Fãs do romance entre a humana Bella Swan e o vampiro Edward Cullen têm motivos para comemorar e lamentar este ano: o aguardado (aguardadíssimo) final da saga Crepúsculo, sobre a inusitada história de amor entre os dois, dá um encerramento empolgante à série. Mas, infelizmente, também é isso: o encerramento, finie, para milhões de fãs desconsolados mundo afora.
Depois de filmes bastante irregulares, o diretor Bill Condon, que já havia conseguido estabelecer um tom mais enxuto na primeira parte de Amanhecer, solta as rédeas numa trama movimentada, que vai manter acordados aqueles que cochilaram em Eclipse. Bella (Kristen Stewart), agora tornada vampira, descobre como é viver nesse estado, com suas vantagens e desvantagens. O problema surge quando Irina (Maggie Grace), vampira de um clã distante ligado aos Cullen, descobre a existência de Renesmee (Mackenzie Foy), filha de Bella e Edward (Robert Pattinson), que nasceu quando a heroína ainda era humana. Acreditando que Renesmee seja uma Criança Imortal (vampiros mirins, conhecidos pelo furor sanguinário), Irina comunica o fato aos Volturi, os todo-poderosos da classe vampírica. Quando eles chegam para punir o suposto crime... bem, assista ao filme.
Amanhecer – Parte 2 se sai melhor do que o encerramento de outras sagas recentes, como Harry Potter e Matrix, menos por seus méritos (que existem, e são vários) do que pelas fraquezas dos filmes anteriores (veja o texto abaixo). A sensação de “preparar o terreno” presente em Lua Nova e Eclipse mostrou-se totalmente justificada – em detrimento desses filmes. Para quem não é fã da saga, as duas partes de Amanhecer são as únicas que realmente contam, depois do primeiro filme da série, Crepúsculo. Equilibrado nos dilemas amorosos e familiares do trio principal e nas sequências de ação, o filme finalmente consegue agradar aos dois públicos.
Ao longo da trama, merecem destaque a montagem ágil, que não deixa o filme cair na preguiça e costura bem as cenas de ação; a batalha final, coreografada com esmero – as dúzias de personagens que conhecemos nas cenas precedentes são bem exploradas, cada um tem seu momento, com exceção da vampira Jane (Dakota Fanning), cujo final é bem sem-graça; e a esperta inversão dessa mesma sequência, truque que funciona ainda melhor no filme do que no livro – além, é claro, do desempenho dos protagonistas, cuja evolução ao longo da saga dá aqui seus melhores resultados. Kristen Stewart transparece a alegria de não precisar ser mais a mocinha sofrida dos filmes anteriores, podendo agir da mesma forma que os vampiros; Robert Pattinson está seguro e à vontade como Edward, afastando de vez a péssima impressão causada pelo primeiro filme; e Taylor Lautner, seguro e eficiente como sempre, continua roubando a cena toda vez que aparece, apesar do papel menor. Quem atrapalha, e muito, é Michael Sheen – seu Aro afetado e caricato estraga um personagem que deveria impor respeito, e, não fosse o resto do elenco, quase naufragaria o clímax da história.
Para o que os filmes anteriores vinham prometendo, o resultado não deixa de ser o esperado – um filme muito melhor do que Lua Nova e Eclipse –, mas também é uma agradável surpresa, um filme de ação envolvente e agitado, que vale a conferida, você sendo fã da saga ou não.
Nota: 7,5 (8,0 dentro da saga)
A série Crepúsculo
Agora que a saga mais famosa do cinema acabou, produzindo abalos
sísmicos em Hollywood e no coração dos fãs, está na hora de avaliar a
posição de Crepúsculo dentro da filmografia recente.Adaptada de uma série de romances juvenis de Stephenie Meyer, Crepúsculo investiu firme no romantismo trágico de fontes nobres como Romeu e Julieta, de William Shakespeare, e Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, com seus jovens atormentados e paixões extremas. Junte-se a isso o fascínio despertado pelas criaturas sobrenaturais mais sensuais da literatura – os vampiros – e pitadas de valores cristãos tradicionais, e tem-se uma receita de grande potencial de público.
Os romances de Meyer venderam milhões de exemplares e foram traduzidos para dezenas de línguas mundo afora. Uma adaptação para Hollywood era questão de tempo – e teria de escolher muito bem seus nomes, considerando-se os valores envolvidos.
O primeiro filme da série, Crepúsculo (2008), foi uma adaptação competente dirigida por Catherine Hardwicke (dos ótimos Aos Treze e Os Reis de Dogtown), introduzindo mundialmente os personagens de Bella, Edward e Jacob – e os atores, agora megacelebridades mundiais, Kristen Stewart, Robert Pattinson e Taylor Lautner.
Com suas qualidades e defeitos (muitos deles já presentes no romance de Meyer), o filme foi bem-sucedido em recriar o universo ficcional de Bella Swan e sua vida em Forks, WA, cidadezinha aparentemente banal que esconde segredos belos e terríveis em seus bosques.
