevivência e pequenez do homem diante da natureza é bem-feita, mas acaba se tornando um feel-good movie com potencial de nos deixar frustrados com sua obviedade.
NOTA: 6,5
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