Por César Nogueira.
Uma provável injustiça da Academia seria a vitória de Rocky em cima de Taxi Driver no Oscar de Melhor Filme de 1976. Não acredito que tenha acontecido isso, e explico por quê.
Taxi Driver traz Robert De Niro e Jodie Foster em personagens cheios de complicações sociais e psicológicas. A história, dirigida por Martin Scorsese, tem vários níveis. Por exemplo, ela pode ser interpretada como uma crônica de Nova York, uma análise de consequências da Guerra do Vietnã ou a dissecação psicológica de um Veterano, isso só para citar alguns temas. Em suma, Taxi Driver é um típico filme dos anos 70.
Acontece que Rocky também o é.
Rocky, dirigido por John G. Avildsen e estrelado por Sylvester Stallone, inovou na narrativa. Histórias baseadas na jornada do herói de Joseph Campbell ainda soavam como novidade em 1976. Por comparação, o maior difusor dessa teoria, George Lucas, pôs ela em prática só em 1977, com Star Wars. Além disso, Sylvester Stallone personificou um bruto com coração de manteiga com tanta força a ponto de chamarem-no de "Marlon Brando jovem". Se fizeram muita porcaria com a teoria de Campbell e se Stallone já fez e falou muita bobagem, isso aí já não é problema do filme.
Rocky também marcou na trilha-sonora e tem cenas memoráveis. Bill Conti, que viria a trabalhar com Avildsen em Karate Kid anos depois, criou canções que fazem parte da cultura pop global. Essas músicas potencializam cenas por si só antológicas, como o treino e o final, com Rocky gritando "Adriaaaaan".
O filme de Stallone também faz jus ao prêmio pelo seu legado. Espero não estar falando bobagem, mas Rocky me parece ter mais menções, paródias e difusão das linhas gerais de sua história no grande público do que Taxi Driver.
Necessariamente, filmes não precisam ter sempre a profundidade de um Bergman. Antes disso, eles talvez devam marcar as nossas emoções. Rocky alcança mais o seu objetivo de entreter do que Taxi Driver o fez com o sua missão de fazer pensar.
E olha que Scorsese alcançou um padrão altíssimo.
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