O maior acerto da empreitada, porém, foi o elenco principal: dos incipientes Stewart, Pattinson e Lautner aos veteranos Peter Facinelli (Carlisle) e Billy Burke (Charlie), todos sonoramente desconhecidos antes do filme, Crepúsculo insuflou forma e substância aos personagens do romance – as atuações vacilantes dos protagonistas, em especial Pattinson, não conseguiram arranhar essa empatia. Nota: 7,0
Lua Nova (2009), em mais de um sentido, foi um passo atrás nessa conquista. Um filme arrastado, com uma trama que, em vários momentos, beirava o absurdo (as tentativas suicidas de Bella para trazer Edward de volta, a profusão de lobisomens fortões e descamisados), culpa do romance de Meyer, mas que foi acentuada pelo gosto kitsch da produção, comandada dessa vez por Chris Weitz, de American Pie e Um Grande Garoto.
É preciso reconhecer o esforço de Taylor Lautner: ao saber que iria ser sacado do filme, devido ao seu físico franzino, o ator entregou-se a uma rotina de dieta e exercícios e ganhou impressionantes 13kg de músculos. Sem seu carisma, Jacob não teria tido metade da graça. Nota: 6,5
Eclipse (2010) pode ser considerado o pior filme da série. Um grande “esquenta” para as duas partes de Amanhecer, é uma obra de ação quase nula, limitando-se a um cabo-de-força entre os dois heróis pelo coração de Bella e à formação do conflito que irá desaguar nos últimos filmes da saga.
Dirigido por David Slade, do ótimo MeninaMá.com. Nota: 6,0
A rota foi enfim corrigida em Amanhecer – Parte 1 (2011), filme que dividiu o público que não leu os romances: a insistência de Bella em fazer sexo com uma criatura de força sobre-humana, bem como em abrigar um bebê que simplesmente devora suas entranhas, não desceu bem para quem não está no clima da paixão extremada, wertheriana, dos protagonistas.
Mas o filme em si é o mais enxuto e bem-realizado da série (até a chegada da Parte 2), com uma trama envolvente e bons desempenhos de todos os envolvidos. Nota: 7,5
Dito tudo isso, podemos chegar às seguintes afirmações:
Para a acusação:
- A trama da saga tem outras escolhas duvidosas, com falhas no desenvolvimento dos personagens (Jasper é vampiro há 150 anos e mal consegue se controlar, enquanto Bella, recém-“convertida”, já consegue passar sem sangue humano) e cenas que chegam a ser absurdas, como o “passeio” de Bella com um motoqueiro desconhecido em Lua Nova;
- As atuações dos protagonistas começaram bem ruinzinhas, com o troféu abacaxi indo para Pattinson, cuja expressão vacilante e careteira ele só aos poucos conseguiu abandonar;
- Dakota Fanning, grande atriz e fã da saga, foi bastante mal-aproveitada com sua vampira Jane. Mas seu olhar assusta de verdade;
- Ainda no capítulo das atuações, Michael Sheen esteve péssimo em todas as suas aparições. É certo que o cabelo e as roupas não ajudaram, mas, ao tentar conjugar terror e graça no seu Aro, nós só conseguimos perceber a segunda parte;
- Eclipse é pouco mais do que as provocações tolas entre Jacob e Edward. Verdadeiro “enxuga-gelo” dentro da saga.
Para a defesa:
- A ambientação sombria e elegante da série, com seus bosques chuvosos e colinas, é triunfo indiscutível da produção;
- As trilhas sonoras são impecáveis, com seu cancioneiro indie romântico e sombrio, que dá o clima certo às cenas e faz mais pelo romance de Bella e Edward do que sequências inteiras;
- A evolução dos atores ao longo dos filmes é visível e palpável, Pattinson mais do que todos;
- Taylor Lautner se destaca dos demais pelo carisma que emprestou ao lobisomem Jacob, personagem que cresceu ao longo da série e ameaçou suplantar até o popularíssimo Edward;
- Amanhecer é um final exemplar para a saga, movimentado e empolgante, diminuindo a má impressão causada pelo miolo tedioso.
Veredicto:
Para o bem ou para o mal, novos Crepúsculos tentarão ser feitos a partir daqui, mas o molde original deve conservar seu charme.
FUTUROLOGIA:
Kristen Stewart: a única que já tinha alguma projeção antes da série, Kristen tem um desafio similar ao de Leonardo DiCaprio: precisa se livrar da superexposição, do interesse sobre sua vida pessoal e, mais importante, da personagem que lhe deu fama: suas tentativas até aqui, como a ponta em Na Estrada, de Walter Salles, ou o papel de Joan Jett na biografia da banda Runaways (The Runaways) mostram a inquietude da atriz, mas seu talento dramático e versatilidade terão de ser postos muito mais vezes à prova;
Robert Pattinson: o caso mais problemático. Pattinson tinha sérias deficiências como ator no início de Crepúsculo, e sua evolução de lá pra cá ainda não o qualifica como “grande ator”. Ele tem atraído bons papéis, como em Água para Elefantes e Cosmópolis, mas seu futuro após a série Crepúsculo é o que lança mais dúvidas;
Taylor Lautner: a surpresa da série. Taylor começou numa pequena participação como o lobisomem Jacob em Crepúsculo, mas sua persistência e tenacidade, além do inegável carisma, lhe valeram um status tão grande quanto o de Kristen e Robert ao longo da saga. Com um perfil mais voltado à ação, como já demonstrado em Sem Saída, Lautner também é versátil, sendo capaz de convencer num filme romântico (Idas e Vindas do Amor). Por isso, é a aposta do Cine Set para melhor carreira pós-Crepúsculo.
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