Por César Nogueira
Estamos numa boa hora para (re)assistir a Akira, um clássico absoluto da animação, já que há cada vez mais informações consistentes sobre a sua versão hollywoodiana.
Adaptado de uma série de mangás escrita e desenhada pelo seu diretor, Katsuhiro Otomo, Akira, de 1988, conta a história dos amigos Tetsuo e Kaneda. Os dois vivem em Neo-Tóquio, anos depois da Terceira Guerra Mundial, que arrasou a antiga capital do Japão. Os amigos se conhecem desde a infância, passada em um orfanato, e fazem parte de uma gangue de motociclistas. Quando brigavam com rivais, Tetsuo tromba com um garoto envelhecido, dotado de poderes paranormais. O Exército o procura. Quando o acha, aproveita e leva Tetsuo também. Descobre-se que o delinquente tem poderes equivalentes ao de Akira, garoto paranormal responsável pela destruição de Tóquio na Terceira Guerra.
Akira é uma ficção-científica em que vemos o trauma japonês causado pelas bombas atômicas. É difícil não relacionar os acontecimentos do filme,e cenas nele em que pessoas se desintegram, sem se lembrar, ou intuir, de Hiroshima e Nagasaki. Não se limitando a isso, e com certeza bem mais do que isso, o filme se concentra nos dramas dos personagens. Tetsuo e Kaneda se comportam como irmãos gêmeos: têm a mesma idade, vêm do mesmo contexto social e um (Kaneda) exerce influência e poder sobre o outro (Tetsuo). Quando este ganha poderes, a primeira coisa que quer saber é de se vingar do amigo-irmão. No decorrer do filme, Tetsuo também expande a máxima de Tio Ben: grandes poderes trazem grandes responsabilidades, e você tem que estar preparado para assumir tudo. O garoto entra em colapso físico e mental por não conseguir lidar com os poderes, que são na prática o Ki, conceito da filosofia chinesa, sendo usado num mundo pós-apocalíptico. Fora isso, há toda uma conotação política, onde poucos ganham com a situação, enquanto há uma massa de desempregados.
A técnica usada no filme impressiona até hoje, vinte e dois anos depois de seu lançamento. Há um apreço aos detalhes nas animações. Tudo ganha vida no filme, ao contrário de animes produzidos em esquema industrial, como Naruto e Dragon Ball, onde os personagens só conseguem mexer a boca, e mal. Além disso, pequenos cuidados como as luzes das motos e a vermelhidão no rosto de Kaneda quando levanta uma rocha fazem a diferença.
Diante do exposto, talvez tenha ficado claro que não foi à toa que Akira liderou a propagação da animação japonesa por todo o mundo. Graças a ele, tivemos mais acesso de Hayao Miyazaki a Masami Kurumada. Mas sua influência vai além disso: ao lado de Blade Runner e Neuromancer, Akira influenciou Matrix, outro clássico absoluto do gênero.
Akira tem uma história densa, que se desenvolve num ritmo mais lento do que nos acostumamos. Também é um filme violento; personagens aparecem desfigurados sem economia de detalhes. Mesmo assim, não deixa de ser uma obra-prima, que continua à frente do tempo e é motivo de maravilhamento se nos empenharmos um pouco.
O esforço vale, e muito, a pena.
NOTA: 10
P.s.: "Akira" significa luz, brilho, iluminação. Nome bem sacado para um personagem que é o messias para alguns justamente por ter explodido tudo...
tomara que nunca saia o live action!!!
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