Mesmo depois de tanto tempo, não deixa de ser surpreendente notar o quanto o nome de Oliver Stone se enfraqueceu com o passar dos anos. O diretor que surgiu de maneira avassaladora com Platoon (1986), Wall Street – Poder e Cobiça (1987), Nascido em 4 de julho (1989) e JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar (1991), tinha um dos nomes mais fortes em Hollywood no final dos anos 80 e início dos 90.
Porém, de maneira surpreendente o diretor, da mesma forma que teve o seu auge de maneira meteórica, caiu vertiginosamente com os fracassos Nixon(1995), Reviravolta (1997), Alexandre (2004), World Trade Center (2006) e W (2008).
Na tentativa de reviver o sucesso de outrora, o diretor lançou a continuação de um de seus maiores sucessos, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme(2010). O sucesso de público e crítica foi moderado, embora tenha servido para que os fãs de Stone tornem a ter esperança de que ele faça filmes como fazia no início da carreira.
E se o diretor voltou a ter destaque por uma continuação de um filme de sucesso, parece que ele tentou dar continuidade nisso, trazendo elementos que já utilizara em Assassinos Por Natureza (1994) e levando para o seu mais novo filme, Selvagens.
Ben (Aaron Johnson) é um botânico, amigo de Chon (Taylor Kitsch) desde os tempos de escola. Enquanto o primeiro é um rapaz tranquilo, inclusive budista, o outro é um ex-soldado de guerra, que viveu dias terríveis em combate. Os dois decidem comercializar maconha, e graças às qualidades de cada um, conseguem ter um produto de extrema qualidade, tendo clientes no mundo inteiro, sendo ajudados por O (Blake Lively), que tem um caso com os dois. O produto chama a atenção da chefe de um imenso cartel de drogas, Elena (Salma Hayek), que propõe um negócio para os dois, que recusam. Com isso, a traficante decide sequestrar O, com a ajuda dos capangas Lado (Benicio Del Toro) e Alex (Demián Bichir). Desesperados, Ben e Chon partem para salvá-la, contando com a ajuda do policial do FBI, Dennis (John Travolta), que já estava envolvido com o negócio do trio.
Se comparei Selvagens com Assassinos Por Natureza foi apenas pela linguagem pop que o diretor utiliza nos dois filmes, e pela violência sempre presente, pois eles são bem diferentes (para o bem de Selvagens). Enquanto o filme anterior é uma verdadeira bagunça, com escolhas duvidosas de Stone, que parecia não saber o que fazer com a câmera, neste filme temos uma história, simples é verdade, mas muito bem contada e desenvolvida pelo seu diretor. Com isso, as suas escolhas relacionadas à montagem, trilha sonora e efeitos visuais, com cenas filmadas com câmera na mão, tem um papel bem mais orgânico à trama, fazendo com que esses elementos “estilosos” joguem a favor da história que está sendo contada, e não queiram aparecer mais do que ela.
História, aliás, repleta de violência. Certas cenas do filme são realmente chocantes, mais especialmente as duas em que Lado tortura duas pessoas por traição. E, de certa maneira, a fotografia sempre bem iluminada, com cores quentes, mostrando a Califórnia como um lugar aprazível, de alta temperatura, apresenta um contraste interessante com a selvageria que vemos, meio que mostrando aquilo como algo corriqueiro na vida daquelas pessoas, mesmo que vivam em um lugar paradisíaco.
E justamente por ser um filme violento, de imagens fortes, com classificação indicativa de 18 anos inclusive, tenho que demonstrar minha insatisfação com a total inverossimilhança das cenas de sexo. Em todas elas, as mulheres transam de roupa. Veja bem, não digo que sou a favor de que quando um filme tenha cena de sexo os atores estejam pelados e coisas do tipo, pois cada diretor tem o seu estilo, mas em Selvagens, um filme que não se cansa de mostrar a sujeira da sociedade, de seus relacionamentos, preferir esconder isso mais parece, com o perdão da expressão, falta de culhão do seu diretor, ou então parece uma cláusula contratual das atrizes, que para aceitar fazer o filme, se recusam a tirar a roupa. Isso depõe contra o trabalho, que investe em uma linguagem naturalista durante o seu decorrer, sem medo de mostrar imagens fortes, mas que vive os seus momentos de mentirinha durante as várias cenas de sexo que se propõe a fazer.
Mas sem dúvida alguma, o maior defeito presente em Selvagens é a sua quase onipresente narração em voice over. No início do filme, quando apresenta os personagens de Ben e Chon, e como eles conseguiram montar um negócio tão lucrativo, a narração possui um papel interessante para conhecermos de maneira mais rápida os personagens, mas este é o único momento em que ela tem um papel positivo. No decorrer da trama, ela se torna absolutamente desnecessária e prejudicial, pois a sua história já não é das mais surpreendentes, é até fácil prever o final dela, e com a constante narração explicando as coisas, o filme se torna mais previsível ainda, atrapalhando o trabalho de direção de Stone, que é competente em todo o longa.
Um ponto que também divide opiniões é o final do filme. Claro que não vou entrar em spoilers, mas acho que o desfecho é meio sacana com o público. Talvez seja o único momento em que Stone tenha se perdido na linguagem que escolheu para contar a história, e tenha entrado em um caminho que tenta criar uma sensação de surpresa na plateia, que acha que sabe para onde a trama caminha, e com isso cai na tentação de surpreender por surpreender.
Mas, sem dúvida, o saldo é positivo, também pelo mérito da direção de Stone de conseguir tirar atuações boas de seu elenco. O trio principal funciona muito bem, cada um com sua particularidade acabam formando um triângulo amoroso com bastante química, além de conseguirem carregar a trama com tranquilidade. Del Toro, Travolta e Bichir também estão competentes, com destaque para o primeiro, que emprega uma brutalidade contida para o personagem, fazendo com que isso traga um tom de imprevisibilidade que casa muito bem com o papel. Talvez o elo fraco do elenco seja Hayek, que é a única que não encontrou o ponto correto da sua personagem, trazendo um exagero para a cena que nem sempre funciona como deveria.
O retorno de Stone a um novo projeto traz um fio de esperança para os seus fãs. Selvagens pode não ser um dos grandes filmes do ano, mas mostra que o seu diretor ainda pode ter algo para oferecer no futuro.
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