Tão americanas quanto o western ou os filmes de gângster são as histórias de superação: a velha promessa de que, na América, com disposição e tenacidade, você é capaz de chegar onde quiser, não importando o tamanho do desafio. Esse é o mote para centenas de filmes, bons ou ruins, sendo um deles o objeto desta resenha – felizmente, um dos bons: O Homem que Mudou o Jogo.
Inspirado na história real de Billy Beane (Brad Pitt), gerente do time de beisebol Oakland Athletics, o filme relata como a associação de Billy com o economista Peter Brand (Jonah Hill, o gordinho de Superbad – É Hoje!) levou o Athletics ao recorde de vitórias consecutivas na Liga Americana, estabelecendo um novo método de administração de equipes.
O próprio título que o filme recebeu no Brasil já diz como ele acaba, não é mesmo? E a obra do diretor Bennett Miller não pretende fugir ao padrão para as histórias de superação. Mas o miolo é interessante. Embora continue desconhecido no Brasil, o beisebol é uma paixão que move a vida de grande parte dos cidadãos americanos. Isso, claro, você já sabia. O que você talvez não saiba é que há uma ciência dedicada a estudar esse jogo, a tentar analisar o que se passa no gramado de forma matematicamente exata, até mesmo antecipando os acontecimentos. É a sabermetrics, tornada célebre pelo estudioso e baseboleiro fanático Bill James, que publicou um manual sobre o assunto. É essa ciência intrincada que conhecemos através do filme.
Billy e Peter usam a sabermetrics para montar um time composto por especialistas, mesmo que esses especialistas estejam entre os jogadores mais desvalorizados do campeonato. Contra a incredulidade de outros times e da imprensa, eles provam que, com planejamento rigoroso e fixação de metas, os enjeitados jogadores do Oakland Athletics podem ser mais eficientes do que os ídolos do esporte.
Só a curiosidade, porém, não sustentaria o trabalho, cujo interesse morreria junto com ela. O Homem que Mudou o Jogo vale mesmo pelo roteiro envolvente, escrito em parceria por Steve Zaillian e Aaron Sorkin (de A Rede Social), e pelo conjunto das atuações. O script dá ritmo e agilidade à história, transformando um assunto tão alheio como o beisebol num filme envolvente e acessível, e optando, sempre que possível, por fugir de soluções sentimentais (lembre-se, é uma história de superação).
Mas o verdadeiro destaque é o elenco, em especial Jonah Hill. Seu trabalho, maduro e delicado, impressiona aqueles que o conheciam tão somente das comédias escrachadas, revelando um ator versátil, pronto para alçar voos maiores. Brad Pitt traz sua habitual eficiência e também a sua beauté – o diretor Miller capricha nos closes do rosto do ator, bem como nas cenas de malhação.
Quem está apagado é Philip Seymour Hoffman, mas seu personagem apático não ajuda. Ao fim e ao cabo, um trabalho simples e cativante, pouco original mas muito bem realizado.
O mistério maior é porque um filme com Brad Pitt no papel principal, indicado a seis Oscars, incluindo Melhor Filme, Ator e Ator Coadjuvante, foi totalmente ignorado pelas salas de exibição manauaras.
Infelizmente, quem perde é o público, privado da oportunidade de assistir a um trabalho interessante e envolvente – dois adjetivos, sabemos, ausentes de boa parte da produção atual.
Nota: 7,5
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