Passei batido quando Um Divã Para Dois chegou aos cinemas daqui, confesso. Acho que ele ficou umas duas, três semanas em cartaz, e pelo pôster, sinopse, e também pelas outras opções de filmes que estavam disponíveis à época, acabei não assistindo-o no cinema. E hoje, depois de vê-lo em casa, arrependo-me de não ter dado uma chance a ele, pois é um dos filmes que mais gostei neste ano.
É bem difícil, hoje em dia, encontrar uma comédia dramática que saiba dosar os elementos cômicos com o drama, e ainda desenvolver uma boa trama, e o filme de David Frankel (O Diabo Veste Prada) faz isso muito bem. Aliás, creio que seja bem complicado etiquetar Um Divã como uma comédia dramática, pois ele também pode ser visto como um drama, que esporadicamente possui alguns alívios cômicos.
Enfim, o que importa é que o filme funciona muito bem das duas formas, principalmente como conduz a parte dramática.
A trama é bem simples, mas é desenvolvida com sofisticação pelo roteiro da estreante em longas, Vanessa Taylor, que consegue dar densidade aos personagens, fazendo com que acreditemos perfeitamente em suas ações. Seja pela interessante construção dos diálogos, ou pela forma como certos elementos são jogados em cena, o que vemos ali são pessoas de carne e osso, bem parecidas com as da “vida real”. E também tem um grande mérito de fugir do piegas e clichê, visto que quando falamos de comédias dramáticas, isso é quase uma regra. Ela consegue fazer com que o rumo da trama, e o seu final, não soem como uma manipulação descarada, mas como um desfecho ocasionado pelo curso natural dos acontecimentos.
Porém, nada seria do roteiro se não fossem as ótimas atuações dos três protagonistas. O que ainda não foi dito de Meryl Streep? Há alguma coisa que eu possa dizer sobre o seu brilhante trabalho que já não foi dita? Confesso que sempre que vejo Streep em cena, me impressiono, emociono e apaixono como se fosse a primeira vez que a estivesse vendo. Que atriz fantástica! E aqui ela arrebenta de novo. Traz a fragilidade e insegurança de uma mulher que é infeliz, mas nem sabe exatamente o que fazer para mudar a sua situação, e ao mesmo tempo mostra doçura, paixão, e um desejo quase desesperado de se sentir feliz ao lado do homem que ama. Mais um trabalho excelente de uma longa lista na carreira da atriz.
Que é acompanhada, e tem um suporte importante de um dedicado Tommy Lee Jones, que dá vida a um homem durão, que não sabe expressar seus sentimentos, embora os tenha. O ator se sai realmente muito bem ao interpretar este homem ranzinza, que mesmo que possua amor pela sua esposa, isso é externado à sua maneira, através de sutilezas de um trabalho de ator atento aos detalhes da personagem. Também é importante parabenizar a entrega dos dois atores, que mergulham de cabeça em seus papeis, deixando de lado pudores que seriam prejudiciais ao filme, e acabam proporcionando cenas belas e sensíveis de se ver.
Agora, quem surpreende é Steve Carell. Embarcando em um papel dramático, sério, funcionando como o personagem que direciona os dois protagonistas, o ator tem uma atuação pautada na economia, algo bem diferente do que vemos em suas comédias. Caminhando para uma atuação discreta, mas marcante, sem dúvida, ele apresenta-se como um interessantíssimo ator dramático, em um trabalho digno de aplausos, dando alguns passos à frente na carreira, em relação ao seu muito bom trabalho em Pequena Miss Sunshine (2009), em que ele já investia em um papel mais dramático.
Com esta interpretação, Carell desponta como um talento na atuação dramática, e faz com que espere por uma nova tentativa sua no estilo.
Apesar da qualidade inquestionável de seu elenco, o filme apresenta um problema grave, a música de Theodore Shapiro. Primeiro que a escolha das músicas já é bem duvidosa. Parece que ele pegou algum daqueles CDs de relaxamento, ioga, etc, escolheu as músicas mais movimentadas e colocou no filme. Isso destoa muito da trama. A história está ali, bem interpretada e desenvolvida, pelos atores e diretor, e de repente entra a música e destrói tudo. Sem contar que ela funciona quase como se fizesse vários videoclipes dentro do filme, pois em umas três ocasiões ela entra logo após o final de uma cena, e prepara a entrada da outra, isso durando bastante tempo, fazendo um clipe que soa quase constrangedor, como quando Kay, depois de uma briga com Arnold, sai correndo pela rua, até chegar em um bar.
Ainda bem que a música não está presente na maioria do filme, pois isso faz com que as suas qualidades, que são muitas, fiquem mais presentes na memória. E depois de vê-lo, fiquei com aquela ótima sensação de surpresa por ver um filme muito legal que eu não esperava que fosse tão bom.
NOTA: 8,0
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