Por Renildo Rodrigues, diretor auxiliar e produtor do Set Ufam
O musical, gênero cinematográfico que durante muito tempo representou o melhor de Hollywood (junto com os westerns), voltou às telas. Mas será que isso é realmente algo a se comemorar? As últimas obras a arriscar o formato – Dreamgirls, Mamma Mia!, Encantada, Nine – não me parecem ter dado em muita coisa. Glee, o atual fenômeno global da TV, idem. Mas por que não? O que é preciso, então, pra que os musicais possam ao menos arranhar a antiga glória?
O musical, gênero cinematográfico que durante muito tempo representou o melhor de Hollywood (junto com os westerns), voltou às telas. Mas será que isso é realmente algo a se comemorar? As últimas obras a arriscar o formato – Dreamgirls, Mamma Mia!, Encantada, Nine – não me parecem ter dado em muita coisa. Glee, o atual fenômeno global da TV, idem. Mas por que não? O que é preciso, então, pra que os musicais possam ao menos arranhar a antiga glória?
Não falo com nostalgia. O grande cinema (e a grande literatura, a grande música, etc.) é eterno, e, portanto, sempre atual – não pertence a esta ou aquela época. Dentro desse pensamento, os musicais de Hollywood, na sua melhor fase – entre os anos 1930 e 60 – estão vivos, e irão permanecer assim. Se os musicais de hoje são fracos, é porque são fracos como filmes. E só.
O problema maior parece ser o pouco interesse dos cineastas de talento no gênero. Por que será? Um exemplo eloquente desse desânimo é o diretor americano Spike Lee. Quem já teve a oportunidade de assistir à sequência do balé em Ela Quer Tudo ou a certas cenas de O Verão de Sam pode imaginar o que Lee seria capaz de fazer com um musical. Ou então Pedro Almodóvar. Lembram de Kika? Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos? Volver? Pois é.
Enquanto isso acontece, diretores medíocres fazem sucessos igualmente medíocres com material fraco (nem Dreamgirls escapou dessa). Glee, o tão propalado retorno do musical à cultura pop, não tem uma trama particularmente interessante, e as músicas escolhidas são ruins de doer (nem todas, evidentemente. Mas a maioria, como “Don’t Stop Believing”, ou “Dancing with Myself”, poderiam continuar pra sempre no lixão do pop. E não me digam que as novas versões são bem trabalhadas ou criativas. O que era ruim, depois de trabalhado, continua ruim).
O passado pesa mesmo ao considerarmos que os musicais, em seu auge, concentravam o melhor, não apenas do cinema, mas da cultura americana como um todo: seus realizadores eram Busby Berkeley, Vincente Minnelli, Stanley Donen. Seus intérpretes eram Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, Cyd Charisse, Doris Day, Judy Garland, Al Jolson, os Nicholas Brothers, os irmãos Marx – e Carmen Miranda. Os autores dos números musicais eram Richard Rodgers, Irving Berlin, Jerome Kern, os irmãos Gershwin, Cole Porter, Cy Coleman. E estes eram companheiros da fina flor da literatura e das artes plásticas americanas. Se não é possível competir com essa turma, nada justifica que a produção atual dos musicais seja tão pobre.
Pois, afinal, material, seja musical ou literário, não falta pra compor um bom exemplar do gênero. A grande canção americana – ou brasileira, cubana, inglesa, japonesa – está aí. Temos grandes compositores vivos (Stephen Sondheim, os nossos Chico Buarque e Carlos Lyra), romances que dariam ótimos motes (recentemente, Lyra musicou Era no Tempo do Rei, ficção de Ruy Castro), cantores que fariam bonito (Meryl Streep bem que poderia investir mais em musicais).
E tivemos, sim, bons musicais aqui e ali. Hedwig: Rock, Amor e Traição, Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet e as sequências musicais de A Princesa e o Sapo mostram que esse gênero ainda é o melhor de Hollywood em entretenimento e arte.
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