domingo, 20 de fevereiro de 2011

Crítica - Bravura Indômita


Por Diego Bauer


Ethan e Joel Coen já fazem parte da história recente do cinema, como alguns dos melhores diretores dessa nova geração de cineastas (lista que inclui ainda Quentin Tarantino, David Fincher, Paul Thomas Anderson, Darren Aronofsky, etc.). Com filmes que se tornaram clássicos, como Fargo (1996) e Onde Os Fracos Não Têm Vez (2007), os irmãos Coen se tornaram respeitados, e assumiram um posto invejável, do tipo: “Ah, se for o novo filme dos Coen, merece a minha atenção”.

Pois é, desde a sua obra-prima de 2007, os Coen fizeram um filme por ano. Em 2008 fizeram o bom Queime Depois de Ler, em 2009 o horroroso Um Homem Sério (que, não me pergunte como, foi indicado ao Oscar de melhor filme em 2010) e no final do ano passado lançaram Bravura Indômita.

A primeira versão deste filme é de 1969, mas quando perguntados se o filme de hoje seria uma refilmagem do filme de 69, os Coen foram bem claros dizendo que não. Eles se inspiraram apenas no mesmo livro de Charles Portis, sem tomar como base o filme de antigamente.

O filme conta a história de uma garota de 14 anos, Mattie Ross (Hailee Steinfeld), que tem o pai assassinado de maneira covarde por Tom Chaney (Josh Brolin). Inconformada com a passividade das autoridades de sua cidade em prender o assassino, Mattie decide pedir ajuda ao federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges) que também é auxiliado pelo Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon). Ou seja, trata-se de uma história de vingança e honra, assuntos intrínsecos à história de qualquer faroeste.

Sei que faroestes são filmes em que os seus personagens são mal encarados, que isso faz parte da proposta, e que sentimentalismos baratos não servem para este tipo de filme. Mas tudo tem um limite. Bravura Indômita é um filme sem nenhuma emoção. É tudo a ferro e fogo, no sentido ruim da expressão.

Quando digo isso, não acho que isso seja um defeito para os personagens de Jeff Bridges e de Matt Damon, pois eles realmente deveriam ser do jeitinho que são. Refiro-me apenas a personagem de Hailee Steinfeld, Mattie Ross. É uma garota de gelo! Sei que muito dessa postura é para impor respeito com os dois machões que estão acompanhando-a, e que ela é uma garota de personalidade forte, que não se deixa enganar, etc. Mas isso é tão exagerado, que fica difícil de se tornar crível!

A vingança que a garota arquiteta, e que não para de falar, do início ao fim do filme, é uma vingança digna de um assassino frio, sem emoção. Ela não quer matar o assassino do seu pai porque ele matou o seu pai, mas sim porque ele é um safado e sem caráter, e que também matou o seu pai. A morte do pai se torna apenas um detalhe, no decorrer do filme. Não queria sentimentalismo, nem grandes emoções. Mas pelo menos um pouquinho para salvar o filme de ser uma obra extremamente insensível como, de fato, é. O exemplo que deixa isso bem claro é quando a garota encontra o corpo do seu pai já morto. A expressão dela beira o tédio. Ela se preocupa mais em quanto vai custar todo o processo de enterrar o pai do que a sua morte em si.

O filme te prepara para um acerto de contas que, para que o mesmo aconteça, acontece um derramamento de sangue. Tudo isso para chegar em um “clímax” que decepciona e muito o espectador.

Outro exemplo que deixa claro que a escolha de deixar a garota com um ar exageradamente frio foi equivocada, e que essa história de que faroeste só tem lugar para atores que fazem cara de mau é errônea, é a interpretação de Jeff Bridges. Durante o filme, Cogburn apresenta várias facetas, todas muito bem construídas. Primeiro ele aparece como um federal com métodos cruéis e implacáveis contra as pessoas, na cena do tribunal; depois ele mostra um lado patético, como um velho preguiçoso, que não tem mais pique pra nada; depois é um homem de honra, que não permite que LaBoeuf bata na garota; ainda mostra um lado matador no duelo final; além de ser um homem que faz de tudo pra salvar uma garota prestes a morrer. Tudo isso, sem deixar de ser um federal casca grossa e sem ter expressões exageradas. Ou seja: Um grande trabalho de Bridges.

Porém não poderia deixar de falar sobre as categorias técnicas que envolvem Bravura Indômita. O filme é primoroso tecnicamente. Direção de arte, direção de fotografia e figurino são absolutamente perfeitos. A cena em que o cavalo está morrendo é a melhor do filme, não apenas por ser uma das únicas com boa carga dramática, mas tambem por ser visualmente linda. Com este trabalho, Bravura Indômita é o sério favorito ao Oscar nessas três categorias.

Ethan e Joel Coen entregam um filme extremamente competente, com um trabalho técnico de dar inveja a qualquer filme. Porém, quando trata das emoções dos personagens se perde, e entrega um trabalho sempre morno e insensível. Um filme desse calibre poderia e merecia ser melhor.

NOTA: 7,0

Um comentário:

  1. O de 1969 é muito melhor. E embora eles neguem quem viu o primeiro filme sabe que eles meio que copiaram várias sequencias chaves. É refilmagem sim!

    Ronnie.

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