quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Artistas que não fazem arte

Por Diego Bauer

Estreia nesta sexta Bruna Surfistinha – O Doce Veneno do Escorpião. E já não chega a ser surpresa ver que o filme está despertando a atenção do grande público, e que provavelmente este será um dos filmes mais vistos nos cinemas brasileiros em 2011. Mas acima de ser uma grande ocasião de vermos outro filme brasileiro lotando as salas de cinema (em vez dos blockbusters americanos), este filme é a grande chance de Deborah Secco mostrar que é, antes de qualquer coisa, uma boa atriz.


Digo isso porque considero Deborah Secco uma boa atriz, porém é óbvio que ela não possui grande respeito pelo público que gosta de cinema. Aliás, lembro-me dela em apenas dois filmes: Caramuru – A Invenção do Brasil (2001) e Meu Tio Matou Um Cara (2004). O primeiro é fraquinho, mas o segundo é divertido, e ela está bem. Mas o que realmente importa é que não precisa ser fã dela para saber que ela fez muito mais novelas do que filmes, e que também escolheu mal os seus personagens, fazendo papeis fracos, rasos, ou parecidos uns com os outros. Caso que acontece com a maioria dos “atores globais”.

Aliás, gostaria de deixar claro que não sou contra que bons atores façam novela, e nem sou um daqueles chatos que só consideram o teatro e cinema como as formas “nobres” de representar. Sou contra que grandes atores façam apenas novelas. Sei que existem exceções (poucas), mas o que mais me incomoda nas novelas é que elas são feitas para serem óbvias, porque é muito arriscado contar com a inteligência do público. Ou seja: todos seguem o caminho mais óbvio, com as interpretações o mais caricatas possível, para não correr o risco de que aconteça alguma ambiguidade, o que seria péssimo, pois aí o público teria que se esforçar um pouquinho para entender o que se passa diante dos seus olhos.


É nítido que as novelas, por serem um caminho mais lucrativo, e também mais fácil de conseguir fama e sucesso no Brasil, fazem com que bons atores desperdicem a sua carreira (deixando de ousar e buscar por personagens de diferentes tipos) e prefiram fazer papeis que não exijam nada de mais. E que por possuírem um apelo popular bobo, alcançam sucesso instantâneo. Mas será que esse sucesso vale a pena?





Antes dos atores serem celebridades, empresários e marqueteiros de si mesmos, eles têm que ter a consciência de que eles fazem arte! Fama e sucesso são conseqüência! Hoje em dia, a coisa mais comum do mundo é você ver os jovens atores, da “geração Malhação” não possuírem o menor respeito pela sua própria arte, o que deixa claro que eles são adeptos do “estilo carismático” de interpretar, que apela para a beleza como o principal trunfo rumo ao sucesso.


Sei que é muito fácil falar essas coisas estando do lado de fora, mas bons atores servem de exemplo para os “atores de mentirinha”. Nem pretendo citar muito Fernanda Montenegro, José Dumont, Othon Bastos, Matheus Nachtergaele, Rodrigo Santoro, Wagner Moura, Selton Mello para não humilhar. Mas nomes como Tony Ramos, Glória Pires, Marco Nanini, Caio Blat, Lázaro Ramos, Débora Bloch, Pedro Cardoso, Dan Stulbach são provas de que bons atores podem conciliar a TV com o cinema e o teatro, e que mesmo fazendo novelas, sabem escolher uma forma de evitar o caminho mais óbvio, e escolhem personagens que valem a pena. No sentido artístico, é claro.

Espero, sinceramente, que a Deborah Secco tenha feito um grande trabalho, e que ela se torne mais assídua na telona. Até porque, com o sucesso que os filmes brasileiros fazem hoje em dia, não chega a ser nenhum sacrifício se dedicar um pouco ao cinema. E confesso que não sei, com certeza, se eu gostaria de ver certos atores na telona. Pensando bem, acho melhor não, prefiro me poupar de ver um espetáculo tão bizarro. É melhor deixá-los na novelinha das sete mesmo.

E tomara que daqui há alguns anos, eu possa incluir mais nomes na seleta lista de atores artistas.

Um comentário:

  1. Interessante o teu texto, Bauer. Incluiria o Milton Gonçalves na relação de Atores que fazem novela. Naturalmente, essa tua crítica dá de ser extendida para Hollywood.

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