Por Renildo Rodrigues, diretor auxiliar/produtor do Set UfamTrago de volta a este espaço um quadro que durante muito tempo foi atração no Set Ufam da TV: o “Soundtracks”, onde comentávamos a obra dos grandes composers da Sétima Arte, bem como os trabalhos recentes que merecessem destaque. Desta vez, trata-se de um velho favorito, sobre o qual é fantástico poder escrever: o americano Stephen Sondheim.
Em primeiro lugar, Sondheim não é um compositor do cinema. Embora tenha escrito canções para filmes e séries de TV, roteiros e até mesmo aparecido em “pontas” (a mais famosa delas no desenho Os Simpsons), sua obra é devotada a uma tradição que, lamentavelmente, esmorece na apreciação do público: a comédia musical. Seu lar, a antes gloriosa Broadway, já há algum tempo é refém de megaproduções extravagantes e artisticamente fátuas, a especialidade de Andrew Lloyd Webber (O Fantasma da Ópera, Cats) e que também promete fazer de Julie Taymor (de O Rei Leão, Across the Universe e do até agora malfadado Homem-Aranha) uma star.
Contra a suntuosidade do espetáculo, Sondheim nos oferece um senso de humor maravilhosamente mordaz, criando sátiras sofisticadas a partir dos motes mais tolos, como uma reunião de amigos ou a visão de uma bela mulher. É o caso de Follies, Company e A Little Night Music, e também da sua obra mais conhecida, Sweeney Todd: the Demon Barber of Fleet Street, que narra a vingança de um barbeiro assassino na Londres do século XIX. O musical foi transformado em filme em 2007, com Johnny Depp, Helena Bonham-Carter e Alan Rickman nos papéis principais. Um filme, por sinal, delicioso, que consegue a proeza de comprimir três horas de ação dramática numa narrativa que tem pouco mais da metade dessa duração (mérito do grande diretor Tim Burton, fã do musical desde a sua estreia, em 1979). O disco da trilha sonora, com o score rearranjado para as vozes dos atores, é igualmente agradável. Embora Johnny Depp não tenha, evidentemente, a extensão de voz de um ator de musicais, seu senso de ritmo, entonação e drama é mais do que satisfatório. Os novos arranjos, que antes da gravação foram submetidos à aprovação do próprio Sondheim, também estão ótimos. Mas o que realmente vale a audição é Helena Bonham-Carter: com impressionante segurança sobre o repertório da personagem Mrs. Lovett, a atriz prova, mais uma vez, que é uma das mais completas do cinema atual. O restante do elenco desempenha bem seus papéis, valorizando as qualidades melódicas e poéticas do autor.
Johnny Depp (Sweeney Todd) e Helena Bonham-Carter (Mrs. Lovett), no filme de Tim Burton
Qualidades que, somadas ao carisma dos atores e à sensibilidade de Burton, fizeram do filme um sucesso de público, arrecadando mais de 150 milhões de dólares na bilheteria global, e rendendo indicações aos principais prêmios do cinema.
Um resultado tão positivo cria a esperança de que mais musicais de Sondheim ganhem as telas, aproximando o público da obra daquele que é considerado por muitos (eu incluso) como o último grande compositor de standards.
Stephen SondheimA trilha do filme você baixa aqui:
http://vampiredimitriii.free.fr/zicks/Sweeney%20Todd-OST/
Já aqui você encontra uma gravação da montagem realizada na Broadway em 2005, além de dois belíssimos musicais do compositor Oscar Hammerstein II, Show Boat (com Jerome Kern) e Oklahoma! (com Richard Rodgers). Imperdível!
http://www.stcc.edu.hk/~wyc/webshare/ATCL/mp3/
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