Os cinéfilos acompanham com atenção o que sai do México. Afinal, alguns dos melhores diretores dos últimos anos vieram de lá, e sua força criativa já começou a ceder seus préstimos para Hollywood. Nomes como Guillermo Del Toro (série Hellboy, O Labirinto do Fauno, o aguardado O Hobbit), Alejandro González Iñarritu (21 Gramas, Babel) e Alfonso Cuarón (...E Sua Mãe Também, Filhos da Esperança) evidenciam a força dessa produção na atualidade.
Por isso, o filme La Cebra, de Fernando Javier León, escolhido para encerrar a mostra competitiva de longas-metragens do 9º Amazonas Film Festival, criou uma certa expectativa. Quem sabe ali não estaria uma surpresa, uma possível revelação?
É, não foi dessa vez. León, que estreia na direção após trabalhar como roteirista em diversos filmes, tem ambição e talento para a função, mas acaba estragando o próprio filme pela ânsia descontrolada em querer desafiar as expectativas do público.
Leandro (Jorge Adrián Espíndola) e Odón (Harold Torres) são dois ladrões pés-de-chinelo durante a Revolução Mexicana, em 1915. Decididos a tomar parte na disputa, eles procuram um cavalo que possa levá-los mais rápido pelo país afora. Num acaso feliz (para eles), a dupla se depara com um casal de artistas circenses americanos e sua zebra. Num rápido tiroteio, a dupla assassina os gringos e se vê de posse de um “cavalo listrado”, que, se Odón ouviu bem da moça, se chama “Foquer” (do gringo fucker). É sobre a pobre zebra que os dois vão viver suas desventuras num México miserável e devastado.
Por esse resumo, pode-se concluir que La Cebra é uma comédia. E, na primeira metade do filme, é mesmo – aliás, comédia das boas: com seu humor despachado e grosseiro, o filme diverte bastante, especialmente na parte em que Leandro e Odón são capturados por mulheres de uma fazenda. Quando pensamos que vamos ver uma aventura convencional, cheia dessa verve obscena, o diretor dá o seu salto: Leandro e Odón se veem diante da brigada do general oposicionista Álvaro Obregón, e a comédia vira um drama pesado e sentido. Mas não acabou: quando o filme começa a ir por esse caminho, León então transforma a história da dupla numa alegoria, um arquétipo das desventuras que outros mexicanos irão empreender no futuro.
Complicado, né? Nem tanto. A transição entre os registros é feita com competência e faz sentido dentro da trama. O problema é o desenvolvimento. León, que alcança uma fluidez e graça admiráveis no início do filme, começa a bagunçar as coisas no segmento do exército (o primeiro, cômico, e não o de Obregón); toda a agilidade que a história havia mostrado até ali se perde no desenvolvimento excessivo dessa parte.
Talvez para enfatizar a rotina tediosa e inútil do quartel, León também torna o seu filme tedioso e inútil, algo que vai e vai e não chega a lugar nenhum. Além disso, joga fora uma personagem interessante, a fazendeira Juana (Leticia Huijara), que havia contribuído bastante para a graça das gags.
Depois dessa parte cansativa, o diretor, como se tivesse dado um cochilo e recobrado o fôlego, dispara com a história e nós só vemos os rastros. A parte dramática passa rápido demais, privando o espectador de ter um envolvimento maior com os acontecimentos. O final (ou epílogo) sofre do mesmo mal. A distância a que León, conscientemente, se colocou de procedimentos dramáticos tradicionais, talvez por pudor, talvez por falha, acaba por lançar uma má impressão sobre tudo o que veio antes. Os ótimos desempenhos dos protagonistas, contudo, e a lembrança das gags deliciosas do primeiro ato ainda deixam a expectativa de que J. Fernando León possa um dia inscrever seu nome entre os notáveis de seu país.
Uma pena.
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